Há tempos o governo não vive um período tão difícil no Congresso Nacional. E os riscos à governabilidade estão diretamente relacionados às dificuldades de relacionamento entre PT e PMDB
Há tempos os parlamentares que torcem sinceramente pelo sucesso do governo não se mostram tão desconfortáveis no dia-a-dia do Congresso Nacional. Isso porque, por mais que se diga que a presidente Dilma Rousseff tenha uma grande base, esse volume de mais de 380 votos existe apenas no papel. Ela está forçada a negociar ponto por ponto. Artigo por artigo. Veto por veto. Ninguém se diz disposto a “matar no peito” sequer uma proposta da série em pauta nas duas casas, o que deixa o Planalto numa situação difícil, com sérios riscos à chamada governabilidade. E na raiz dos problemas, a relação com o PMDB, cada vez mais difícil e sem alternativas que permitam prescindir dela.
Na Câmara, nada passa sem o aval do líder do PMDB, Eduardo Cunha, cada vez mais querido dentro da sua bancada que, aliás, extrapola os limites do próprio partido. No Senado, os petistas sentem seu aliado fluido e escorregadio, capaz de escapar ao menor sinal de desgosto com o andar das alianças estaduais. Renan Calheiros, o comandante da Casa, sob a justificativa de cuidar da própria pele e da imagem da Casa, deixa aos petistas e ao governo o ônus sobre todas as coisas. (Ao ponto de deixar muitos no PT com saudade dos tempos de José Sarney).
Nos bastidores, os petistas atribuem a Renan a situação do governo de estar agora com problemas em relação ao Fundo de Participação dos Estados (FPE) e ao veto que, se derrubado, pode representar R$ 42 bilhões a menos no caixa da União. Tudo por causa das desonerações de impostos e o risco de incidir somente em contribuições exclusivas da União. Sob a ótica dos petistas, é Renan quem faz a pauta e coloca na agenda projetos que ainda não estavam com a negociação fechada.
Esse quadro antes era fruto apenas da ansiedade do PMDB em ver o latifúndio dividido de forma igualitária entre os dois partidos e se agravou quando a presidente viu declinar seus pontos nas pesquisas. Agora, entrou a questão dos palanques estaduais. Na reunião com o PT na noite de segunda-feira, os peemedebistas deixaram claro que desejam apoio em vários estados, inclusive no Rio de Janeiro, que o PT não parece disposto a ceder. Isso transforma o PT que ora blefa, ora aposta contra o Poder Executivo que ajuda a sustentar.
No caso do orçamento impositivo foi aposta, mas nos demais casos, como a questão dos vetos, o governo considera que há muito blefe. Mas são tantos que deixam os governistas sinceros zonzos. Um deles me dizia ontem que o governo saiu das cordas, mas ainda está meio desnorteado com o aliado. E o problema é que, até aqui, não há saída senão viver a cada dia a sua aflição, o que requer uma habilidade política que muitos craques nesse assunto tiveram percalços. Vejamos como se sairá a presidente Dilma. Afinal, é a primeira vez que seu governo se vê claramente no fio da navalha.
Por falar em habilidade política...
Vale prestar bastante atenção nas “entrelinhas” do que disse o presidente do PSDB, Aécio Neves, ao declarar que apoia prévias em seu partido na hipótese de haver mais de um candidato a presidente. 1) Os tucanos só vão tratar disso depois do prazo de filiação partidária (4 de outubro) para os candidatos às eleições de 2014. Ou seja, após o ex-governador José Serra ter decidido seu destino político, ficar no PSDB ou seguir para o PPS. 2) A simpatia de Aécio pelas prévias é opinião pessoal, e não uma posição formal da Executiva tucana. Significa que Serra não terá a certeza de nada, caso decida ficar no partido. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dizia sempre “Serra gosta de colocar um chapéu em cada cadeira”. Agora, o ex-governador paulista terá que escolher um assento sem ter o outro reservado. Serra é mais um personagem que vive hoje no fio da navalha.
Fonte: Correio Braziliense
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