O peso ganho pelo mensalão no conjunto da mídia antecipa forte impacto do seu julgamento na opinião pública, desmentindo os que estimavam que este se reduziria ao de um episódio de repercussão bem menor, fácil de ser banalizado entre as sucessivas denúncias de corrupção. Esta era a aposta do lulopetismo, como alternativa das muitas pressões e manobras de bloqueio e postergação. Mas em que
grau ele condicionará os resultados globais do pleito à vista só poderá ser bem medido com o avanço e a qualidade das decisões do STF e na fase decisiva das campanhas eleitorais. Mesmo assim, tal julgamento – isoladamente e com o reforço dos problemas existentes na economia –, a partir da firmeza do comando do Tribunal em promovê-lo agora, passou a gerar implicações significativas no cenário político: nas campanhas eleitorais em andamento e, também, nas perspectivas do desdobramento das relações do governo Dilma Rousseff com os diversos partidos e com o Congresso.
No curto prazo, o progressivo debate do mensalão, desde que foi garantido o julgamento, contribuiu para que a montagem das alianças para as disputas municipais de maior importância reproduzissem muito pouco a ampla base governista federal. O que reduziu bastante as previstas superioridade do PT e fragilidade do PSDB e do restante da oposição nessa montagem. Da agressiva superioridade inicial, que baseava suas expectativas de grande avanço no pleito deste ano – por meio da vitória de candidatos puro-sangue ou de aliados sob controle, com a conquista de prefeituras em grande número de capitais e de cidades de maior porte no Sudeste, entre elas as de São Paulo e de Minas, e com a preservação e forte ampliação nas do Nordeste e demais regiões – a direção do PT foi, pouco a pouco, empurrada para uma postura defensiva, imposta pelo jogo autônomo dos aliados nacionais com suas candidaturas próprias como as do PMDB paulistano e as do PSB no Recife e em Fortaleza. E, no outro polo, o PSDB e suas composições aparecem, nas pesquisas até agora processadas, à frente nas disputas das capitais e em grandes cidades paulistas e mineiras, e têm desempenho bem melhor que o esperado em outras regiões. Merecendo destaque o novo quadro de Belo Horizonte, decorrente da ruptura dos petistas
com a candidatura à reeleição do prefeito Márcio Lacerda, do PSB, e o alinhamento dele à liderança mineira e nacional de Aécio Neves. Cabendo, porém, assinalar que, embora com as perspectivas de avanço refreadas, o PT deverá crescer no conjunto do pleito municipal pela combinação do respaldo da máquina administrativa federal com a força do populismo lulista, perdendo apenas para a extensão da capilaridade nacional do PMDB.
E será o PMDB o principal beneficiário das implicações do mensalão no desgaste eleitoral do petismo e de seu peso no Congresso. O primeiro dividendo colhido pelo presidente Michel Temer foi a troca de uma candidatura partidária com escassa chance de sucesso a prefeito de Belo Horizonte pelo compromisso do Palácio do Planalto com a eleição do correligionário Henrique Eduardo Alves para o comando da próxima mesa diretora da Câmara dos Deputados (que matou a articulação do PT para se manter no cargo), como pagamento do apoio ao candidato lançado por Dilma Rousseff, o petista Patrus Ananias, para o confronto com Aécio, tendo em vista o pleito presidencial de 2014. Mas o dividendo mais significativo do grupo dirigente do PMDB, propiciado pelo enfraquecimento do petismo no Congresso e pelo controle que passará a ter da pauta da Câmara, decorrerá da dependência do governo Dilma ao partido. A ser explorada por espaço no governo bem mais amplo do que o bastante secundário que os petistas hegemônicos e o centralismo da presidente lhe têm permitido ocupar. Por função decisiva que exercerá nas relações entre o Executivo e o Legislativo. E pelo poder de barganha que passará a ter na continuidade, ou não – condicionada aos cenários político e econômico – da aliança com o PT no pleito de 2014.
Jarbas de Holanda é jornalista
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