domingo, 28 de outubro de 2012

Ex-ministro equipara punição à expulsão de mulher de Prestes

Paulo Vannuchi afirma que Dirceu e Genoino "foram condenados sem provas num julgamento contaminado"

Segundo o diretor do Instituto Lula, o Supremo confirmou veredicto antecipado meses antes por jornais

Bernardo Mello Franco

SÃO PAULO - Diretor do Instituto Lula e conselheiro político do ex-presidente, o ex-ministro Paulo Vannuchi compara a condenação dos petistas José Dirceu e José Genoino no julgamento do mensalão à expulsão de Olga Benário para a Alemanha nazista.

O STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou a expulsão da militante de esquerda em 1936. Judia, ela estava grávida do líder comunista Luiz Carlos Prestes e seria morta pelo regime de Adolf Hitler num campo de concentração.

"Dirceu e Genoino foram condenados sem provas num julgamento contaminado. Isso vai entrar para a galeria de erros históricos do Supremo, ao lado da expulsão de Olga Benário", afirmou Vannuchi à Folha na sexta-feira, depois de almoçar com Lula.

"O Judiciário deve ser um poder contramajoritário. É ele quem segura a multidão que quer matar os judeus, que quer matar os negros. Aqui aconteceu o contrário. Os ministros aderiram a um clamor para condenar", disse.

Dirceu e Genoino foram condenados por formação de quadrilha e corrupção ativa. Para a maioria do STF, eles comandaram um esquema de compra de apoio ao governo Lula no Congresso. Os dois terão suas penas fixadas pelo tribunal nas próximas semanas e podem ser presos.

Para Vannuchi, ministro dos Direitos Humanos de Lula entre 2005 e 2011, o resultado do julgamento foi imposto pela imprensa.

"Houve um problema gravíssimo de ativismo político. O Supremo confirmou um veredicto que foi antecipado meses antes com histeria pelos jornais. Não foi um julgamento imparcial", disse.

Ele afirmou que nenhum dos ministros do STF poderá dormir tranquilo com a decisão de marcar a análise do caso para o período de eleições.

"Eles não vão dizer isso em público. Mas à noite, em seus travesseiros, nenhum daqueles ministros não sabe que cometeu um erro ao permitir isso", afirmou o petista.

Ele sustentou a tese de que o mensalão foi um caso de crime eleitoral de caixa dois de campanha, alegação descartada pelo Supremo.

Apesar das queixas, o ex-ministro disse que as condenações de petistas não alteraram o resultado das eleições. Ele citou o exemplo de São Paulo, onde José Serra (PSDB) usou o tema como arma eleitoral contra o favorito Fernando Haddad (PT).

"O mensalão não teve tanto impacto porque ficou nítida para o eleitor a contaminação político-partidária do julgamento", disse.

Oito dos 11 ministros que julgaram o mensalão foram indicados por Lula e pela presidente Dilma Rousseff. Vannuchi não quis comentar os relatos de que o ex-presidente se considera traído por integrantes da corte.

Fonte: Folha de S. Paulo

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