O Copom esta semana deve manter a taxa de juros, em grande parte pelo baixo ritmo de crescimento econômico do ano passado. A previsão de inflação calculada pela pesquisa do Banco Central está em 5,53%, para este ano, e 5,5%, para o ano que vem. Se for isso, o governo Dilma acabará sem que a inflação esteja no centro da meta. Ninguém acredita mais no que o Banco Central promete.
A expectativa dos analistas já é de uma taxa um ponto maior do que o centro da meta este ano e no próximo. Mesmo com a queda do preço da energia, que puxará para baixo a inflação neste começo do ano, ninguém calcula que ela voltará ao nível em que deveria estar. Essa pesquisa feita pelo Banco Central, das projeções das instituições financeiras, costuma ser otimista a médio prazo. Para o ano seguinte, em geral, o mercado prevê que a inflação ficará em torno da meta e que o crescimento vai ser o prometido pelo governo. O que a pesquisa mostra agora é que o BC está perdendo a batalha das expectativas.
Controlar as expectativas é o ponto de partida do sistema de metas de inflação. Funciona assim: o Banco Central diz qual é o seu alvo, ou seja, o centro da meta, e se compromete a levar a inflação para esse patamar, subindo ou reduzindo os juros. A partir daí, o mercado reajusta os preços levando em consideração esse compromisso, explica o economista e consultor Alexandre Schwartsman.
- A importância das expectativas é enorme. Imagine uma universidade que precisa reajustar a mensalidade, o que só acontece uma vez por ano. Se ela acredita que a inflação será de 4,5%, vai subir o preço para se proteger dessa perda. Mas se ela acha que a inflação será de 6%, vai subir um pouco mais. A lógica é a mesma para sindicatos, que brigam por salários, empresários, investidores, para a economia toda - disse.
No começo do governo Dilma, a inflação entrou acelerando e o Banco Central avisou que naquele ano não atingiria o centro da meta, mas em 2012, sim. Não foi o que ocorreu. Em 2011, ficou em 6,5%, e só não houve estouro do teto da meta porque alguns aumentos foram postergados; no ano passado, fechou em 5,84% porque mudanças no cálculo do índice e adiamentos de alguns reajustes, como gasolina, ajudaram.
Alguns economistas calculam que a inflação em 12 meses continuará subindo nos primeiros meses do ano. Schwartsman acha que o IPCA vai encostar em 6,5% ao fim do primeiro semestre e fechará 2013 na casa de 6%. Um dos problemas está na inflação de serviços, que há dois anos roda a casa de 8% e 9%.
- A economia cresce pouco, mas a inflação continua alta, em grande parte porque o mercado de trabalho está apertado. O setor de serviços consegue repassar esses reajustes salariais para os preços porque não tem concorrência. Mas o setor industrial não consegue. Isso tira competitividade da indústria e se reflete no crescimento da economia. Temos um tipo de estagflação - disse.
O Banco Central manterá os juros exatamente porque está nesse dilema: de um lado, inflação ainda alta, e de outro, crescimento muito fraco. Se fosse apenas pelo nível de atividade, deveria aumentar o incentivo ao crescimento, reduzindo as taxas; se fosse só pela inflação, era hora de elevar a taxa. O problema é que o BC está sozinho nas duas pontas. No crescimento, o governo tem investido pouco; no combate à inflação, o governo aumentou gastos e manipulou índices fiscais.
Para 2013, há a vantagem da queda do preço da energia, no curto prazo, que terá um efeito positivo no índice, mas a médio prazo há várias pressões: o uso das usinas termelétricas aumentará o custo da energia; a gasolina deverá subir de preço para atender a Petrobras, que tem reclamado que o adiamento do reajuste afeta seu caixa e capacidade de investimentos.
Se a previsão do mercado se confirmar, a inflação não verá o centro da meta durante todo o mandato da presidente Dilma Rousseff. Mas isso não é o mais importante. O que preocupa é que o regime de metas se baseia na confiança de que o Banco Central levará a inflação ao centro da meta. O espaço de flutuação é apenas para acomodar inesperados. Mas a atitude do BC está cristalizando a convicção de ele aceita um pouco mais de inflação. É essa ideia que a autoridade monetária terá que desfazer.
Fonte: O Globo
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