Operador do mensalão disse que ex-presidente se beneficiou de esquema
Carolina Brígido
BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, enviou ontem ao Ministério Público Federal em Minas Gerais (MPF) trechos do depoimento de Marcos Valério que acusam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de envolvimento com o mensalão. Gurgel quer que o caso seja investigado junto com outros processos sobre o assunto que tramitam na Justiça de Minas Gerais. Caberá aos procuradores no estado avaliar se há suspeita contra Lula que justifique transformá-lo em alvo de inquérito ou processo judicial.
- Nós constatamos que lá (em Minas) já existe um procedimento decorrente de um desmembramento determinado pelo ministro Joaquim Barbosa que trata de assunto relacionado ao mensalão, mas não foi compreendido na ação penal 470. Provavelmente será juntado a um procedimento relacionado ao esquema do mensalão - afirmou o procurador-geral depois da cerimônia de posse de Sérgio Kukina como ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Na semana passada, Gurgel informara que o documento a ser enviado à primeira instância tinha "três ou quatro páginas". O caso não foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) porque Lula não tem direito a foro especial, por não ocupar mais o cargo público.
Valério prestou depoimento em setembro do ano passado à Procuradoria Geral da República (PGR). Como o julgamento do processo do mensalão já estava em curso, não foi possível inserir o novo fato à investigação.
No depoimento, divulgado pelo jornal "O Estado de S. Paulo", Valério cita dois pagamentos que ele teria feito a Freud Godoy, então assessor da Presidência da República. A CPI dos Correios comprovou o depósito de R$ 98,5 mil de Marcos Valério para a empresa Caso, de propriedade de Godoy. A CPI também detectou um pagamento feito pela SMP&B, uma das agências de publicidade de Valério, à empresa de Godoy.
Valério também teria dito em depoimento que Lula autorizou a operação na qual o PT se beneficiou de empréstimos concedidos pelos bancos Rural e BMG às empresas do lobista. Para o Supremo, os empréstimos serviram de mecanismo fraudulento para permitir o funcionamento do esquema criminoso.
O operador do mensalão teria procurado a PGR após ser condenado pelo STF a 40 anos, dois meses e dez dias de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas no processo do mensalão. Em troca do novo depoimento e de mais informações sobre o esquema, Valério queria obter proteção e redução da pena. Ele ainda pode conseguir a condição de protegido, mas não obteve a redução da pena.
Por meio da assessoria, o Instituto Lula informou que não se pronunciaria sobre o assunto.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário