Ex-presidente vê campanha marcada por longa predominância do partido no Estado e por "fadiga de material" na polarização com o PT
Gabriel Manzano
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que a polarização entre PSDB e PT em São Paulo "levou a uma fadiga de material" no cenário político paulista. A isso se soma "um pouco de cansaço do eleitorado com a predominância do PSDB por longo tempo" no poder. Os tucanos estão no governo do Estado há 18 anos. Na Prefeitura, em parceria com Gilberto Kassab (PSD), há oito.
Ele não faz uma relação direta entre esse "cansaço eleitoral" e a recente queda do candidato tucano José Serra nas pesquisas. O que se percebe, diz ele, "é que o Russomanno subiu. Os outros estão praticamente no mesmo lugar". E quanto a Serra? "Ele já tinha caído antes, mas parou, se estabilizou em outro patamar."
A avaliação, feita em entrevista ao Estado, ocorre no momento em que tanto FHC quanto a presidente Dilma Rousseff (PT) entram na campanha gravando mensagens para os respectivos candidatos, Serra e Fernando Haddad. E o fazem nesse cenário de que fala o ex-presidente, marcado por surpresas para os dois partidos - pois, na contramão do que ambos esperavam, seus candidatos estão bem atrás do líder de todas as pesquisas de intenção de voto, Celso Russomanno (PRB).
Fernando Henrique afirmou ainda que o eleitorado do PT também está menor, e isso não acontece apenas em São Paulo. "Nas capitais, pelo País afora, o PSDB está melhor que o PT", afirmou o ex-presidente tucano. Ele ressaltou que "isso (a "fadiga de material" do eleitorado) não assegura nada sobre o que vai acontecer até o dia das eleições". O jogo importante na eleição paulista, segundo o tucano, "vai se dar nas semanas finais".
"Em pé". A entrada de FHC e da presidente Dilma na campanha paulista se segue à "batalha epistolar" entre os dois no início da semana. No domingo, ele publicou no Estado um artigo crítico ao governo Lula, que ela replicou, no dia seguinte, defendendo seu antecessor. Ontem, FHC afirmou que não quer levar essa discussão adiante e fez um único comentário: "Fiquei contente porque tudo o que eu disse parou em pé".
A receita do ex-presidente para a recuperação do PSDB e de seu candidato é "a reafirmação corajosa de suas teses e a defesa de valores, defender o que fizemos". Se isso for feito, ele espera que Serra volte aos antigos patamares. "Ir para o segundo turno é fundamental", avisou.
FHC ironiza análises que falam em empate técnico porque um candidato pode ter três pontos a menos e outro três a mais. "Ora, pode também ser o contrário e o que lidera estar ainda mais ainda à frente, não?" Ele não leva a sério, também, a insistência dos rivais em vender o novo. "O Russomanno, de novo, não tem nada. É candidato há muito tempo." Só faz sucesso "porque não está ainda classificado entre os grandes".
Aécio. Ontem, em viagem a Jundiaí, no interior de São Paulo, o senador tucano Aécio Neves (MG) fez, numa reunião de apoio ao candidato do partido à prefeitura, um mea culpa geral em defesa de FHC: "O PSDB cometeu o pecado, no passado, de não ter valorizado o nosso legado". Disse ainda que está "estimulando o presidente a entrar na campanha em algumas capitais". Lembrou que no quadro atual o PSDB e seus aliados lideram em mais de dez capitais "e o PT, só em Goiânia". Dali foi a Ribeirão Preto, para encontro semelhante, e atacou os petistas: "Queremos introduzir na agenda do Brasil a gestão pública de qualidade para se contrapor a esse absurdo aparelhamento do Estado brasileiro".
Colaboraram Ricardo Brandt e René Moreira
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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