O grande teste na corrida ao Planalto
Eleitores de 50 cidades vão às urnas para escolher os prefeitos, com
destaque para o favoritismo petista em São Paulo e a consolidação do PSB e do
PSD. Resultado influenciará a disputa presidencial daqui a dois anos
Paulo de Tarso Lyra, Leandro Kleber
Quando as urnas do segundo turno das eleições municipais de 2012 forem
fechadas, às 17h de hoje, e os 31,7 milhões de votos começarem a ser
contabilizados, estará aberta, oficialmente, a corrida para os governos
estaduais e a Presidência da República em 2014. A maior cidade do país, São
Paulo, está sendo disputada palmo a palmo por PT e PSDB, que devem novamente
protagonizar a batalha pelo Palácio do Planalto. Já o PMDB elegeu o maior
número de prefeitos no primeiro turno — 1.016 —, com destaque para a expressiva
vitória de Eduardo Paes no Rio e carimbou, por tabela, a presença na chapa
presidencial ao lado de Dilma Rousseff em 2014.
Disputam diretamente o protagonismo político pelos próximos dois anos, uma
legenda média que cresce a olhos vistos, o PSB, e um partido recém-criado sob
as bênçãos do Palácio do Planalto, o PSD, que se tornou o quarto maior em
número de prefeituras no primeiro turno: 493. A agremiação presidida por
Eduardo Campos, o PSB, cresceu 124% em quatro anos e está cada vez mais difícil
visualizar um cenário nacional sem a presença do governante pernambucano, que
já se tornou referência até para a imprensa internacional. E o PSD deve ser
incorporado à Esplanada em 2013.
Mas ainda existe a rodada de hoje de votações, que podem alterar o cenário
acima exposto. Se confirmar a vitória que se desenha nas recentes pesquisas de
intenção de voto, o petista Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e cria política
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, passa a administrar um orçamento de
R$ 39 bilhões em 2013, e instala-se em uma trincheira suficientemente
estratégica para fustigar o tucanato paulista e tentar consolidar a reeleição
de Dilma Rousseff daqui a dois anos.
O PT tem chances de conquistar seu objetivo. Além de eleger Haddad para
comandar a cidade, o partido está no segundo turno em Campinas, Diadema,
Guarulhos e Santo André, o que envolve 11,1 milhões de eleitores e um montante
em caixa (dados do IBGE de 2011) de R$ 39,96 bilhões. É o chamado cinturão
vermelho do PT, suficiente para sufocar o PSDB de São Paulo, que governa o
estado desde 1994 e comanda um orçamento de R$ 157 bilhões.
O PSDB ainda tem esperanças de manter o grupo político que comanda a atual
capital paulista. Conta com as expectativas da direção nacional e do virtual
candidato tucano à presidência, em 2014, Aécio Neves — que já fez a sua parte
direta, reelegendo Marcio Lacerda (PSB) para mais quatro anos à frente da
prefeitura de Belo Horizonte, com R$ 9,2 bilhões sob sua caneta. Além de São
Paulo, o PSDB, no estado, ainda disputa o segundo turno em Ribeirão Preto (419
mil eleitores e R$ 1,5 bilhão em orçamento); Jundiaí (257 mil eleitores e R$
1,2 bilhão em orçamento) e Guarulhos (825 mil eleitores e R$ 2,5 bilhões em
caixa). A soma, só em São Paulo, dá R$ 37,3 bilhões e 10,1 milhões de
eleitores.
Nova chance
No primeiro turno das eleições municipais, o PT conquistou 626 prefeituras,
totalizando 17,1 milhões de eleitores. Foi o partido que mais conseguiu votos
no país. No segundo turno, os petistas ainda estão na disputa em 22 das 50
cidades que descobrem hoje os novos prefeitos a partir de janeiro de 2013. O
PSDB elegeu 692, conseguindo 13,9 milhões de votos. Terá uma nova chance em 17
municípios.
Entre eles, aparece o PMDB, que obteve 16,7 milhões de votos no primeiro turno,
mas foi o que mais elegeu prefeitos: 1.016. As vitórias mais expressivas do
partido ocorreram no domingo do primeiro turno e na segunda-feira subsequente.
Eduardo Paes foi reeleito para a prefeitura do Rio com 64,60% dos votos válidos
e pouco mais de 2 milhões de votos. Percentualmente, não foi o que mais recebeu
votos mas, em números absolutos, ninguém no primeiro turno foi declarado
vencedor por tantos eleitores. E administrará até 2016 a cidade do Rio de
Janeiro, que tem hoje um orçamento de R$ 20,5 bilhões e será a sede das
Olimpíadas daqui a quatro anos.
Embalado pela vitória inequívoca no segundo maior colégio eleitoral do país e
com a aliança entre Gabriel Chalita (PMDB) e Haddad em São Paulo selada, veio a
segunda vitória peemedebista na mesma semana: Dilma chamou o vice-presidente
Michel Temer em seu gabinete e reafirmou a aliança presidencial para 2014,
calando as pretensões do PSB de Eduardo Campos. O partido ainda disputa o
segundo turno em 16 cidades, mas apenas três são capitais.
Até 2014, contudo, existem dois anos e um longo caminho a ser percorrido. A
presidente deve promover mudanças em seu ministério no início do ano que vem. É
praticamente certa a entrada do PSD de Gilberto Kassab, partido que elegeu
muitos prefeitos e tornou-se a principal linha auxiliar para o PSB de Eduardo
Campos. Apesar da ligação inequívoca com José Serra em São Paulo, o partido
sempre votou com o governo no plano federal. Mas, exatamente por isso, não será
Kassab a integrar o governo Dilma.
Outras pressões devem ocorrer. O PMDB sempre reclama que está subrepresentado
na Esplanada, mas a promoção de Gabriel Chalita para o primeiro escalão
depende, hoje, da saída de algum nome do partido de uma das cinco pastas
comandadas pela legenda. Já o PSB, que também cresceu, tende a seguir um
caminho mais independente e dificilmente terá aumentada sua representação na
Esplanada — hoje o partido comanda dois ministérios.
31,7 milhões
Total de eleitores nas 50
cidades que disputam o segundo turno da eleição municipal
Fonte: Correio Braziliense
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