quarta-feira, 20 de março de 2013

A chave eleitoral do segundo turno - Rosângela Bittar

Em 2014, seja na disputa da Presidência, seja de governos estaduais, a ordem nos partidos é apresentar candidatos. Até quem não tem chance nenhuma, sendo médio ou nanico, estruturado ou não, quer tomar o seu lugar na chave. O histórico de campanhas recentes tem mostrado aos políticos que é moderno e eficiente jogar com o segundo turno, seja para disputá-lo, seja para negociar aliança na campanha ou composição de governo com o vencedor. Muitos - a maioria -não querem esperar a eleição seguinte para ter sua vez. É o aproveitamento máximo do momento.

Por exemplo: A candidatura de Gilberto Kassab ao governo de São Paulo, já posta, é uma busca de resultados para já ou para o futuro? É claro que é para o futuro. Assim, são várias as candidaturas a presidente, no momento, que já ficaram irreversíveis, mesmo com as dificuldades quase invencíveis de uma disputa com uma presidente no cargo fazendo um governo popular.

Faltam detalhes, alguns mesmo fundamentais, mas no plano geral da antecipação de campanha existem três candidaturas presidenciais adversárias à da presidente Dilma Rousseff praticamente irreversíveis, hoje: Eduardo Campos, Marina Silva e Aécio Neves. Outras podem surgir, mas essas já são.

A favorita absoluta é Dilma. Está no cargo, faz um governo popular com um lançamento de pacote de benefícios por semana, e tem uma aliança partidária ampla que lhe permite um espaço de propaganda inigualável. Mas ninguém quer desistir de véspera, pois há, no sistema eleitoral, o bendito segundo turno, para reduzir o número de perdedores. Até a oposição conta com ele para manter as esperanças caso seja ela a passar à nova rodada.

Entre todas, a candidatura menos construída é a de Aécio Neves. A Marina falta o partido, a Eduardo ser conhecido, a Dilma - a pesquisa Ibope mostrou, ontem -, falta um governo que lhe dê discurso para além da propaganda. A Aécio falta tudo.

O que menos falta é o que os adversários mais cobram: o discurso. Para começar, entre todos, Aécio é o único candidato realmente de oposição, por isso pode ter um discurso definido e confortável quando chegar o momento.

Depois, para enfrentar a propaganda das campanhas políticas, um discurso temático importa pouco. A disputa, na reeleição, se dá entre continuidade e mudança. É muito difícil fazer a mudança quando a maioria quer a continuidade, e vice-versa. A não ser que sobrevenha uma hecatombe.

No caso, uma crise econômica grave com reflexos no emprego, uma divisão profunda na base de sustentação política do candidato no governo, o surgimento de vários candidatos quando antes havia apenas um, o sucesso na exploração de temas nos quais o governo visivelmente fracassou (Saúde, Segurança, Impostos, mostrou a pesquisa de ontem). Mas é muito difícil.

De qualquer forma, ninguém quer, por causa dos obstáculos, desistir, deixar de disputar, e sempre há flancos na candidatura favorita, como em qualquer uma. Por isso, apesar da popularidade da presidente e da aceitação do seu governo, os partidos seguem na construção de alternativas.

No PSDB, tem-se uma ideia sobre como construí-la, qual é o passo a passo. O primeiro é formar uma direção partidária sólida, com disposição de trabalho e prestígio, capaz de agir em várias direções, principalmente nas preliminares eleitorais mas também quando chegar o momento das decisões sobre a condução da campanha.

O senador Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB paulista, que assiste seu partido, mais uma vez, se digladiar para formar essa direção, costuma definir o comando partidário como uma banda de música. A harmonia é fundamental para unificar a linguagem, mapear locais onde é preciso vencer resistências, suscitar candidaturas onde o presidenciável não tem palanque, comprar as brigas, fazer o discurso mais contundente. O candidato deve se preservar, o presidente do partido não.

Em Pernambuco, onde haverá um candidato a presidente na disputa, o PSDB terá que apresentar um candidato ao governo. No Paraná, no Rio de Janeiro, são problemas à espera da solução do comando partidário.

A Executiva precisa funcionar. Sergio Guerra, senador e presidente do PSDB há vários anos, é considerado talentoso, um bom analista do quadro eleitoral, um político corajoso, mas não faz a Executiva funcionar.

Muito há a ser feito até chegar o momento de criar a equipe de campanha, que se sobrepõe à direção do partido. É a Executiva que conduz toda a fase que começa agora e vai até o período de propaganda. As alianças políticas são por ela negociadas, tem toda uma lição de casa a cumprir. Afinar o discurso, fazer pesquisas, preparar a casa.

Em que estágio dessas preliminares está a candidatura do PSDB? Absolutamente inicial. Na fase de sondagens para organização da Executiva Nacional, a ser definida em maio; na fase de ter Aécio como pré-candidato para que apareça mais, tenha maior protagonismo na política.

Até isso o PSDB demorou a conseguir, enquanto a candidatura favorita foi se tornando mais favorita ainda com os pacotes de benefícios para diferentes grupos do eleitorado.

Aécio é o candidato do PSDB, aceito por todos, José Serra inclusive. O ex-governador de São Paulo quer ser ouvido, já teve dois encontros a sós com Aécio, um no começo do ano, outro anteontem, e depois disso não há ninguém no PSDB que consiga ver Serra fora do partido, como se propagou.

Não iria para o partido do Kassab, cuja criação foi contra, um partido que nasceu na órbita da presidente Dilma, ou seja, do PT. O PPS, um partido pequeno, sem estrutura, que o enfrentou na última eleição lançando uma candidatura errática na cidade de São Paulo, também não parece ser um bom destino. O senador Aécio Neves saiu do encontro desta semana com a impressão que Serra é PSDB e será sempre PSDB. Com vocação política visceral, Serra não vai sair e ficar sem partido. Faltando qualquer sentido para sua migração, e uma vez aceita a candidatura Aécio, deve ficar e atuar.

Fonte: Valor Econômico

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