Presidente convoca caciques para evitar que a briga pela liderança da legenda na Câmara afete a definição do novo comando da Casa
Paulo de Tarso Lyra e Juliana Braga
"Eu quero o melhor para o PMDB, por isso apoio o Eduardo. Mas não sou de fogo amigo. Quando quero atacar, uso artilharia direta e pública" Geddel Vieira Lima, ex-deputado do PMDB baiano e vice-presidente da Caixa Econômica Federal
BRASÍLIA – A disputa acirrada pela liderança do PMDB na Câmara tornou-se a principal ameaça à candidatura de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para a Presidência da Câmara. A cúpula partidária avaliou que as denúncias veiculadas no fim de semana apontando irregularidades de Henrique no uso das emendas parlamentares e de recursos do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) surgiram porque o peemedebista empenhou-se na candidatura à presidência e se esqueceu de acertar a própria sucessão na bancada. "Ele viu a casca de banana e mesmo assim caminhou em direção a ela", disse um interlocutor do partido.
A presidente Dilma Rousseff indagou ontem a dois caciques do PMDB como estavam as sucessões da Câmara e do Senado. No final da manhã, a presidente encontrou-se com o vice-presidente Michel Temer. No meio da tarde, ela recebeu o presidente do Senado, José Sarney (AP). Ao fim do dia, ambos se encontraram no Planalto para uma avaliação da crise no partido. Todos buscaram acalmar a presidente.
O gabinete de Temer virou alvo da peregrinação dos candidatos à liderança do PMDB. Na semana passada, foram pedir bênção os deputados Eduardo Cunha (RJ), Sandro Mabel (GO) e Osmar Terra. Nenhum deles é de total confiança do governo ou da direção partidária. Mabel é "cristão-novo", proveniente do PR; Terra fez campanha para José Serra (PSDB) nas eleições presidenciais de 2010; e Eduardo Cunha tem um longo histórico de problemas para o governo.
Reside nisso as críticas a Henrique. "Ele sabia que seria candidato há muito tempo. Poderia ter negociado o sucessor e evitado essa confusão", disse um aliado. Partidários de Eduardo Cunha, por exemplo, reclamam que Henrique Alves abandonou o deputado no momento em que ele cogitou lançar-se líder. "Você diz que é amigo e na hora que precisam você some? É claro que isso está errado", disse um aliado do parlamentar fluminense.
Ausente da bancada mas acompanhando atentamente os desdobramentos da eleição interna, o vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima, coloca mais lenha no debate. "Eu quero o melhor para o PMDB, por isso apoio o Eduardo. Mas não sou de fogo amigo. Quando quero atacar, uso artilharia direta e pública", declarou ao Estado de Minas.
O Planalto, contudo, ainda banca o apoio a Henrique. A eleição está muito próxima – será em 4 de fevereiro – e uma mudança brusca agora poderia provocar o surgimento de um novo Severino (Severino Cavalcanti, do PP-PE, eleito presidente da Câmara em 2005 após um racha no PT). Além disso, na avaliação de interlocutores da presidente, não valeria a pena comprar uma briga e tornar o "PMDB indomável". Além disso, o PR deverá ser liderado por Anthony Garotinho (RJ) e o PDT continua com André Figueiredo (CE), alinhado ao ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi, sinalizando problemas futuros.
A dúvida é quanto tempo Henrique ainda precisará sangrar. "Qualquer um que fosse candidato a presidente passaria por isso", disse o ex-líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). Para Eduardo Cunha, o maior risco é a necessidade de se explicar constantemente. "Não vejo problemas para a candidatura do Henrique. Mas para a imagem dele sim", declarou ele.
No Senado, para evitar uma divisão interna na bancada, o atual presidente da Casa, José Sarney, agiu como bombeiro. Seu grupo vai despejar todos os votos na eleição de Eunício Oliveira (PMDB-CE) para a liderança da bancada. O senador Romero Jucá (PMDB-RR) terá dois caminhos à disposição, como adiantou o Estado de Minas no final do ano: a segunda vice-presidência do Senado ou a liderança do bloco da maioria composto por PMDB-PP-PV.
Fonte: Estado de Minas
Nenhum comentário:
Postar um comentário