Meu propósito era escrever sobre problemas internos e externos que ensombram
os horizontes próximos do governo da senhora presidente, mas outro tema, também
a ela pertinente, me parece de maior atualidade. Os fatos são de ontem e estão
vivos na lembrança de todos. O mensalão aproximava-se de seu termo; seus
efeitos eram devastadores, quando outro caso, temperado com nitroglicerina,
entrou em ebulição, tendo como sede nada mais, nada menos que o escritório
paulista da chefe do governo, e desde a administração anterior gerenciado pela
mesma pessoa. A excepcional gravidade dos fatos apurados pela Polícia Federal e
as pessoas envolvidas causaram imensa repercussão. Basta dizer que a senhora
presidente não hesitou em demitir, afastar, investigar a partir da chefe do
gabinete instalado na Avenida Paulista, sem falar na prisão de 18 pessoas,
salvo engano. Esses fatos, era inevitável, ganharam as ruas e as manchetes nos
meios de comunicação. O choque foi de tal monta que todo o mundo passou a
reclamar explicações oficiais, e o governo não tardou em escolher o ilustre
ministro da Justiça para, em Comissão da Câmara dos Deputados, dar a versão
oficial dos acontecimentos. E aqui chegamos ao ponto nodal do caso.
Os jornais informaram que a exposição foi extensa, de muitas horas, mas
houve quem atalhasse dizendo que o ministro pecou pela prolixidade. Não tenho
como opinar a respeito.
Enfim, o ilustre ministro da Justiça compareceu a uma comissão da Câmara dos
Deputados e durante horas falou sobre o escândalo que levara a senhora
presidente a afastar ou demitir a então chefe do Gabinete da Presidência em São
Paulo e outros, inclusive escolhidos e patrocinados por essa última. E, embora
o porta-voz do governo afirme que "a quadrilha não se instalou na
Presidência", não esclarece onde ela teria se instalado. A certa altura,
surpreende dizendo "não é o resultado da investigação. O que tenho são
servidores de um patamar secundário, enquadrados em conduta criminosa". O
que era assunto de alta relevância passa a incógnitos "servidores de um
patamar secundário". Uma explicação destas não fica bem seja ao governo,
seja a seu ministro, notadamente quando prestada à Nação.
Mais estranho ainda é o tecido em relação à ex-chefe de gabinete Rosemary
Noronha, ou Rose. Dela se diz é que o que se sabe, segundo Cardozo, é que Rose
"tinha contatos ilegais, relações indevidas... mas não participava do
núcleo central da quadrilha... O que ela fazia era, usando sua condição de
chefe do escritório, facilitar contatos de membros da quadrilha em troca de
favores". Céus! Aqui Del Rey! Por isto, fica-se a saber, ela foi indiciada
por corrupção, falsidade ideológica e tráfico de influência! Mas não havia por
que quebrar seu sigilo... porque, disse o ministro, "a Polícia Federal
evita grampear pessoas não diretamente relacionadas ao fato
investigado"!!!
Por fim, não se sabe por que, emerge esta confidência: "Lula é íntimo
de Rosemary". Mas em que vem ao caso essa suposta intimidade? O ministro
não disse.
Muita coisa teria a aditar à exposição ministerial, mas, o leitor há de
convir, não disponho como ele de longas horas para expor, nem de páginas de
jornal para resumi-las.
* Jurista, ministro aposentado do STF
Fonte: Zero Hora (RS)
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