Diretório Nacional do partido se reúne hoje, três dias depois das prisões de Dirceu e Genoino, e promete "reação" contra a detenção dos correligionários
Paulo de Tarso Lyra
O PT promete elevar o tom hoje na reclamação contra a prisão do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e do deputado José Genoino (PT-SP), condenados no julgamento do mensalão. O Diretório Nacional do partido se reúne em São Paulo para debater a conjuntura política e econômica do país e os preparativos para o congresso da legenda em dezembro. Entretanto, deve fazer um novo desagravo aos companheiros detidos em Brasília. “O PT tem que reagir, o que estão fazendo com nossos companheiros é uma arbitrariedade”, protestou o deputado Carlos Zarattini (SP).
O parlamentar não integra o Diretório Nacional, mas é uma das vozes que se coloca como revoltada com a situação. “Dirceu e Genoino deveriam estar no regime semiaberto, mas estão no fechado, e nas piores condições possíveis. Isso é inadmissível”, completou.
Na última sexta-feira, quando o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, expediu os mandados de prisão, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, divulgou nota sobre o caso. Falcão classificou a antecipação dos pedidos de detenção como algo “casuístico e que fere o princípio da ampla defesa”. A nota oficial, no entanto, alerta que, como qualquer decisão judicial, ela precisa ser respeitada.
“Embora caiba aos companheiros acatar a decisão, o PT reafirma a posição anteriormente manifestada em nota da Comissão Executiva Nacional, em novembro de 2012, que considerou o julgamento injusto, nitidamente político, e alheio a provas dos autos”, explicitou o presidente petista, acrescentando que não houve compra de votos, enriquecimento ilícito ou desvio de dinheiro público.
Mas a nota foi considerada por alguns companheiros de legenda muito “light”. Atual secretário-geral do partido, o deputado Paulo Teixeira (SP) defende que seja discutido um pronunciamento um pouco mais incisivo no encontro de hoje. “A nota do Falcão foi importante, mas precisamos de algo mais forte nesse instante”, defendeu Teixeira.
“Presos políticos”
Os próprios condenados, Dirceu e Genoino, ao serem presos na última sexta-feira, deram o tom do que pretendiam dos correligionários. Ambos se disseram “presos políticos”. Genoino chegou a bradar, de punhos no alto, “viva o PT”. Para Paulo Teixeira, o conjunto do partido não pode ficar omisso nesse instante. “Precisamos denunciar o caráter político do julgamento”, acrescentou o parlamentar paulista.
Há quem discorde, contudo, dessa avaliação. Para alguns integrantes da cúpula partidária, o PT não pode avançar além do que fez até o momento. “Estamos discutindo o mensalão desde 2005. Nosso debate político tem que avançar, precisamos virar essa página”, defendeu um deputado petista que não quis se identificar.
Para esse parlamentar, o diretório poderá, sim, referendar a nota oficial divulgada pelo presidente do PT na última sexta. “Falcão já foi claro ao afirmar que o julgamento foi político, que nossos companheiros são inocentes, que não houve compra de votos nem tampouco desvio de recursos públicos”, declarou uma liderança petista. “Mas também reforçou que decisões de Justiça precisam ser cumpridas”, completou.
O silêncio de Lula
Enquanto o PT ensaia aumentar o tom das queixas contra o que considera um julgamento político feito pelo STF, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva evita falar sobre o caso. Lula sempre prometeu que diria o que pensava tão logo o caso fosse encerrado. “Resta saber se ele considera que o julgamento acabou”, despistou o secretário de Comunicação do PT, Paulo Frateschi. Na quinta-feira, um dia depois de o Supremo ter definido que parte dos réus já poderiam ser presos, Lula não quis comentar o assunto: “Quem sou eu para questionar uma decisão da Suprema Corte?”. Em particular, no entanto, ele continua acompanhando o desenrolar dos acontecimentos. Na sexta-feira, quando os mandados de prisão contra José Dirceu e José Genoino foram expedidos, ele ligou para ambos e falou: “Estamos juntos”.
Fonte: Correio Braziliense
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