Legenda retira ataques ao governo e diminui o tom sobre o mensalão no documento final do congresso da sigla. Temas como a política de alianças em 2014 são adiados
André Shalders
A direção do PT conseguiu manter fora do texto aprovado no V Congresso do partido temas com potencial para gerar constrangimentos para o governo. Somente duas das propostas de alteração ao texto foram postas em discussão durante a plenária ocorrida no fim da manhã de ontem, no Centro de Convenções Brasil XXI, ambas com resultados favoráveis ao governo. Temas sensíveis como a política de alianças e as regras das eleições internas do PT tiveram a discussão adiada e não constarão do documento aprovado ontem, destinado a atualizar o programa do partido para a campanha eleitoral de 2014. “Somos um partido com muitas tendências, com muitas correntes de opinião. E essa é a nossa força, por sermos um partido que consegue unir tanta diversidade”, disse o presidente da legenda, Rui Falcão, no encerramento do encontro.
A política de alianças do governo, considerada “ampla demais” por alguns setores do partido, deve ser debatida no Encontro Nacional específico sobre o tema, anunciado para abril de 2014, no Rio de Janeiro. As regras das eleições internas do PT, outro tema considerado polêmico, só devem ser discutidas em 2015, na segunda fase do V Congresso. O Diretório Nacional do partido nomeará uma comissão encarregada de elaborar uma proposta sobre o tema.
Uma das emendas discutidas apresentava um adendo ao ponto 29 do texto, que trata do julgamento do mensalão. O texto, apresentado pela corrente O Trabalho, determinava uma “campanha popular de desconstrução do julgamento, apoiando a revisão criminal” e pedindo a “anulação da injusta sentença da Ação Penal 470”. A emenda foi criticada pelo deputado federal paulista Ricardo Berzoini, um dos responsáveis pela redação do documento original. Ele alegou a defesa da unidade do partido e propôs uma versão mais amena de texto, que acabou aprovada.
Concessões
A outra emenda discutida em plenário, também rejeitada, alterava o ponto 32 do texto para dizer que o PT se comprometia “com a luta para destinar os recursos do orçamento em primeiro lugar, como pediram as ruas em junho, para a educação, transporte, moradia e reforma agrária”, e com o fim do mecanismo de superávit fiscal primário. Pela emenda, o PT também se propunha a acabar com a “política de concessões, leilões e privatização”. O texto foi defendido por Markus Sokol, integrante do Diretório Nacional do PT.
Representando o grupo majoritário do partido, Berzoini defendeu a política do governo. “A estratégia econômica do governo Dilma, assim como a do governo Lula. é alavancar o máximo possível de recursos, públicos ou privados, para dar conta da infraestrutura do país e viabilizar a criação de empregos e a atividade econômica”, disse ele.
Aniversário
A presidente Dilma Rousseff festejou o aniversário de 66 anos com a família em Porto Alegre, ontem. Ela passou o dia inteiro em casa, recebeu um buquê de flores vermelhas e os parabéns, pela rede social, do ex-presidente Lula e do vice-presidente, Michel Temer. "Feliz aniversário, presidenta! #DiaDaDilma", escreveu Lula.
Para escanteio
Emendas contrárias à linha política do governo federal foram excluídas do texto final do V Congresso, que atualiza o programa do partido para as eleições de 2014. Alguns pontos, como a política de alianças, só serão decididos em abril. Outros, como críticas às concessões de estradas e aeroportos, foram derrotadas em plenário.
Política de alianças
Foram apresentadas algumas emendas prevendo mudanças na atual política de alianças do partido, entre elas uma chamada “Sarney não nos representa”, contrária à aliança com o PMDB. O debate sobre o tema foi adiado para um congresso específico sobre tática eleitoral, marcado para abril de 2014.
Mensalão
A chapa da corrente O trabalho, capitaneada por Markus Sokol, apresentou proposta de emenda determinando uma “campanha popular de desconstrução do julgamento” e a luta pela anulação do julgamento. Embora tenha sido aplaudida, a proposta foi derrotada em favor de uma redação mais branda, defendida por Berzoini.
Concessões à iniciativa privada e superávit primário
Uma das emendas apresentadas criticava duramente a política econômica, conclamando o PT a lutar pelo fim do superávit fiscal primário e a abandonar a “política de concessões, leilões e a privatização”. A proposta foi superada em plenário por Berzoini, que representava o chamado “campo majoritário” do partido.
Democracia interna
Várias correntes apresentaram emendas pedindo alterações nas eleições internas do PT, que hoje ocorrem por meio do chamado Processo de Eleições Diretas (PED). O tema não chegou a ser apreciado. O Diretório Nacional do partido nomeará comissão responsável por oferecer uma proposta de alteração, que será discutida na segunda fase do V Congresso, em 2015.
Fonte: Correio Braziliense
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