É natural que a carreira e o estilo político de Aécio tenham como referência o avô, mas, do ponto de vista da conjuntura e das próximas eleições, a agenda dele é mais próxima de JK
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reúne-se hoje, em Poços de Caldas, com os oito governadores tucanos, para resgatar 30 anos de história política do país, ao relembrar o encontro entre Tancredo Neves e Franco Montoro, que governavam Minas e São Paulo, respectivamente, e firmaram um pacto político para pôr fim ao regime militar. Desse encontro, em 1983, nasceu a campanha das Diretas Já e o compromisso de que Tancredo seria o candidato da oposição no colégio eleitoral, caso a emenda de Dante de Oliveira não fosse aprovada pelo Congresso, o que frustraria as pretensões presidenciais de Ulysses Guimarães, que comandava o PMDB. Desta vez, o encontro servirá para sepultar as pretensões do ex-governador de São Paulo José Serra, que pleiteia o lugar do ex-governador de Minas Aécio Neves como candidato do PSDB na disputa pela Presidência da República e, também, discutir a nova agenda do PSDB.
Naquela época a oposição também estava dividida. O então governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola (PDT), não escondia de ninguém as pretensões de disputar a presidência, mas não tinha força política para liderar uma campanha como a das Diretas Já. Muito menos para vencer no colégio eleitoral que elegeria o presidente por via indireta, formado por senadores, deputados federais e delegados indicados pelas assembléias legislativas, num total de 686 votos. Para ganhar tempo, Brizola chegou a propor a prorrogação por dois anos do mandato do general João Batista Figueiredo, que deixaria a presidência em 1985. Pressionado pelas ruas, porém, aderiu com todas as suas forças à campanha pelas eleições diretas, enquanto Tancredo já negociava uma transição pactuada com setores que apoiavam o regime militar, mas que, também, queriam a volta da democracia.
Candidato da principal força de oposição, o PSDB, Aécio Neves não pleiteia sozinho a presidência. Seu concorrente é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que recebeu o apoio da ex-senadora Marina Silva (PSB), ambos egressos da base governista. Toda a estratégia do político mineiro, que herdou do avô Tancredo Neves os dotes de conciliador, reside no esforço de levar a eleição para o segundo turno e, lá, unir a oposição, ou seja, obter o apoio de Campos e de Marina mediante a promessa de fazer a mesma coisa caso a situação se inverta. Até recentemente, esse objetivo parecia impossível. Agora, com a união de Campos e Marina, não é mais. O que ainda poderia complicar a estratégia seria a substituição da presidente Dilma Rousseff pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato do PT.
O cenário desse novo encontro de Poços de Caldas, porém, tem mais a ver com a candidatura de Juscelino Kubitschek, que, em 1954, foi eleito presidente da República com 36% dos votos, numa coligação PSD-PTB, cujo slogan era “Cinquenta anos em cinco”. Não havia dois turnos, o que criava muita instabilidade política. Daí, a tentativa dos derrotados de impedir a posse de JK. Na presidência, Juscelino construiu hidrelétricas, estradas e promoveu a industrialização e a modernização da economia. Seu governo foi marcado por um alto astral que refletia as mudanças sociais e culturais em curso no país. Um de seus principais feitos foi a construção de Brasília.
É natural que a carreira e o estilo político de Aécio Neves tenham como referência o avô, mas, do ponto de vista da conjuntura e das próximas eleições, a agenda dele é mais próxima de Juscelino. Restabelecer a democracia, abrir a economia, estabilizar a moeda e redistribuir renda — o programa de Tancredo contra o regime militar — são tarefas já realizadas pelos presidentes José Sarney, Collor de Mello, Fernando Henrique e Lula. O que está na ordem do dia é a retomada do desenvolvimento econômico e a oferta de serviços públicos de qualidade, além de uma injeção de otimismo no povo, que foi marca registrada de Juscelino.
Giocondo
A propósito, o líder comunista Giocondo Dias, que completaria 100 anos hoje e que sucedeu Luiz Carlos Prestes na Secretaria-Geral do PCB de 1980 a 1987, foi um dos artífices do apoio da esquerda à candidatura de Juscelino Kubitschek, candidato da aliança PSD-PTB, em 1954, com apoio dos comunistas. De igual maneira, defendeu o apoio a Tancredo Neves no colégio eleitoral, em 1985. Líder da revolta comunista de Natal (RN), em 1935, o ex-cabo do Exército tornou-se um dirigente político reformista e comprometido com a democracia, apesar de passar 41 anos na clandestinidade. Na quarta-feira, será homenageado pelo governador Jaques Wagner e pela Assembleia Legislativa da Bahia, que fará a devolução simbólica de seu mandato de deputado estadual constituinte, cassado em 1947.
Fonte: Correio Braziliense
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