Com 83% dos votos apurados, resultados indicam 2 turno entre ex-presidente e ministra
Janaína Figueiredo
BUENOS AIRES - O favoritismo de Michelle Bachelet parece não ter sido suficiente para garantir um triunfo da ex-presidente socialista em uma nova eleição chilena. Com 83,04% dos votos apurados, Bachelet contava com 46,74% da preferência — a candidata precisaria de 50% para vencer na primeira rodada do pleito.
Assim, a corrida eleitoral deve ser estendida até o dia 15 de dezembro, quando ela disputará a liderança do país com a ex-ministra Evelyn Matthei, que obtinha 25,12% dos votos. O caminho para retornar ao Palácio de La Moneda será um pouco mais trabalhoso para Bachelet, que, após a provável vitória em dezembro, deverá se preparar para um segundo governo de grandes desafios e demandas sociais cada vez mais intensas.
Uma das promessas da ex-presidente foi dar ao Chile uma nova Constituição, que enterre, de uma vez por todas, a herança pinochetista — a atual Carta Magna foi aprovada em 1980. Para alcançar este e outros objetivos, a candidata, de 60 anos, precisará contar com amplo respaldo popular e, também, o consenso entre todos os setores que integram a Nova Maioria, a aliança eleitoral que poderá, ou não, transformar-se numa coalizão de governo.
— Este país precisa de uma nova Constituição que, entre outras coisas, permita que os chilenos possam votar no exterior — disse Bachelet ontem, após votar em Santiago. Matthei, desde o início do dia, apostava em um novo confronto com a candidata da esquerda. — Estamos certos de que vamos para um segundo turno, pois a melhor, e única, pesquisa que interessa é a de hoje — assegurou, depois de deixar sua zona eleitoral.
Coalizão cobra reformas
Bachelet sabe que as reformas que deverá encarar vão muito além de questões eleitorais. Ontem, representantes de movimentos sociais que apoiam sua candidatura deixaram claro que desejam que o Chile tenha “uma democracia participativa, e não somente representativa”. Na Nova Maioria, aliança que foi condição de Bachelet para lançar sua candidatura, convivem socialistas, democratas cristãos e comunistas — que pela primeira vez desde o governo Salvador Allende aceitaram aderir a um pacto eleitoral.
A incorporação dos comunistas não foi um processo fácil, como admitiram candidatos do partido, entre eles a ex- líder estudantil Camila Vallejos, que concorreu a uma vaga na Câmara. Ontem, após votar com sua filha recém-nascida, Adela, a dirigente juvenil aproveitou para mandar um recado ao comando da Nova Maioria: — Nosso objetivo não é somente afastar a direita do governo, mas queremos que exista em nosso país um novo governo da Concertação (a aliança entre socialistas de democratas cristãos que assumiu o poder em 1990, após a redemocratização do país).
Agora ela teria outras lógicas, porque o Chile mudou. Camila, que tem grandes chances de conseguir uma vaga no Parlamento, reivindica reformas educacionais, com a participação de estudantes e professores; e trabalhistas, para que os sindicatos tenham direto de greve e negociação de salários. A presidente da Central Única de Trabalhadores (CUT), Barbara Figueroa, do Partido Comunista, disse que “o que hoje devemos entender é que todos somos necessários para que os desejos da cidadania sejam expressados".
— A presença do PC ajuda que o Chile seja um país mais democrático, em momentos em que estamos pensando em transformações importantes — frisou. A Nova Maioria liderada por Bachelet terá de dar uma resposta a um abrangente setor da população, que quer um sistema público de educação e saúde de qualidade, menor pressão tributária e mais recursos destinados a programas sociais.
Comitê ocupado
Ontem, quando a votação ainda não havia terminado, um grupo de 30 estudantes da Assembleia Coordenadora de Estudantes Secundários invadiu o comando de campanha de Bachelet com cartazes que diziam “a mudança não está em La Moneda, mas nas grandes alamedas”. “Não permitiremos que nossas demandas sejam traídas pelos que no passado nos reprimiram e perseguiram asseguraram os estudantes em comunicado divulgado pelo grupo.
Os chilenos foram às urnas pela primeira vez num sistema de voto facultativo para eleger um novo presidente, renovar todos os deputados e 50% dos senadores e 257 conselheiros regionais. Para avançar com as reformas esperadas por seus seguidores, Bachelet precisará de sólida base parlamentar.
O futuro governo enfrentará um cenário econômico mais complicado, com o preço do cobre (pilar da economia chilena) em queda e taxas de crescimento mais baixas. A disputa pelo terceiro lugar foi acirrada. Marco Enríquez Ominami teve 10,82% dos votos; Franco Parisi, 10,17%.
Fonte: O Globo
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