Por Vandson Lima
SÃO PAULO - Tucano declarado, José Honório de Tofoli, presidente da Moinhos Anaconda, melhor empresa do setor de alimentos de acordo com o anuário "Valor 1000", não leva fé na candidatura do senador Aécio Neves (MG). "Não acho que tenha chances nem que esteja preparado para o cargo". José Serra então, nem pensar. "Ah, não. Serra morreu e esqueceram de enterrar".
Assim como Tofoli, empresários que dirigem algumas das maiores empresas do país - e que estiveram presentes à premiação - se dizem pouco satisfeitos com o governo Dilma Rousseff. A elevação da taxa de câmbio, dizem, é apenas o problema do dia, e apontam a falta de um rol de ações norteadoras como o verdadeiro entrave ao crescimento. Em sua maioria, desdenham da candidatura da ex-senadora Marina Silva (AC), bem como da postulação senador mineiro. Enxergam no governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o homem certo para ocupar o Planalto nos próximos anos, em que pese seus 8% no Datafolha.
Uma das empresas que lidera a produção de farinha de trigo no país, a Anaconda doou R$ 100 mil ao PSDB nas eleições de 2010, ano em que suas receitas subiram 8% e os custos caíram 3,6%, angariando margem de 16% de lucro, considerada alta no setor. Mas a demanda esfriou em 2011, as receitas ficaram estáveis e os custos subiram 1,6%. Como consequência, o lucro caiu 5,2%. A recuperação de receita em 2012, com alta de 7,1%, foi superada pelos custos, que subiram 11,1%. A margem de lucro caiu de 16% em 2010 para 15,2% no ano passado, o que leva Tofoli a culpar o governo pelo cenário pouco propício a investimentos: "Não há decisões firmes na área econômica. Temos que pensar o tempo todo se investimos ou não".
Tofoli admite que programas de distribuição de renda aumentaram o consumo geral, mas não vê nas ações do governo fator decisivo para o bom desempenho de sua empresa. Na seara política, diz, sobre a segunda colocada nas pesquisas: "Não tenho a menor boa vontade com a Marina. Não a vejo como administradora, não vai conseguir lidar com o Congresso". Já Campos lhe arranca um sorriso. "Tenho enorme simpatia pelo Eduardo. Companheiros de setor falam muito bem dele. É alguém que quer ajudar o empresariado, trabalhar junto, dialogar. Mas estou aguardando para ver sua plataforma de governo", diz.
Diretor-superintendente do grupo sucroalcooleiro Santa Terezinha, Ágide Meneguete é outro que se encantou com a conversa de Campos. "Fui para uma audiência de 15 minutos e acabamos conversando por quase duas horas", conta, sobre um encontro recente no Recife. "A visão econômica dele me impressionou. Precisamos de facilitadores e ele está disposto a ser essa pessoa", atesta.
Campos já agendou uma visita à sede da empresa, no Paraná, para a última semana de novembro, a fim de retomar a conversa e travar contato com outros empresários da região. O balanço da holding explica a insatisfação de Meneguete, já que os lucros da Santa Terezinha, de R$ 269,1 milhões em 2011, desabaram pela metade no ano passado.
Conterrâneo do presidenciável, Edson Viana Moura, presidente da Baterias Moura, não esconde a preferência. "Eduardo dá de 10 a zero em Aécio e todos os outros. É político de mão cheia, trabalha 24 horas por dia, cumpre o que promete e tem equipe. Seu secretariado tem nível de empresa privada". A empresa doou R$ 200 mil à vitoriosa campanha de Campos em 2010.
Sob a condição do anonimato, outros empresários que estiveram com Campos nos últimos meses se disseram impressionados com sua desenvoltura em se mostrar um candidato pronto para atender as demandas do empresariado.
Para Cícero Dalla Vecchia, diretor das Lojas Cem, "depois do Plano Real, não houve um projeto integrado para pensar o desenvolvimento do país", alega. "Não dá mais para dar isenção para carro sem ter estrada para rodar. O PT está no governo há 10 anos, teve tempo para pensar em ações articuladas". Na contramão de seus pares, Dalla Vecchia acredita que, por não estar amarrada a estruturas partidárias tradicionais, Marina pode "simbolizar o novo e ter facilidade para promover as mudanças necessárias", avalia. "Aécio e Campos serão algo parecido com o que temos hoje".
Membro do Conselho de Administração da Votorantim, Claudio Ermírio de Moraes diz que "falta à oposição apresentar uma proposta ao país". O combate à inflação, avalia, deve estar no centro das preocupações do governo. "É melhor trabalhar em um ambiente com juro alto do que com inflação", diz.
Segurança jurídica para além do calendário eleitoral é o que cobra Tadeu Carneiro, presidente da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM). "É preciso que exista um plano diretor robusto para o país, que seja de longo prazo e que possa ser implementado independentemente dos mandatos dos dirigentes políticos".
Presidente de uma das maiores empresas de construção de shopping centers do país, José Isaac Peres, da Multiplan, avalia que o cenário é difícil, mas não inibe investimentos. "O momento é de turbulência e ajuste, mas nossas instituições são sólidas". Ele demonstra, na mesma medida, simpatia por Aécio e Eduardo Campos, "pois foram bons governadores". Assim como Peres, Antônio Carlos Marinho, presidente da mineradora Kinross, não vê problemas em uma eventual eleição de Marina Silva, que em tese aumentaria a rigidez de medidas de proteção ambiental. "Somos uma empresa sustentável, fizemos a lição de casa".
Os presidentes da Whirlpool (eletrodomésticos), João Carlos Brega, da Atlas Schindler (elevadores), Andre Inserra e da regional Latina da Level 3 (telecomunicações), Hector Alonso, concordaram que o país possui um ambiente democrático e institucional consolidado, não sendo a hora de recuar no plano de investimentos de longo prazo.
(Colaboraram Natalia Viri, Felipe Marques, Olivia Alonso, Letícia Arcoverde e João José Oliveira)
Fonte: Valor Econômico
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