Integrantes da cúpula do PT que privam dos gabinetes em que circula a presidente Dilma Rousseff têm uma opinião a respeito de quem é, na verdade, seu real adversário na disputa presidencial: o governador pernambucano Eduardo Campos, por tudo - postura política, comportamento, pensamento, palavras e obras -, é quem incomoda mais. Apesar do discurso de que a candidata que ameaça Dilma é Marina Silva, pelo óbvio segundo lugar nas pesquisas de opinião e o potencial de transformar-se na opção de quem não quer o PT nem o PSDB, acham difícil que se torne provável.
Há a questão da criação do partido, pois a Rede está com sua tramitação muito mais atrasada do que estava o PSD, sua referência, à mesma época. Uma vez registrado o partido, considera-se que muito há ainda que acontecer. Não basta esta espécie de carta aos brasileiros dos economistas que apoiam a candidata para dar segurança de que o governo Marina não será prejudicado pelos dois fundamentalismos que se atribui aos seus alicerces, o religioso e o ambientalista.
Se atravessar a tormenta da criação do partido, ou à última hora filiar-se a uma legenda ainda sem candidato, Marina Silva terá uma campanha dura pela frente para convencer a todos que não será pautada por princípios radicais, até porque faz questão, bem como seu staff, de expor seus compromissos inabaláveis.
"Estou cansado de falar com ela, ela não faz" (Lula)
A candidatura Eduardo Campos é outra história, avaliam os articuladores da candidatura Dilma. Têm tratado o governador de Pernambuco com tanta cautela que seu interlocutor é somente o próprio ex-presidente Lula, chefe político maior da campanha da reeleição. Foi a situação do governador que, apesar de lanterninha nas pesquisas de intenção de voto, acionou os mecanismos de defesa do PT.
Primeiro, notaram que perdiam terreno quando confrontaram-se depoimentos de empresários que com ele estiveram e já havia se reunido com Dilma nos últimos tempos. Um deles, sob condição de anonimato, pois a presidente enfrenta mal a discordância, conta que são convidados a ir ao Palácio para serem ouvidos. Lá chegando a presidente fala por quarenta minutos, discurso que encerra com uma pergunta: "você não acha?". Para ficar livre da pecha de avessa ao diálogo, a presidente faz longos monólogos, o que levou um desses empresários a concluir: "desde Fernando Collor não tínhamos um interlocutor tão opressivo".
Eduardo Campos aparece pouco, faz o discurso de que não é hora de campanha, recolhe-se mas faz política o tempo todo.
A Dilma falta, sobretudo, a política, é o que avalia o PT. Rui Falcão, o presidente do partido, fala com ela sobre as opiniões dos petistas, mas não está na operação diária. Ela escolheu Aluizio Mercadante, Ideli Salvati e João Santana para fazerem política. "O governo virou um governo gerencial, vai bem com ela quem melhor gerencia sua pasta, não é a política que aproxima", diz um dos participantes das avaliações do momento político.
No seu último encontro, a cúpula do PT chegou a uma síntese das providências necessárias para criar uma aura de segurança à candidatura: "Achamos que vamos ganhar, mas se não colocar política no governo, não vai dar".
Nessa avaliação, a presidente estaria agindo por soluços. Quando se vê em apuros, recebe empresários, trabalhadores, sem-terra, líderes políticos, deputados e senadores e, aparentemente, negocia. Mas nada cede. Passada a tormenta, esquece.
O presidente Lula teve uma conversa dura com a presidente no sentido de tentar mudar seu comportamento e colocar política no governo, como define a síntese do partido. Tinha que sair da clausura palaciana, retomar a campanha eleitoral nos Estados, negociar com o Congresso, sentir-se liberada a reorganizar o governo. Lula garantiu-lhe que não é candidato como a pressão de petistas pode fazer crer. Nesta intervenção, Lula fez outros aconselhamentos. Por exemplo, determinou a alguns integrantes do primeiro e segundo escalões do governo que não se candidatem, para não haver um esvaziamento e tudo começar do zero com os novos ministros e secretários executivos que vierem a assumir com a desincompatibilização. Alguns não gostaram, mas todos devem atender ao ex-presidente.
Parte das recomendações de Lula a presidente seguiu. Está, por exemplo, em campanha aberta pelos Estados. No entanto, a outras não deu atenção. Por exemplo, reitera o PT, não impregnou seu governo de política.
Dilma não acatou também a recomendação, feita por instância do PT, de não participar de agenda com o governo de São Paulo. "Com Alckmin é briga", diz um dos integrantes da cúpula. O investimento eleitoral em São Paulo é integralmente no ministro Alexandre Padilha. Outro erro apontado a ela, que persiste, é que não adianta liberar dinheiro vivo, na veia, se a verba não é acompanhada da política. Prova disso teria sido a vaia que levou na reunião de prefeitos aos quais acabara de anunciar a liberação de R$ 3 bilhões.
"É para enfrentar Eduardo Campos que Dilma tem que mudar. Quem mais nos assusta é ele, que tem estrutura partidária, é da política e não está errando. Já conseguiu deslocar para seu lado, apenas por simpatia, por enquanto, setores insatisfeitos da base do governo e do PSDB", avaliam líderes petistas.
Por volta de fim de abril e início de maio, o ex-presidente Lula falou com a presidente Dilma sobre tudo isso. Não deu certo, constatou a análise feita no mês seguinte quando já explodiam os protestos populares. Na ocasião a abordagem foi entendida como um sinal de que o ex-presidente poderia voltar já em 2014 se as coisas continuassem a dar errado. O PT inteiro foi ao QG lulista para apelar ao ex-presidente, que foi taxativo: "Estou cansado de falar com ela, ela não faz".
Voltou a falar em fim de julho e início de agosto, quando, ao voltar de viagem ao exterior, ela o procurou para finalmente pedir sua opinião sobre as manifestações e apelou a Lula a ajudá-la a recuperar o governo e a ser reeleita. A partir daí o ex-presidente não só traçou a estratégia que ela procura agora cumprir, como tomou a iniciativa de enviar ao comitê da reeleição cabeças mais políticas. Lula anunciou-se, ao PT inclusive, absolutamente comprometido com a reeleição dela.
Um balanço parcial do PT, neste momento: Dilma está reagindo, investiu no programa de importação de médicos como marca do seu governo, tem recebido políticos. Mas até onde a vista alcança o PT ainda não viu a chegada da política ao terceiro governo do partido.
Fonte: Valor Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário