Em nota, o Planalto negou que vá demitir o presidente da Caixa, Jorge Hereda, em meio às críticas à atuação da instituição no boato sobre o fim do Bolsa Família. A PF diz que não descartou nenhuma linha de investigação
Bolsa Família: Planalto nega demissão do presidente da Caixa
Baiano Jorge Hereda teve de pedir desculpas por erro da instituição após boatos sobre o fim do programa
Catarina Alencastro, Luiza Damé e Gabriela Valente
Sob pressão. Jorge Hereda, presidente da Caixa, que admitiu erro operacional; e o Planalto negou a demissão dele
BRASÍLIA - Em meio às críticas sobre a atuação da Caixa Econômica Federal no caso do boato sobre o fim do Bolsa Família, o Palácio do Planalto saiu em defesa ontem do presidente da instituição, Jorge Hereda. Em nota, a Presidência da República negou que Hereda vá ser demitido. Segundo o Planalto, não são verdadeiras as especulações sobre a saída do dirigente devido à corrida de beneficiários do Bolsa Família às agências da Caixa há cerca de dez dias por conta de falsa notícia de mudanças no pagamento do benefício.
"São falsas as especulações de mudanças na direção da Caixa Econômica Federal. A diretoria é formada por técnicos íntegros e comprometidos com as diretrizes da CEF, com seus clientes e com os beneficiários de programas tão importantes para o Brasil como Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida", diz a nota da Secretaria de Comunicação Social da Presidência.
Boatos sobre o fim do principal programa social do governo começaram a circular no sábado dia 18 e provocaram congestionamento nas agências da Caixa em 13 estados. Só naquele fim de semana foram feitos cerca de 900 mil saques, num total de R$ 152 milhões. Durante viagem à Etiópia no último sábado, a presidente Dilma Rousseff admitiu que o programa pode ter falhas e disse que o governo vai investigar o que aconteceu. Dilma afirmou que, a partir de agora, a possibilidade de novas corridas às agências será cogitada e prevenida.
No início da semana, Hereda veio a público para assumir o erro da Caixa. Segundo ele, a "área operacional" da instituição havia decidido antecipar o pagamento de beneficiários do Bolsa Família em todo o país a partir de 17 de maio. Antes, portanto, do boato do dia 18.
Mas a antecipação não fora noticiada. Inicialmente, a Caixa informou que os pagamentos antecipados só tinham sido autorizados por conta do corre-corre aos terminais eletrônicos de saque. O Ministério de Desenvolvimento Social não dá esclarecimentos sobre o caso. A ministra Tereza Campello está em férias. Desde anteontem, a Caixa também se recusa a dar mais esclarecimentos sobre o episódio. O GLOBO enviou pedido de informações sobre qual setor autorizou a antecipação dos pagamentos e quem deu autorização para a medida. Mas não houve resposta.
O arquiteto baiano Jorge Hereda está no governo desde 2003. Foi secretário de Habitação do Ministério das Cidades, vice-presidente de Governo da Caixa e, em março de 2011, assumiu a presidência da instituição. Hereda chegou ao Ministério das Cidades quando o titular era o gaúcho Olívio Dutra, indicado pelo PT de São Paulo. Hereda foi secretário de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo e é considerado um nome da ex-prefeita, atual ministra da Cultura.
Hereda se acostumou a enfrentar turbulências. Chegou à presidência da Caixa depois de Maria Fernanda Coelho deixar o cargo, desgastada após a compra do banco PanAmericano. Quando Hereda foi alçado à presidência, José Urbano Duarte, técnico de carreira do banco, assumiu seu lugar na vice-presidência de Governo. A mudança ainda serviu para acomodar o PMDB no banco. Foi destinada uma vice-presidência para o baiano Geddel Vieira Lima.
Hereda é especialista em habitação
O perfil de Hereda se encaixava nos planos do governo de turbinar ainda mais o principal programa habitacional do país, o Minha Casa Minha Vida. Hereda nasceu em Salvador, é graduado em arquitetura pela Universidade Federal da Bahia e fez mestrado em arquitetura e urbanismo na USP. É visto pela própria equipe como um chefe apaixonado pelo tema habitação e também um "workaholic".
Aguentar uma alta carga de horas de trabalho foi fundamental, de acordo com colaboradores, quando a presidente Dilma Rousseff encomendou aos bancos públicos que liderassem uma forte concorrência e derrubassem as taxas de juros aos consumidores. Por não ter capital aberto, não ter acionistas e, consequentemente, não sofrer a pressão para dar lucro, a Caixa foi o banco mais audacioso no corte das taxas, no programa Melhor Crédito.
Entre os assessores, há uma brincadeira para definir Hereda: às vezes, ele é baiano, outras vezes nem tanto. O humor, segundo os mais próximos, varia bastante. Principalmente quando está no meio de turbilhão de notícias negativas. Foi o que aconteceu há dois meses, quando surgiram notícias de casas defeituosas no Minha Casa Minha Vida. Em entrevista ao GLOBO, Hereda prometeu "radicalizar" com as construtoras para que o mutuário não fique no prejuízo.
Rapidamente, anunciou medidas como a criação de um 0800 para receber reclamações e de um cadastro negativo em que as empreiteiras constantes dele estariam proibidas de fechar qualquer negócio que envolvesse a Caixa. O governo usou a força do banco para tentar aplacar as notícias de casas prestes a desabar mesmo antes da entrega para o mutuário. O banco é responsável por 70% do financiamento habitacional, logo, é interesse das construtoras não entrarem nessa na lista negra.
Depois de O GLOBO mostrar que um grupo de ex-servidores do Ministério das Cidades montou várias empresas de fachada para fraudar o programa habitacional, o governo encomendou a Hereda uma avaliação para que a Caixa assuma toda o repasse de recursos e coordenação do programa no país inteiro. A mudança ainda está em estudo. Até agora, nas cidades com menos de 50 mil habitantes, os repasses podem ser feitos por bancos menores.
Fonte: O Globo
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