Divulgação do IPCA, hoje, pode levar Dilma e o BC a subirem os juros: o custo de vida resiste às ações do governo nos últimos anos.
Hora da verdade
Diante do estouro da meta de inflação, BC terá de explicitar para onde vão os juros
Rosana Hessel, Paulo Silva Pinto
Hoje é o dia D para a presidente Dilma Rousseff mudar — ou não — os rumos da política monetária. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga, às 9h, os dados de março do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial. A previsão dos analistas é de que o custo de vida acumulado em 12 meses tenha superado o teto da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 6,5%. Será a segunda vez, na atual administração, que a carestia ultrapassará o limite de tolerância. Em quatro das 11 capitais pesquisadas pelo IBGE, o indicador já havia saído do controle em fevereiro: Belém (8,75%), Fortaleza (8,31%), Recife (7,44%) e Salvador (7,05%).
O desconforto com os reajustes é enorme. Pelas contas do economista Delfim Netto, que, anteontem, almoçou com a presidente Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada, nos oito anos do governo Lula, a inflação média anual foi de 5,8%, para uma meta central de 4,5% perseguida pelo Banco Central. Na atual administração, o IPCA médio chega a 6,2% ao ano. Perante esse quadro, se nada for feito para levar o custo de vida a níveis mais civilizados, os empresários tenderão a olhar para trás a fim de aumentar os preços como forma de proteção. Com isso, a carestia vai se retroalimentar e o risco de sair do controle será enorme. Não se pode esquecer, segundo ele, que a memória inflacionária ainda é latente no país.
Na avaliação de Delfim, caso o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reunirá na próxima semana, avalie que há necessidade de aumentar a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 7,25% ao ano, não haverá motivo para queixas. Será, no entender dele, uma ação correta, uma vez que o arrocho tende a ser moderado, apenas para corrigir eventuais distorções. O mercado financeiro está dividido. Mesmo depois de o presidente do BC, Alexandre Tombini, alertar que está pronto para agir, parte dos analistas acredita em elevação da Selic neste mês, parte aposta em subida na reunião de maio.
Alimentos
O BC já indicou que não poderá mais aceitar a atual disseminação de reajustes. Dos 350 grupos de produtos e serviços acompanhados pelo IBGE, 75% apontaram correção em fevereiro. Como declarou o diretor de Política Econômica da instituição, Carlos Hamilton, o chamado índice de difusão deve ser de, no máximo, 60%. Mas não é só. Desde que o sistema de metas de inflação foi adotado no país, em 1999, em apenas quatro anos (2000, 2006, 2007 e 2009), o IPCA ficou abaixo do centro da meta. A tendência, segundo o BC, é de que, ao longo de todo o governo Dilma, a carestia fique acima de 5%.
Os economistas chamam ainda a atenção para o fato de o centro da meta inflacionária aqui ser muito superior ao que se observa nos países emergentes (3%) e nos desenvolvidos (2%). Ou seja, mesmo buscando um objetivo superior ao de seus parceiros, o Brasil não consegue alcançá-lo. É como se o alvo fosse ampliado e, mesmo assim, o governo não conseguisse atingi-lo, por ter uma pontaria ruim — no caso, políticas que estimulam mais o consumo do que os investimentos produtivos. A equipe econômica atribui a péssima pontaria a constantes choques de preços. O principal deles, o de alimentos.
Na avaliação dos especialistas, é verdade que a alimentação tem sido uma vilã incômoda. Mas, enquanto a comida encarece no Brasil, os preços estão em queda na maior parte do mundo. Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, no ano passado, houve um encarecimento da comida em todo o globo, sobretudo por causa da seca nos Estados Unidos. Mas, depois, os valores começaram a cair em vários países — menos aqui.
A disparidade, na avaliação de Leal, se explica basicamente pelo aumento de custo do frete, que subiu, em média, 50% neste ano no Brasil. “Isso aconteceu, em grande parte, pelo incremento da demanda, com a safra recorde de grãos que está sendo colhida, pelas duas altas nos preços do diesel e pelas novas regras de descanso para os caminhoneiros”, disse. O economista do ABC Brasil citou ainda a tendência de os varejistas repassarem aos consumidores os custos provenientes do aumento de salários de seus funcionários. “Eles podem fazer isso porque o consumo segue forte”, ponderou. Outro fator é o climático. Com excesso de chuvas no Paraná e em Goiás, as principais regiões produtoras de tomate, o fruto acumulou alta de 100% em um ano e se tornou símbolo da alta do custo de vida no país.
Diante desse quadro nada animador, o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, é taxativo: “É preciso que o Banco Central dê um sinal mais transparente de como será a condução da política monetária”.
Fonte: Correio Braziliense
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