A economia brasileira teve crescimento de 0,6% no primeiro trimestre, muito abaixo das previsões. A indústria decepcionou, com recuo de 0,3%, investimentos não decolaram e o consumo das famílias deu novo sinal de desaceleração, com a inflação corroendo a renda do trabalhador. Apesar desse resultado pífio, a diretoria do BC, por unanimidade, subiu os juros em 0,5 ponto, para 8% ao ano, num claro sinal de que a inflação em alta já preocupa mais do que o PIB fraco
Economia não decola
PIB cresce só 0,6% no 1º tri, no piso das projeções. Analistas já veem alta de apenas 2% este ano
Henrique Gomes Batista, Clarice Spitz e Renata Cabral
Mais uma vez o resultado da economia brasileira frustrou governo, empresários e mercado financeiro. O Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) medido pelo IBGE cresceu apenas 0,6% no primeiro trimestre de 2013, em relação aos últimos três meses de 2012 (já descontados efeitos sazonais), no piso das estimativas de analistas e abaixo da previsão oficial, de alta de 0,9% a 1%. A taxa de 0,6% é exatamente a mesma do quarto trimestre do ano passado, indicando que não ocorreu, até o momento, a esperada aceleração do crescimento. Nos últimos 12 meses, o PIB cresceu só 1,2%. E, frente ao primeiro trimestre do ano passado, a expansão da economia foi de 1,9%.
Após a divulgação do PIB do primeiro trimestre, analistas do mercado reduziram suas projeções para o resultado fechado do ano e já há quem estime uma expansão de só 2% em 2013, dado que será conhecido em março do ano que vem, ou seja, às vésperas das eleições presidenciais.
Em valores, o PIB somou R$ 1,11 trilhão. Além de ter crescido pouco, o PIB teve uma composição ruim no primeiro trimestre.
Sem agro, alta seria de só 0,2%
Se não fosse a forte expansão da agropecuária, que avançou 9,7%, o PIB teria crescido só 0,2% no primeiro trimestre. A indústria caiu 0,3%, devido sobretudo à piora na extrativa mineral.
A alta de 9,7% na agropecuária foi a maior desde o segundo trimestre de 1998. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o setor avançou 17%. Além das safras recordes de soja e milho, o resultado foi influenciado pela fraca base de comparação.
- Tivemos um ganho de produtividade frente a 2012, graças a um clima mais favorável. A partir de agora, os ganhos serão menores - afirmou Lucilio Alves, professor da Esalq/USP.
Até mesmo os segmentos que vinham sustentando a alta do PIB decepcionaram. O setor de serviços cresceu apenas 0,5%, com quase todas suas atividades com resultados mornos.
Pelo lado da demanda, o consumo das famílias, que até então era o motor da economia, teve uma alta de apenas 0,1%, ou seja, viveu um quadro estagnação em relação ao fim do ano passado.
- O governo está retornando algumas alíquotas de IPI que haviam sido reduzidas, a inflação aumentou e isso corroeu os salários reais. Além disso, o crédito também desacelerou. Isso desestimulou o consumo das famílias - disse Rebeca de Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE.
Os investimentos deixaram para trás quatro trimestres seguidos de quedas e subiram 3% nos três primeiros meses do ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Em relação ao trimestre anterior, o avanço foi de 4,6%.
Para Rebeca de Palis, o resultado do PIB mostrou uma mudança de perfil: investimentos crescendo mais que o consumo das famílias. Mas, para Cristina Mendonça de Barros, sócia da MB Associados, ainda é prematuro para se falar em um novo parâmetro do crescimento brasileiro:
- O investimento foi positivo, mas daí a dizer que ele foi retomado é algo que ainda precisamos ver. Temos um ambiente regulatório incerto e dúvidas sobre a competitividade nacional.
A economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, cita o setor externo como um vilão. Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, as exportações caíram 5,7%, enquanto as importações cresceram 7,4%. Ou seja, o setor externo teve contribuição negativa para o PIB - sem isto, a economia teria avançado 3,6% frente ao mesmo período de 2012, em vez de 1,9%.
Com o fraco resultado da balança comercial, a necessidade de financiamento externo do Brasil mais do que dobrou - passou de R$ 25,86 bilhões no primeiro trimestre de 2012 para R$ 55,41 bilhões agora.
- Demanda externa mais fraca, preços de matérias-primas mais baixos e câmbio parado fazem com que a perspectiva não seja boa. Se acentuar (o déficit na balança), vai haver um problema para o crescimento ou o governo vai ter de deixar o câmbio se desvalorizar, e aí existe um problema de inflação - disse Monica.
Para Armando Castelar, da FGV, será muito difícil o país crescer no ritmo de 3% projetado pelo governo para este ano:
- Para isso, os outros três trimestres precisam crescer 1,15%, ou seja, o dobro da velocidade dos três primeiros meses do ano, o que é muito improvável.
Fonte: O Globo
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