Ministro quis fixar sentenças na última sessão, mas homenagem impediu
Carolina Brígido
BRASÍLIA - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Carlos Ayres
Britto, vai se aposentar no domingo sem deixar na Corte seus votos com as penas
sugeridas a 14 réus que condenou no processo do mensalão. Na última sessão da
qual participou, anteontem, o ministro levou seus votos para ler aos colegas.
Seriam necessários cerca de 40 minutos. No entanto, com as homenagens e
despedidas feitas pelos colegas, além dos longos votos sobre as penas de
integrantes do núcleo financeiro, não houve tempo hábil. No fim da sessão,
quando Ayres Britto queria ter votado, vários ministros anunciaram que teriam
de deixar o plenário para atender a outros compromissos. Apesar de não ter mais
utilidade prática, Ayres Britto não quis divulgar ao GLOBO suas dosimetrias:
ficarão guardadas na casa dele.
- Levei tudo, para cada um dos réus. Mas o tempo ficou muito apertado,
alguns ministros precisaram sair e não deu para ler - lamentou Ayres Britto.
Nos últimos minutos da sessão de quarta-feira, o relator do processo,
Joaquim Barbosa, tentou emplacar um debate sobre a situação de deputados condenados.
O STF ainda precisa decidir se os parlamentares perderão o mandato
automaticamente, ou se isso dependerá de outro processo no Congresso Nacional.
A intenção de Barbosa era incluir Ayres Britto na discussão. No entanto, o
presidente não tinha voto pronto sobre o assunto.
- Não levei (voto sobre isso) porque não tive tempo de maturar a discussão -
explicou.
De fato, nos últimos dias Ayres Britto dedicou-se à dosimetria dos réus que
condenou. Os votos dos ministros só podem ser apresentados em sessão pública.
Como não haverá nenhuma outra sessão até a aposentadoria de Ayres Britto, ele
não poderá mais apresentar a dosimetria dos réus. Entre os réus que não
receberão a pena de Ayres Britto estão o delator do esquema e presidente do
PTB, Roberto Jefferson, e o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP).
Ayres Britto passou o feriado com a família em casa, em Brasília,
descansando. Apesar de ter vestido o pijama, não perdeu o interesse pelo
mensalão. A partir da próxima semana, passará de protagonista das decisões a
espectador da TV:
- Vou acompanhar de casa, pela televisão, como cidadão.
Ele garante não guardar nenhum ressentimento pelo fato de não ter dado tempo
de proclamar o resultado do julgamento. Depois de sete anos tramitando no
tribunal, o processo foi incluído na pauta por ele, mesmo sob a pressão de
setores da sociedade e de alguns de seus colegas.
- Se não deu, não deu e pronto. Fiz o que pude, não me omiti em nada,
encarei todos os desafios - afirmou.
Fonte: O Globo
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