O PSDB está no poder em São Paulo há 18 anos, mas isso não significa muita coisa para o projeto presidencial do senador mineiro Àecio Neves. No maior colégio eleitoral do País, os dois principais quadros do partido, o governador Geraldo Alckmin e o -ex-governador José Serra, são seus adversários históricos do mineiro na luta interna. Essa relação, que nunca foi boa, deteriorou-se ainda mais depois que o caso Siemens veio à tona. Os paulistas se ressentem pelo fato de Aécio não ter usado o cargo de presidente do PSDB para engajar o partido na defesa de suas gestões, que são acusadas de conivência com um esquema de cartel em licitações do Metrô paulista,
Para superar essa resistência, Aécio "invadiu" o Estado, aproximou-se de dirigentes locais e construiu uma estrutura paralela à máquina partidária para viabilizar sua campanha em 2014,
A fim de costurar uma rede de aliados que inclui até os mais leais amigos de Alckmin e Serra, o senador usou sua influência para abrir espaços no Congresso e na direção da legenda. Amigo íntimo de Serra e um dos principais expoentes de seu grupo político, o senador Aloysio Nunes Ferreira ficou surpreso ao receber de Aécio, em j aneiro, um convite para ser o líder do PSDB no Senado. "Precisa falar com o Cássio (Cunha Lima, senador da Paraíba)", disse ele.
O colega já tinha feito isso. Antes dessa articulação, o senador nordestino era o nome de consenso da bancada. Pela tradição de rodízio regional e por motivos estratégicos, a saída de Álvaro Dias, do Paraná, fazia a fila andar para a vez do Nordeste, região considerada reduto petista. Aécio tratou de convencer Cássio e os tucanos nordestinos de que era preciso fazer um gesto concreto de aproximação aos paulistas da ala "serrista".
Depois de assumir a presidência do PSDB em maio, o ex-governador mineiro fez outro gesto de aproximação ao ventilar a tese de que Aloysio era o nome mais cotado para ocupar o posto de vice em sua chapa presidencial. O paulista negou que tivesse essa ambição, mas ficou lisonjeado com a iniciativa.
"Formamos uma boa dobradinhano Senado", diz Aécio. A dupla se fala longamente todas às segundas-feiras para afinar a agenda da semana no Congresso e discutir conjuntura. Quando Serra começou a se movimentar politicamente depois : das manifestações de junho e a insinuar que poderia disputar à presidência fora do PSDB, Aloysio deixou claro que não cogitava embarcar no projeto.
Redutos. Com o deputado federal Carlos Sampaio, líder do PSDB na Câmara, o processo foi parecido. Depois do paulista Duarte Nogueira, chegara a vez de um mineiro assumir o co: mando da bancada. Novamente Aécio interveio. "Não tenho dúvida de que a bancada paulista do PSDB apoia Aécio (para a Presidência), Ele tem carisma e muita capacidade de agregar", elogia Sampaio, Principal líder tucano na região de Campinas, o deputado passou a construir pontes com prefeitos paulistas e a organizar eventos com Aécio. "Nos falamos duas ou três vezes por semana", relata Sampaio, que já ajudou o senador a ser aceito em redutos antes impenetráveis.
"Independentemente da máquina estatal, o Aécio tem hoje ampla rede de apoios entre prefeitos e vereadores em cidades menores", diz o aliado paulista, Foi o líder do PSDB na Câmara quem aproximou o senador de um importante aliado: o prefeito de Botucatu, João Ciiry. No "front" aecista de São Paulo, ele assumiu a missão de coordenar a ação nas pequenas cidades. Recentemente e organizou um encontro entre Aécio e 20 prefeitos.
Membro do "núcleo duro" de Alckmin, o presidente do PSDB paulista, Duarte Nogueira, também se converteu ao "aecismo". Ele conta que chegou a ser convidado pelo senador para assumir a Secretaria-Geral do partido, mas não o fez porque foi eleito presidente estadual, "Meu papel é ser o interlocutor do Aécio com. os tucanos paulistas", diz Nogueira, Ele também tornou-se o intermediário entre Serra e o comando nacional da sigla. Um tucano de peso, com trânsito entre em a senis-tas" e "alckmistas" reconhece: "Duarte assumiu o papel de conciliador entre as diferentes aspirações do partido".
Aproximação* O processo de aproximação de Aécio com os paulistas começou em 2010. Poucos dias depois da derrota de Serra para Dil.rna Rousseff, Aécio foi convidado para um jantar na casa de FHG. Na ocasião, o ex-presidente defendeu que ele assumisse o comando do partido já no ano seguinte para ter visibilidade e rodar o País sem ser questionado. Aécio ponderou que era cedo. Em 2011, FHC assumiu o papel de articulador, para pavimentar o caminho de Aécio, Gs dois passaram a se encontrar frequentemente, Nessa nova fase, FHC viu seu legado voltar ao centro do discurso tucano. Não por acaso, foi em seu apartamento em Higienópolis que foi selada em dezembro a candidatura de Aécio, em jantar do qual participaram Alckmin, Sérgio Guerra e Tasso Jereissati
Fonte: O Estado de S. Paulo
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