Com terreno político cada vez mais reduzido, ex-governador de São Paulo se desvaloriza entre os tucanos e a situação dele se torna insustentável no partido
Paulo de Tarso Lyra
Na semana em que a Mobilização Democrática, possível destino de José Serra, foi criada, com a fusão do PPS e do PMN, a situação do tucano ficou ainda mais insustentável dentro do PSDB. Com o comando nacional ligado ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), sem candidatos na disputa pelo diretório estadual e derrotado no comando municipal por um assessor de um desafeto partidário (José Aníbal), o espaço político do ex-governador na legenda circunscreveu-se a praticamente nada. “Se ele quiser ficar no PSDB no papel de intelectual, tudo bem. Se ainda sonha fazer política, tem de arrumar as malas e partir”, disse um interlocutor serrista.
Serra sente-se cada vez menos confortável no partido. Publicamente, o atual comando partidário exalta a importância da permanência do tucano na legenda. Tanto Aécio quanto o ex-presidente Fernando Henrique mantêm um canal direto de diálogo com Serra (veja reportagem abaixo), na expectativa de que ele permaneça no partido para ajudar na construção da unidade paulista em torno da candidatura presidencial do ano que vem.
Mas o grau de influência de Serra está extremamente restrito. Os tucanos travam uma disputa sangrenta pelo comando do partido no estado, mas nem o deputado estadual Pedro Tobias nem o federal Duarte Nogueira são serristas. Ambos, inclusive, são muito mais próximos do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Mas a pá de cal foi a eleição de Milton Flávio para o diretório municipal paulistano.
Milton foi subsecretário de Energia do Estado, apadrinhado pelo atual secretário, José Aníbal, que nutre uma aversão figadal a Serra. O que mais incomoda aliados do ex-governador é que um grupo de correligionários foi ao gabinete do candidato apoiado por Serra, o vereador Andrea Matarazzo, apresentar uma lista de apoio a ele. Eles saíram do encontro e liberaram a militância para votar em Milton Flávio.
Há aproximadamente dois meses, dirigentes nacionais do PSDB afirmavam que a permanência de Serra no partido era mais importante para Alckmin do que para Aécio. O governador paulista dependeria do apoio do desafeto para encaminhar a própria reeleição ao governo estadual. Alckmin é extremamente forte no interior do Estado. Após a manobra para a eleição de Milton Flávio, serristas avaliam que o ex-governador tornou-se descartável na capital.
Alguns dos principais aliados de Serra dificilmente seguirão o mesmo caminho. “Eu tenho uma realidade específica no meu estado que me impede de deixar o PSDB”, disse ao Correio o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA).
O senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) já demonstrou disposição em apoiar Aécio Neves e recentemente foi eleito líder do partido no Senado.
O poder de influência de Serra na Mobilização Democrática também é incerto. O deputado Roberto Freire (SP) pretende apoiar Eduardo Campos (PSB). Outros setores da MD defendem candidatura própria ou apoio a Aécio. “Serra pode candidatar-se ao Senado ou ajudar na elaboração do programa de campanha do PSB. De qualquer maneira, o tratamento será melhor do que o dispensado atualmente pelo PSDB”, reclamou um serrista empedernido.
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário