Cristian Klein, Raquel Ulhôa e Marcos de Moura e Souza
SÃO PAULO, BRASÍLIA e BELO HORIZONTE - Depois dos momentos mais tensos de negociação - em que o ex-governador de São Paulo, José Serra, teria ameaçado sair do partido -, a resistência da seção paulista do PSDB em se engajar na pré-candidatura do senador mineiro Aécio Neves à Presidência da República parece ter se dissipado ou ao menos foi abrandada. Numa frente, Aécio conversou com Serra, na segunda-feira, em São Paulo, e iniciaram um acordo em torno da eleição que definirá a nova executiva nacional do partido, em maio.
Na outra frente, o senador mineiro recebeu o sinal verde do governador Geraldo Alckmin - com quem viajou de avião na manhã de ontem, para Brasília - para se aproximar da base do PSDB em São Paulo.
Aécio fará incursões pelo interior do Estado para travar os primeiros contatos com os militantes e dirigentes paulistas e, na segunda-feira, às 19h, dará uma palestra no Congresso Estadual do partido.
"Não o convidamos sem o consenso do governador. Essa história de que o Geraldo seria contra é só papo. Ele é um homem de partido. Vamos levar o Aécio a quatro, cinco regiões, para conhecer prefeitos, vereadores, deputados, todo mundo. Ele [Aécio] é que pediu, mas queremos também", disse ao Valor o deputado estadual Pedro Tobias, presidente do PSDB paulista.
Tobias diz que, no dia da palestra, Aécio Neves, depois de várias reuniões à tarde com o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso - maior incentivador de sua candidatura ao Planalto -, se encontrará com Alckmin no Palácio dos Bandeirantes, de onde sairão juntos para o diretório estadual do partido, numa demonstração de unidade. A palestra terá um tom nacional e Aécio falará como candidato, com críticas ao governo federal. Pela primeira vez, Aécio falará de São Paulo para o país, o que para os tucanos será um ato carregado de simbolismo.
"Acredito que já saiu a fumaça branca", afirma Tobias, numa referência ao sinal emitido no Vaticano quando os cardeais, reunidos em conclave, chegam ao consenso para a escolha de um novo papa.
O otimismo se baseia nos resultados da negociação entre Aécio e o maior foco de resistência à sua candidatura: José Serra. Mesmo vindo de duas derrotas seguidas, para a Presidência, em 2010, e para a Prefeitura de São Paulo, no ano passado, o ex-governador de São Paulo teria exigido o controle do partido em troca do apoio a Aécio. Caso contrário, poderia sair do PSDB. O senador mineiro, no entanto, também quer a presidência da legenda, para obter mais visibilidade nacional, mais liberdade para viajar pelos Estados em sua pré-campanha e evitar obstáculos à sua candidatura. No controle do PSDB, Serra poderia, no mínimo, atrapalhar a vida de Aécio. Para serristas, o senador se empenhou pouco e teria sido responsável pela votação aquém da esperada em Minas Gerais, na eleição presidencial de 2010.
O encontro entre os dois, na segunda-feira, durou mais de três horas, quando tentaram aparar as arestas. De um lado, Serra disse não ter reivindicado cargo algum, negou que tenha autorizado seus aliados a lançar seu nome para presidir o partido e mostrou disposição de permanecer no PSDB para tentar derrotar o PT em 2014. Aécio Neves, por sua vez, ofereceu ao correligionário "o espaço que ele quiser" na direção do partido. "Zeramos o passado", afirmou Aécio.
O senador começou a conversa de forma direta. "Temos muitas divergências e uma coisa em comum: espírito público e um projeto conjunto de partido e de Brasil", teria dito, segundo interlocutores. "E queremos derrotar o PT. A polarização será conosco", teria respondido Serra.
Aécio disse ao ex-governador que ele tem um "lastro eleitoral" que ninguém tem no Brasil. "Nós temos que fazer isso [derrotar o PT] juntos", foi o apelo feito pelo senador a Serra.
"Saí da conversa convencido de que o Serra tem lado e o lado dele é o nosso lado. A nossa visão de país é comum e ele terá papel importante na condução do PSDB. O papel que ele quiser", afirmou Aécio. "Tenho confiança de que Serra vai estar no jogo", acrescentou.
Aécio e Serra, sozinhos, no escritório do ex-governador em São Paulo, fizeram uma análise da situação política de cada Estado e avaliaram a provável candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB, a presidente da República. Os dois concordaram que a participação de Campos na disputa favorece o projeto da oposição, já que divide a base de Dilma e, principalmente, tira dela votos do Nordeste, onde ela recebeu mais de 70% dos votos.
A questão delicada na relação de ambos também foi discutida: a suposta responsabilidade dos tucanos mineiros nas derrotas de Serra quando disputou a Presidência da República. O próprio ex-governador de São Paulo teria rebatido essa avaliação, dizendo que sua derrota nada teve a ver com Minas e sim com outros fatores, como a situação econômica do país. Serra, no entanto, avisou a Aécio que não participará de sua palestra no diretório paulista, pois estará viajando.
Fonte: Valor Econômico
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