No depoimento marcado para o próximo dia 12, o governador de Goiás, Marconi Perillo, terá trabalho para convencer a CPMI que investiga as ilegalidades da organização comandada por Carlos Augusto Ramos sobre a versão apresentada por ele para a venda da casa na qual o acusado foi preso pela Polícia Federal em 29 de fevereiro último.
A julgar pelo que disse ontem o empresário Walter Paulo Santiago, proprietário oficial da casa, há muita coisa mal explicada naquela negociação. Segundo o governador, foi feita por intermédio de três cheques e, de acordo com Santiago, deu-se em dinheiro vivo.
Depois de quase sete horas, restaram duas suspeitas fortes no ar. Uma diz respeito ao verdadeiro comprador. Seria Carlos Cachoeira para quem Santiago teria atuado como testa de ferro.
Realmente, não é crível a história de que comprou a casa de Perillo em julho de 2011, emprestou ao intermediário do negócio por um prazo de 45 dias e oito meses depois ainda não havia tomado posse do imóvel no qual estava morando Cachoeira.
O "empréstimo" seria para o preposto fazer um favor a uma "amiga" enquanto a casa dela estava sendo construída no mesmo condomínio.
Ora, o dito corretor era Wladimir Garcez, também preso e apontado como braço direito de Cachoeira e a moradora temporária ninguém menos que Andressa, a nova mulher do principal alvo das operações policiais que deram origem à CPMI.
Muita coincidência, pois não?
A outra suspeita é relacionada ao preço e à forma de pagamento. Se o governador Perillo diz que recebeu R$ 1 milhão e 400 mil em três cheques (de uma empresa de Cachoeira, detalhe que ele afirmou desconhecer à época) e Walter Santiago declara que pagou R$ 1 milhão e 400 mil em dinheiro vivo, sobra uma de duas hipóteses: ou um dos dois mente ou a casa custou o dobro e o pagamento efetuado parte "por dentro" com os cheques, parte "por fora" em moeda sonante acondicionada "em pacotinhos" conforme descrição do depoente.
Com jeito de matuto, tropeçando no idioma, fazendo-se meio de bobo sem de bobo não ter nada além da intenção de assim ser visto, Walter Santiago foi o primeiro convocado a aceitar falar perante a CPMI e enrolou-se do começo ao fim.
Junto enrolou um pouco mais o governador Marconi Perillo ao desmentir uma versão que até então se apresentava como um álibi razoável para a venda da casa onde foi preso Cachoeira.
Do depoimento o governador pode até sair-se bem, inclusive porque tem uma semana para preparar a defesa à luz do depoimento de Santiago transformado pelas contradições em testemunha de acusação.
Mas a complicação poderá resultar do exame das provas técnicas. Ficou mais difícil o PSDB, que ontem procurou inutilmente conferir ao depoimento caráter de comprovação à versão de Perillo, impedir a quebra dos sigilos das contas do governador.
Mas, ainda que não seja por aí que chegue a algum lugar, a CPMI pode rastrear o caminho percorrido pelo dinheiro que Walter Santiago diz ter pagado a um assessor de Perillo pela casa. Se das contas bancárias dele não saiu nada, a CPMI haverá de querer saber de onde saiu.
Radar. Corre entre frequentadores da "sala do cofre" onde estão os documentos que chegam à comissão de inquérito versão sobre a existência de um contrato da construtora Delta com o governo do Rio de Janeiro para fornecimento de radares de trânsito, feito sem licitação.
Caso de confirme, será o mote para a reapresentação de requerimento de convocação do governador Sérgio Cabral.
À forra. Dirigente do PMDB, ativo militante da rebelião ensaiada pelos partidos aliados em protesto contra a relação animosa de Dilma com sua base e a conduta arrogante do PT, avalia que o palco principal do revide ao governo não será a CPMI, mas as eleições municipais.
A adesão do PR à campanha tucana em São Paulo seria uma amostra.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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