A campanha da reeleição terá um assunto que, até agora, sempre entrou na disputa do voto apenas na sua porção propaganda: a educação. A abordagem que se pretende fazer no governo, daqui para o futuro, é diferente. A ideia é projetá-la para sensibilizar os que, com razão, veem no Prouni o que ele é, um programa de bolsa de estudo para estudantes pobres, e nos exames de avaliação dos graus de ensino um instrumento de formulação de políticas e identificação de deficiências. Quem dá ao assunto a importância merecida considera maçante esse tratamento de divindade a programas que não são um fim em si mesmos e, pela forma como são encarados, não atingem os objetivos para os quais existem, a qualidade da educação oferecida no Brasil.
A educação de qualidade ainda precisa ser uma meta porque resiste às realizações que os sucessivos governos acreditam ter levado a cabo. Os estudantes brasileiros continuam com dificuldades extremas para aprender matemática e ciências, sem que um método eficaz e uma formação adequada do professor para aplicá-lo tenham sido descobertos. Ainda é grande a rede de professores sem formação e os governos relutam em pagar a esses profissionais, os mais importantes no espectro das profissões existentes, os salários dignos. No ensino médio, a dificuldade extrema se concentra em física e química, o que fecha a equação: esta é a base que se precisa erguer para qualificar a educação. Desde que o mundo é mundo.
A presidente Dilma já definiu a educação como a área para ter sua atenção prioritária, no governo e, em consequência, na campanha da reeleição. Escolheu, e não abriu mão até agora apesar das disputas, para ser o único setor a ser contemplado com a riqueza do pré-sal. E prepara outras medidas, além das já em vigor, para enfrentar o intrincado problema da qualidade.
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Em um sistema que se apresenta no gabinete do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, a primeira grande prioridade é a creche, tratada não naquela forma superficial da primeira campanha, de 2010, mas como a peça importante e inicial de uma engrenagem. Estudos nos quais se baseia o governo para enfrentar a educação no início do período escolar mostram que a criança, quando chega aos seis ou sete anos, não consegue escrever o que não fala e, com uma família pouco letrada, que não domina vocabulários, assim continuará se não for estimulada. Na alfabetização, essa criança fica para trás: 15% das crianças no Brasil não aprendem a ler e a escrever até os oito anos de idade. Neste momento da nova educação, o governo pretende oferecer o Fundeb e mais 50% por criança às prefeituras para que a busquem e a alfabetizem até os oito anos de idade.
O segundo programa no conjunto da nova educação é o pacto nacional pela alfabetização na idade certa, que começou a ser implantada este ano. Todos os secretários de educação já aderiram e 95% dos municípios também. Mercadante esclarece que o governo federal está dando uma bolsa de R$ 200 por mês para 362 mil professores alfabetizadores, e 38 universidades trabalham nesse projeto, 15 mil monitores estão acompanhando a produção do material pedagógico produzido por essas universidades. As crianças serão avaliadas para que se possa comprovar se foram ou não alfabetizadas.
"É um dos projetos mais importantes desse conjunto, é isso que vai mudar a situação lá na frente. A criança que não aprendeu a ler e a escrever, em algum momento vai abandonar a escola. Gastamos R$ 9 bilhões só com repetência, pois tem que fazer de novo o que não fez bem feito", afirma o ministro.
O terceiro programa da nova Educação é a importante escola em tempo integral. A meta para 2014 era instalar 30 mil escolas com esse modelo, o que já foi feito em 2012. Agora, o objetivo dobrou para 60 mil. "São sete horas de atividade escolar, sendo que das três horas adicionais, pelo menos uma hora e meia destina-se ao reforço em matemática, português e ciências", informa Mercadante".
Desenvolver o ensino médio, calcanhar de aquiles de vários governos em vários mandatos, resistente a medidas e uma fase essencial para a formação do adolescente e adulto, é uma meta que integra o conjunto dos novos objetivos do governo na área onde o Ideb menos avançou.
"Primeiro estamos fazendo um programa com 25 Estados, que é a distribuição de tablets nas escolas. Os professores vão receber 600 mil tablets com todo o conteúdo pedagógico embarcado. Pela primeira vez o professor vai ter todos os livros didáticos em seu tablet em PDF. O professor recebe o tablet, o material pedagógico e um projetor digital por sala de aula que lhe permite criar um ambiente de internet para dar suporte ao ensino médio", comenta o ministro. Isso permitirá ampliar a pedagogia para matemática, física e química, áreas em que não há professor disponível hoje.
Ainda no ensino médio, o governo federal começa a discutir com os Estados uma adaptação dos currículos, com a constatação de que a grande maioria dos concluintes se dirige ao Enem e, por isso, as áreas estratégicas do ensino médio precisam ser redefinidas.
O quarto programa é a pós-graduação, são os projetos de pesquisa e o Ciência sem Fronteiras, que está colocando 100 mil alunos nas melhores universidades estrangeiras, dos quais 45 mil este ano. "Aumentou em 20% a demanda por cursos de línguas no brasil por causa do ciência sem fronteiras e fizemos um convênio com o melhor portal de inglês no mundo para distribuir 2 milhões de senhas, para fazer um curso interativo que reconhece voz, corrige pronúncia, o melhor curso que tem no mercado". São todas, sem exceção, medidas voltadas para a qualidade. Mercadante afirma que tudo, em educação, precisa dar um salto quântico, mas a seu ver são duas as questões chave para este momento: a valorização do professor com formação e salário, e a escola em tempo integral. Para isso é preciso...
"Chegamos ao royalties: por que têm que ir para a educação? Porque é uma riqueza não renovável. Teremos só durante um período. Qual vai ser o Brasil pós-petróleo? Tem que ser o Brasil preparado para a sociedade do conhecimento".
Fonte: Valor Econômico
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