Christiane Samarco
BRASÍLIA - Ao retirar o apoio à reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), para aderir à candidatura petista do ex-ministro Patrus Ananias, o prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, fez dois movimentos no xadrez político da sucessão de 2014. Além de tentar puxar o tapete do pré-candidato tucano ao Palácio do Planalto, senador Aécio Neves (MG), o prefeito alinhou o PSD na base de apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Em telefonema a Aécio, Kassab disse que houve "um apelo" de Dilma. "Eu não queria fazer isso agora, mas, se é para ficar contra alguém, que seja o PSDB, porque a Dilma e o PT deram todo o apoio ao PSD", explicou a um correligionário. "Não podemos mostrar ingratidão. Isso causaria ao partido um prejuízo desgraçado", previu,em conversas reservadas. Em defesa da intervenção para desmontar a aliança do PSD com Lacerda e Aécio, Kassab disse a deputados mineiros que a eleição em Belo Horizonte ganhara dimensão nacional. Questionado sobre a parceria com o tucano José Serra em São Paulo, respondeu de pronto que, diferentemente de Aécio, Serra não será candidato a presidente.
"Dei-me conta de que a questão local estava nacionalizada quando vi o (vice-presidente) Michel Temer comandando a operação no PMDB para retirar a candidatura do deputado Leonardo Quintão à prefeitura", contou Kassab, que entende que Aécio errou ao pressionar contra a coligação PSB-PT para eleger vereadores, o que levou os petistas a saírem da chapa de Lacerda. Foi a partir desse rompimento que Dilma entrou em cena na montagem da candidatura petista, acionando o PMDB e a sigla de Kassab. Parte da cúpula do PSD entendeu que o movimento de Aécio acabou jogando o PMDB "no colo" da presidente.
Sem garantias. Por esse raciocínio, Aécio pode ter alinhado contra ele, na corrida presidencial, os três maiores tempos de televisão no horário eleitoral gratuito: PT, PMDB e PSD. E isso, sem a garantia de que terá com ele o quarto maior tempo. Afinal, o PSB de Lacerda pode seguir no apoio a Dilma ou lançar a candidatura do governador Eduardo Campos (PE).
Acionado pelo Planalto, Campos também tentou forçar um recuo de Lacerda para manter a coligação com o PT na eleição proporcional, sem sucesso. Com o apoio dos vereadores do PSB, que não queriam perder vagas na Câmara para eleger petistas, Lacerda foi firme diante da insinuação de que a direção nacional poderia intervir para manter o PT na aliança: "Belo Horizonte não é moeda de troca. Se a parceria com o PT desarranjou em Recife e Fortaleza, que o realinhamento se dê lá. Se quiserem intervir aqui, renuncio à candidatura".
Para Aécio, foi Kassab quem errou na operação política. Com Quintão fora da corrida municipal para apoiar Patrus, a perspectiva de a eleição só se resolver no segundo turno fica mais distante. Ganha força a tática tucana de polarizar a disputa desde já, para que a definição ocorra na primeira rodada. Aécio também lembrou a Kassab, no telefonema que recebeu, que todos os deputados do PSD de Minas são da base de apoio de Lacerda e do governador tucano Antonio Anastasia. Manter esse alinhamento, aliás, foi o compromisso de Kassab quando pediu a ajuda de Aécio na montagem da nova legenda no Estado. "Essa intervenção é uma violência, mas você sabe o que faz", rebateu Aécio.
Os tucanos entendem que o erro mais grave de Kassab foi contrariar o estatuto do PSD na operação desmonte da aliança com PSB e PSDB. Ao final, o prefeito pode pagar o preço de ficar com o desgaste político e Lacerda, com o tempo de televisão do PSD. "E não me venham falar de traição e em surpresa com a recusa da coligação com o PSB para vereador", adverte o presidente do PSDB de Minas, deputado Marcus Pestana. Ele afirma que, um mês antes da convenção, disse ao presidente do PT mineiro, Reginaldo Lopes: "Você está iludindo as bases do PT com a coligação. Ela não ocorrerá e é melhor assumir isso. Se deixar para avisar depois, isso volta como bumerangue na sua testa".
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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