Carolina Albuquerque
Todos exaltam o ex-ministro da Justiça Fernando Lyra como um exímio articulador político e um homem afeito ao bom diálogo. Tais características se fizeram presentes, ontem, durante o velório no plenário da Assembleia Legislativa de Pernambuco. Por lá passaram políticos de variadas correntes políticas, da ex-Arena, partido da ditadura militar, a ex-presos políticos, além de membros do Judiciário, do Ministério Público, MST, Fetape, advogados, escritores, publicitários, músicos - profissionais liberais de diversas áreas. Juntos, no mesmo recinto, para o último adeus àquele que ficou conhecido como o "ministro da redemocratização que acabou com a censura".
Fernando Lyra foi uma figura preponderante na articulação da candidatura à Presidência da República de Tancredo Neves, pelo Colégio Eleitoral, em 1985 - a primeira com um representante civil desde o golpe militar de 1964. Naquele momento, foi criada a Aliança Democrática, um pacto promovido entre políticos de vários partidos, mais especificamente entre a Frente Liberal (FL) e o PMDB para tentar vencer a eleição indireta contra Paulo Maluf (PDS).
O ex-governador Joaquim Francisco (PSB), ex-PFL que integrou a FL, lembra bem desse momento. "Ele (Lyra) firmou posições, conduziu pessoas, aconselhou. Na hora de ir para a tribuna, era um grande tribuno. Na hora da conversa, sabia conversar. Sobretudo para criar um clima positivo, como ele criou, possibilitando para que se caminhasse de maneira pacífica a candidatura de Tancredo Neves, que eu participei", disse. O também ex-governador Roberto Magalhães (DEM) fez parte de desse fato histórico. Sobre Lyra, afirmou: "Foi uma das pessoas que fez política com "P" maiúsculo".
Ainda passaram para o último adeus, outros ex-integrantes da Frente Liberal que se integraram à candidatura de Tancredo, como Marco Maciel e Gustavo Krause, respectivamente governador e prefeito do Recife biônicos do regime militar, assim como o deputado federal Inocêncio Oliveira (PR) e o ex-deputado Pedro Corrêa (PP). "Éramos companheiros, mas eu pela Arena e ele pelo MDB. Exercemos mandatos juntos na Câmara", declarou Corrêa.
Figuras que um dia militaram e ainda militam na esquerda brasileira também se despediram e homenagearam Lyra. É o caso dos ex-presos políticos José Arlindo Soares, Chico de Assis e Marcelo Mário Melo. "Se me pedissem para definir, numa só palavra, o ex-ministro, eu diria: Coragem. Na luta política contra a ditadura, os ex-presos políticos de Itamaracá são testemunhas disso, e na defesa de posições políticas, ainda que polêmicas ou indo contra a corrente", declarou Chico. "Lyra compreendeu o momento de redefinição. A transição trouxe uma atmosfera de um processo moderado de eleições indiretas. Ele sempre trabalhava bem para abrigar as divergências. Qualquer debate, por mais divergente, terminava com um sentimento fraterno", completou Arlindo. O vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PCdoB), também ex-preso político, exaltou o mesmo perfil. "Nunca vi Lyra dividindo, sempre somando".
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
Nenhum comentário:
Postar um comentário