Caio Junqueira
BRASÍLIA - O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, pretende fazer um rearranjo na atuação de sua bancada na Câmara dos Deputados com o objetivo de harmonizar o discurso dos parlamentares com o que tem feito desde o término das eleições de 2012. Basicamente, aproximar-se do debate federativo e de reaquecimento da economia e colocar-se como alternativa à dupla PT e PMDB.
Para tanto, convocou para a Câmara dois correligionários de sua confiança que assumiram funções nos governos estaduais e retornaram para cumprir esse papel. Um deles é Márcio França, que foi secretário de Turismo de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo; o outro é Beto Albuquerque, até dezembro secretário de Infraestrutura de Tarso Genro (RS) no Rio Grande do Sul.
O gaúcho, inclusive, já foi eleito líder por unanimidade e assume o posto com a volta dos trabalhos da Casa, em 4 de fevereiro. Desde a última semana, passa férias em Pernambuco a convite de Campos justamente para que ambos afinem o discurso.
"Estamos definindo algumas temáticas importantes. A questão do pacto federativo é urgente, assim como a retomada da economia. Ajudar Dilma a melhorar o ambiente econômico. É preciso uma agenda econômica que efetivamente toque fundo nas questões gerais", diz Albuquerque, crítico da dupla opção do governo de fazer desonerações seletivas a certos setores produtivos que acarretam perda de recursos para Estados e municípios. "As desonerações não podem ser apenas setoriais, de PIS e Cofins de um ou outro setor. Tem que ser generalizado. Do jeito que está sendo não tem resolvido o problema", disse.
Para ele, é preciso um "esforço nacional para que os entes federados convirjam". "Achamos que as desonerações têm que ser mais amplas para atingir todos os entes federados, não apenas Estados e municípios. Tem que chegar na União também e o Congresso Nacional tem que entrar nesse debate. O que mais tem havido é algumas desonerações setoriais que tomam recursos dos Estados e municípios."
Albuquerque defende ainda que o governo se coloque como mediador no debate sobre outras questões federativas que devem ocorrer neste ano. "O governo brasileiro tem que sair da retranca. Essa discussão de royalties e do Fundo de Participação dos Estados (FPE) depende da mediação do governo, senão é difícil chegar a uma acordo".
Diante desses cenários, ele estende as críticas à condução dos trabalhos no Congresso. "O Congresso deveria fazer uma comissão geral para debater a agenda econômica e federativa. Nem entro no mérito, mas tem coisas muito importantes que não foram tratadas. Não adianta ficar discutindo com o Supremo Tribunal Federal (STF). Não é essa a agenda que queremos."
Ele relata que pediu à assessoria do PSB um levantamento sobre todos os projetos relacionados à economia que foram "esquecidos" pelos parlamentares e que o partido quer adotar como bandeira. "Há muitos marcos legais adormecidos. Não podemos ter esse ambiente de desconfiança em relação a concessões, a parcerias público-privadas (PPP)."
Mas não é só em relação à economia que Albuquerque jé pediu aos assessores do PSB centrar os olhos. Ele também solicitou dados sobre a centralização de poder na Câmara nas mãos de PT e PMDB, que concluiu que 95% das relatorias ficaram nas mãos de parlamentares dos dois partidos. "A Câmara não pode ficar dominada por PT e PMDB. As relatorias estão todas com eles. Isso é uma anomalia. Vamos conquistar aliados para enfrentar isso", diz. Ele ressalta, contudo, que a candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) a presidente "deve tratar" desses temas, apesar de não ser uma candidatura colocada pelo partido, mas sim pela bancada.
A preocupação de Campos com a bancada na Câmara cresceu a partir da eleição de sua mãe, então deputada e líder Ana Arraes, para ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), em setembro de 2011. Desde então, a bancada perdeu o controle e enfrenta constantes disputas internas. Teve, por exemplo, três líderes no período.
Fonte: Valor Econômico
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