Os números apenas confirmaram o que os europeus já vivem no dia a dia: a
zona do euro está de novo em recessão. A segunda em três anos. O bloco está
preso em uma armadilha: cortar gastos retrai a economia; não cortar significa
rolar a dívida pública com taxas de juros mais altas. Isso fará com que o
déficit aumente mais. Não existe saída fácil.
O PIB da zona do euro caiu 0,1% no terceiro trimestre deste ano. Parece
pouco, mas foi a segunda retração seguida, o que configura a recessão. Houve a
mesma coisa em 2008-2009. Aconteceu na zona do euro o que os economistas
temiam, o chamado duplo mergulho, quando a recuperação econômica não se
sustenta e o PIB volta ao terreno negativo.
Se até aqui a zona do euro parecia um bloco dividido em dois, com países
ricos de um lado, e endividados de outro, isso parece estar mudando. Para pior.
Sete dos 17 países tiveram queda do PIB entre julho e setembro. Os ricos estão
sofrendo contágio. O PIB da Holanda caiu 1,1%; o da Áustria, 0,1%. Eles foram
determinantes para a recessão.
A Alemanha e a França conseguiram ficar no azul, mas escaparam por pouco. O
principal motor da Europa cresceu apenas 0,2%. Foi a segunda desaceleração
seguida. Os alemães já estão sentindo os efeitos da crise nos vizinhos, porque
é para eles que vão grande parte das suas exportações.
Os números de alguns países são assustadores e explicam a onda de greves e
protestos que se espalhou pela Europa inteira. A economia grega se contrai há
17 trimestres consecutivos. Já perdeu 20% de seu tamanho. O desemprego está em
26%. Portugal está em recessão há oito trimestres. E a Espanha enfrenta
desemprego de 25%, o dobro entre os jovens, e o PIB cai há um ano.
A zona do euro é um projeto incompleto. Os países firmaram um bloco de moeda
única, sem que os gastos fossem unificados. Cada país define seu próprio
orçamento e cada Tesouro lança títulos para captar no mercado.
Uma das saídas para acabar com a crise seria o lançamento de títulos
públicos em comum. Assim, o risco de um seria dividido entre todos. Mas a
proposta encontra forte oposição da Alemanha, que resiste em pagar a conta dos
vizinhos.
Olimpíada livra UE da recessão. Enquanto a zona do euro, com seus 17 países,
entrou em recessão, a União Europeia, que engloba 27 economias, teve expansão
de 0,1%. Não é grande coisa, mas em se tratando de Europa, qualquer número
positivo é bem-vindo. Contribuiu para esse resultado a Inglaterra, que cresceu
1%. Mas isso não quer dizer que o país esteja em plena recuperação. A alta pode
ser temporária, efeito das Olimpíadas de Londres, que turbinaram o turismo e o
comércio.
Piorar para melhorar. O jornalista Claudi Pérez, correspondente do jornal
"El País" em Bruxelas, onde fica a sede da União Europeia, conta que
nos bastidores se comenta que a resistência em pôr mais "dinheiro sobre a
mesa", ou seja, em liberar mais ajuda aos países endividados, só deve ser
vencida quando a recessão chegar à Alemanha.
Alemanha x Europa. Angela Merkel terá um calendário eleitoral pesado pela
frente - em setembro haverá eleições na Alemanha. A popularidade da chanceler
no país é alta, justamente pela resistência em fazer novos aportes nos
vizinhos. A recessão na zona do euro aumentará a pressão por novos socorros,
mas os alemães puxarão a corda no sentido contrário, para que cada governo
cuide do seu orçamento.
Fonte: O Globo
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