Governo destaca melhora dos investimentos e descarta novas medidas de estímulo ao consumo
Givaldo Barbosa
RIO, BRASÍLIA E SÃO PAULO - O fraco desempenho do PIB decepcionou o mercado, e analistas já começaram a rever para baixo o crescimento da economia neste ano. As novas projeções indicam, de acordo com a maioria dos economistas ouvidos pelo GLOBO, uma expansão da ordem de 2% a 2,6%. Mesmo quem ainda não refez as contas, já admite que a projeção será menor após a revisão.
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, projetava alta de 1% para o PIB no trimestre. Após a divulgação do resultado, reduziu a projeção de crescimento para 2013 de 2,9% para 2,5%. Mas avalia que há chance de uma expansão com fôlego ainda menor, entre 2% e 2,5%.
- Esperávamos alta entre 2% e 3% no consumo das famílias e erramos. Elas devem continuar consumindo no mesmo patamar deste início de ano.
Para Daniel Cunha, economista da XP Investimentos, o resultado incomoda porque as estatísticas baixas persistem há um ano e meio. O contexto se mostra cada vez mais negativo para o consumo, dada a inflação e a inadimplência. Além disso, a revisão é necessária diante da percepção de que a indústria não vai conseguir reagir sem que haja investimentos maciços em quase todos os setores.
- A expectativa pela retomada era alta, mas os dados desta quarta-feira mostraram que há alguns heróis, como a agricultura, e muitos vilões, com a indústria. Para o segundo trimestre, baixamos a previsão de 0,6% para 0,5%. Para o PIB de 2013, a expectativa era de 3% e revisamos para 2,6%.
Se a atividade permanecer, em média, em 0,6% em todos os trimestres, o PIB de 2013 fechará em 2,6%, abaixo dos 3,5% projetados pelo governo.
Fernando Fix, economista-chefe da Votorantim Wealth Management, esperava alta de 0,9% no primeiro trimestre e 0,6% para o segundo. Mas, diz, o crescimento dependerá do consumo. Para o ano, a previsão inicial de 2,9% será "sem dúvida revisada".
- O segundo trimestre ficará perto do nível do primeiro. Se o consumo acelerar, o avanço será superior a 0,6%. Caso contrário, será menor que 0,6%.
Mantega atribui resultado ao cenário externo
De acordo com o economista, a inflação afetou o poder de compra das famílias. Por isso, a alta nos preços proporcionará reajustes salariais mais altos, como já acontece com a construção civil.
- O aumento de salários afeta a competitividade da indústria. Setores que sofrem concorrência com importados sofrem mais. Por isso, a indústria teve um resultado ruim, e é essencial que o governo incentive investimentos a médio e longo prazos.
Diante do fraco desempenho do PIB, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que o governo terá que rever para baixo a projeção oficial para o ano, de 3,5%. Nos bastidores, já se trabalha com algo em torno de 3%. Ele disse que este ano será melhor que 2012, pois os investimentos começaram a reagir aos estímulos, mas descartou novos incentivos ao consumo, para evitar mais pressões inflacionárias.
- O consumo tem de se recuperar a partir do dinamismo dos investimentos e os estímulos ao investimento estão todos em cima da mesa. O consumo não será o carro-chefe do crescimento. Queremos que seja o investimento.
O ministro atribuiu o resultado do PIB ao cenário externo, que prejudicou as exportações de manufatura6dos, e lembrou que o resto do mundo continua crescendo pouco, o que reduz a demanda por produtos brasileiros. A exceção, diz, são alimentos.
- Para a agricultura, não existe crise.
Ele frisou que os indicadores do segundo trimestre, especialmente os de investimentos, mostram um cenário positivo. Para Mantega, o consumo deve crescer, mas em ritmo menor que em 2012.
- A a qualidade do crescimento é melhor porque conseguimos despertar o investimento.
Perguntado sobre a reação da presidente Dilma Rousseff aos números do IBGE, afirmou:
- A presidente ficou muito satisfeita com o resultado do investimento.
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, reagiu com otimismo às notícias.
- Temos a confirmação de que o crescimento está em curso. A economia está crescendo ao ritmo de 2,2% (ao ano), mesmo do último trimestre do ano passado, mas com uma diferença qualitativa positiva, de que os investimentos estão em ascensão. Isso significa um crescimento mais saudável.
Para ele, o avanço de 4,6% dos investimentos frente ao trimestre anterior confirma a recuperação, assim como a evolução dos desembolsos do BNDES para operações de crédito.
Fonte: O Globo
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