Governador critica atuação da Abin no suposto monitoramento de sindicalistas pernambucanos
Maria Lima, Flávio Ilha
BRASÍLIA e PORTO ALEGRE - Líderes do PSB no Congresso começaram a reagir ontem ao que identificam como a formação de uma tropa de choque governista para atuar em várias frentes, com o objetivo de inviabilizar palanques em construção e esvaziar uma possível candidatura do presidente do partido e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à Presidência da República, em 2014. Além de uma caravana de ministros liderada por Ideli Salvatti (Relações Institucionais), que está viajando aos estados para propagandear os investimentos do governo - e, assim, agradar aos prefeitos -, o vice-presidente Michel Temer está comandando articulações para tirar do PSB possíveis candidatos a governador com potencial de ajudar Campos em estados estratégicos.
Há uma inquietação na cúpula do PSB com as gestões feitas por Temer para levar para o PMDB o empresário José Batista Júnior, bilionário sócio da holding J&F, que reúne o frigorífico JBS-Friboi, a empresa de celulose Eldorado e o Banco Original. Campos negocia com o empresário para que ele seja o candidato do PSB a governador de Goiás e lhe garanta um palanque forte no estado. Políticos goianos dizem que a família sempre resistiu, mas agora concordou que Júnior dispute o governo de Goiás, desde que não contrarie o ex-presidente Lula, responsável pela ida de Henrique Meireles para o comando da holding, que conseguiu financiamento de cerca de R$ 13 bilhões do BNDES.
Lula estaria por trás da articulação
Esta semana, Temer tem almoço com o casal Iris Rezende para pavimentar a ida de Júnior para o PMDB. Temer é o interlocutor, mas fontes do partido informam que Lula está por trás da articulação.
Por meio de sua assessoria, Eduardo Campos deixa claro que não desistiu de ter o empresário em sua base: "Os palanques estaduais do PSB de 2014 só estarão definidos em 2014, e serão competitivos ao ponto de manter o nosso partido como o único que cresce em todas eleições", diz a nota.
- Esta semana eu conversei com o Júnior e ele me falou do assédio que está sofrendo, mas não me disse que sairia do PSB. Preciso ouvir isso dele - reforçou o líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF).
Sobre a ação dos ministros, na semana passada Ideli e o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (Cidades), estiveram em Mato Grosso do Sul, onde Eduardo Campos negocia palanque com o PMDB do governador André Puccineli.
A próxima parada de Ideli é no Espírito Santo, governado por Renato Casagrande, do PSB. A Secretaria de Relações Institucionais já pediu ao governo do estado ajuda para divulgar o encontro com os prefeitos, quando Ideli irá orientá-los a ter acesso aos programas do governo federal.
- Ideli vem aqui falar dos investimentos do governo. Mas está tudo parado e ela não vai anunciar dinheiro novo - disse um interlocutor de Casagrande.
Em Porto Alegre, Eduardo Campos criticou a atuação da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) no episódio de monitoramento de sindicalistas pernambucanos contrários à medida provisória 595, conhecida como MP dos Portos. Documentos revelados ontem pelo "O Estado de São Paulo" confirmam que a agência espionou a movimentação de líderes sindicais do porto de Suape. A ordem teria partido do Palácio do Planalto.
- Todos sabemos da importância da Abin, mas não queremos vê-la se desvirtuando suas funções e invadindo um campo que não é próprio da democracia. Se, de fato, invadiu o direito sindical, é preocupante. Não quero crer que vá até aí. Seria uma grande decepção esse tipo de transgressão de um governo que nós apoiamos - afirmou Campos.
Os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) querem convocar o general José Elito, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para explicar a denúncia no Congresso. Ontem, o GSI divulgou nota em que diz que "não faz operações para vigiar movimentos sindicais ou sindicalistas".
Fonte: O Globo
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