Auxiliares de Dilma negam a troca do vice em sua chapa, invocando uma tradição: FH manteve Marco Maciel e Lula não trocou José Alencar
As eleições para as Mesas Diretoras do Congresso levantaram na base governista uma poeira que exigirá dos atores centrais muito uso do espanador. A disputa pelo cargo de líder rachou a bancada do PMDB, e, na cúpula, há suspeitas de que defecções no PT ajudaram a reduzir a votação de Henrique Eduardo Alves para presidente da Câmara. Os 271 votos recebidos lhe deram a vitória, mas a votação foi menor do que a esperada. Já os surpreendentes 165 votos recebidos pelo candidato do PSB, Júlio Delgado, são creditados ao empenho de uma dobradinha entre o governador de Pernambuco e presidente do partido, Eduardo Campos, e o senador e presidenciável tucano Aécio Neves (MG), o que aumentou a desconfiança petista. Por outro lado, as notícias de que o ex-presidente Lula teria sugerido a troca de Michel Temer por Campos, na chapa de Dilma à reeleição, deixaram a cúpula peemedebista em estado de alerta.
Começando pela bancada do PMDB, o racha opõe o grupo do líder eleito na Câmara, Eduardo Cunha, ao do candidato derrotado e segundo mais votado, Sandro Mabel. Cunha garante que o terceiro candidato, Osmar Terra, seus 16 eleitores e metade dos 32 deputados que votaram em Mabel já estão devidamente alinhados com sua liderança. Haveria agora só um choro de derrotado precisando de acalanto. “Pacificar a bancada é minha prioridade, mas isso está em curso e acontecerá naturalmente. A bancada sabe que agora será atuante e relevante”, diz ele, referindo-se à autonomia em relação ao Planalto. “Apoiamos o governo, mas prevalecerá sempre o pensamento da bancada”, diz ele.
Nos dois grupos, existe também algum ressentimento com o novo presidente da Câmara, que, sendo historicamente ligado a Cunha, preferiu corretamente a equidistância, não votando em nenhum dos três candidatos. Essa sequela no próprio partido aumenta a importância do apoio do PT à sua governança na Casa. Alves está propondo uma agenda ousada para a Câmara (objeto da próxima nota desta coluna), para a qual precisará da coalizão unida.
No PT, o líder José Nobre Guimarães assegura que a sua bancada votou maciçamente em Henrique, sem uma só defecção, honrando o acordo entre os partidos . “Primeiro, unificamos nossa bancada, distribuindo harmonicamente os postos que nos cabiam na Mesa e nas comissões. Se não tivéssemos dado 100% dos votos ao Henrique, poderia ter havido um incerto segundo turno. E lhe daremos todo apoio no esforço para restaurar o respeito e a relevância do Legislativo.” O PMDB quer mais um pouco: o prometido ministério para Gabriel Chalita e a certeza de que Temer não será rifado como companheiro de chapa de Dilma. Se Lula sugeriu mesmo a troca por Campos, auxiliares de Dilma dizem o oposto: se FH manteve o vice na reeleição, e Lula também, por que ela iria quebrar esta tradição, colocando em risco o apoio do aliado mais certo?
Já o governador de Pernambuco confirmou ontem sua ação a favor de Delgado, mesmo não mencionando a tal dobradinha com Aécio, que teria levado para o candidato socialista dois terços dos votos tucanos, embora o PSDB tenha declarado apoio a Henrique Alves, garantindo seu lugar na Mesa, segundo a regra da proporcionalidade. Fez jogo semelhante mas inverso no Senado: declarou apoio ao dissidente Taques, mas votou maioritariamente em Renan, garantindo o lugar na Mesa. Ontem em Brasília, Eduardo Campos afirmou que Delgado não venceu, mas que foram lançadas “boas sementes para o futuro”. Sementes que podem ser da concorrência com o bloco PT-PMDB, como da aliança PSB-PSDB. Ou as duas coisas. Como no ditado que os políticos apreciam tanto, tem vaca estranhando bezerro. No plural.
Henrique chama os governadores
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, telefonou ontem para cada um dos 27 governadores, convidando-os para uma reunião “muito rápida, objetiva e prática”, em 13 de março, em Brasília. A cada um, dizia: “Queremos enfrentar as pendências federativas que angustiam os estados e não encontram solução na área na área econômica do governo. Mas vamos ser práticos, enfrentando dois, três ou quatro problemas urgentes, no máximo, para votarmos o que for preciso até junho”. Ou seja, ele está puxando para a Câmara a solução das tensões federativas. Ele admite que o Congresso errou não aprovando em tempo a regra de partilha do FPE cobrada pelo STF, mas acha que isso só não basta. Quer começar ouvindo os governadores. A coluna de Denise Rothenburg, aqui no Correio, apresentou ontem suas duas outras agendas ousadas: tornar obrigatória a execução das emendas parlamentares ao Orçamento e estabelecer um rito e um fluxo para a apreciação dos vetos presidenciais, assegurando a palavra final do Congresso no processo legislativo. Uma boa agenda. Agora é implementá-la.
Líder do PT quer diálogo
O novo líder do PT, José Nobre Guimarães, quer a bancada brilhando no debate dos grandes temas nacionais. “Nós somos os principais intérpretes do projeto de mudança que o Brasil vive. Vamos praticar isso, contribuindo para a maior eficácia e produção do Legislativo”, diz o líder, que dividirá os deputados em grupos de estudo sobre os grandes temas da agenda atual: economia, políticas sociais, energia, infraestrutura, reforma política etc.
Outra prioridade dele é estabelecer um diálogo mais permanente e efetivo com a oposição. “Na democracia, a minoria deve ser ouvida, não suprimida. Temos diferenças, mas devemos buscar um ponto mínimo de convergência no interesse nacional. E há, na oposição, pessoas com abertura para isso”, diz ele, citando conversas preliminares que já teve com o líder tucano Carlos Sampaio e seu antecessor Bruno Araújo, e com os demistas Ronaldo Caiado e Mendonça Filho. Se isso prosperar, será uma brisa neste tempo de radicalização e intolerância.
Fonte: Correio Braziliense
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