A cerca de 10 meses da disputa presidencial, uma parte de eleitores sabe o caminho que escolherá nas urnas.O Correio conversou com três deles sobre o motivo de estarem certos entre Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos
Julia Chaib
Se as eleições para a Presidência da República fossem hoje, os três principais presidenciáveis — Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) — teriam, cada um, pelo menos um voto garantido. São apostas certas da servidora pública Márcia Vilela, 45 anos, da empregada doméstica Carmélia Neres dos Santos, 38, e do cientista político André Atadeu, 22, à cadeira no Planalto. A menos de 10 meses do primeiro turno das eleições, eles já têm segurança do que irão digitar na urna. Ao Correio, eles elencaram os motivos de, diferentemente de boa parte do eleitorado ainda indefinido, já terem certeza do nome escolhido, caso o cenário continue o mesmo.
Especialistas avaliam que os três moradores da capital federal não são maioria. Para eles, a esta altura do campeonato, é natural que grande parte dos brasileiros não esteja convicto de seus votos. De acordo com pesquisa Ibope divulgada em novembro de 2013, com os três candidatos postos, 21% das pessoas optariam pelo voto nulo ou branco e outros 15% não saberiam em quem votar — tal percentual aumenta para 40% na pesquisa espontânea. O trio de Brasília, no entanto, explica a razão de não estar na lista. Os motivos são variados: vão desde a gratidão por programas de governo ao desejo de ver novas caras na política. Aliados, como o caso da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que está com Campos e é possível candidata a vice na chapa, também agregam votos.
Para Rui Tavares Maluf, cientista político e coordenador do curso de opinião pública e inteligência de mercado da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, os dados sobre intenções de voto, agora, são voláteis. As últimas pesquisas indicam que Dilma Rousseff teria uma reeleição certa, no entanto, tudo pode mudar no cenário político. De acordo com levantamento do Instituto Datafolha, divulgado em dezembro, a presidente aparece com 47% das intenções de voto. Em seguida, vem o ex-governador de Minas Gerais, com 19%, e, Campos, com 11%. De acordo com o Ibope, Dilma venceria com 43% das intenções, seguida por Aécio, com 14%, e Campos, com 7%.
De acordo com Maluf, o fato de aparecerem nomes inéditos na corrida pelo Executivo, como o do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e do senador mineiro, Aécio Neves, também faz com que os votos a esta altura fiquem indefinidos. Ele diz, no entanto, que é possível se identificar com a política e as ações de cada um em seus estados.
Projeção nacional
Outro fator de peso são as ações de candidatas com reconhecimento nacional, como Dilma e Marina — que já disputou uma eleição à Presidência e conseguiu uma projeção maior. “A decisão se relaciona quando a pessoa consegue efetivamente perceber aquele discurso que está relacionado ao que você acredita. A questão econômica tem muita relevância na tomada de decisão.”
Rudá Ricci, cientista político e especialista em desenvolvimento regional e sistemas de controle sobre a ação governamental, acredita que Dilma tenha perdido votos de uma parcela da classe média. “No primeiro ano do governo dela, o discurso de ataque à corrupção aparecia muito e ela aparentava ser uma pessoa muito enérgica. O eleitorado do PSDB a elogiava dizendo que ela tinha um perfil mais tucano. Mas, a partir do ano passado, ela adotou uma postura mais centralizadora e perdeu uma parte da base eleitoral. As manifestações também contribuíram para isso”, disse.
O eleitor típico de Dilma, então, deve ser, de acordo com o especialista, o segmento mais pobre da população concentrado no Nordeste. Já o eleitor de Aécio vem da classe média tradicional, mais instruído. Campos atinge a classe média mais jovem e o Nordeste. Já Marina consegue estar entre todos os segmentos de renda, entre os mais e menos instruídos.
Carmélia Neres dos Santos, 38 anos, é Dilma Rousseff
Ver a filha concluir o ensino médio é o que leva a empregada doméstica Carmélia Neres dos Santos, 38 anos, a votar em Dilma Rousseff. Carmélia, que estudou até a 4ª série do Ensino Fundamental, vê a nova geração da família ter a oportunidade de ingressar em uma universidade. Natural de Barreiras (BA), ela recebe o Bolsa Família há oito anos. Foi beneficiada com cada um de seus filhos: o mais novo, de 15 anos, que está no 6º ano do Ensino Fundamental; o do meio, com 17, no 7º ano; e a mais velha, com 18, que já concluiu o Ensino Médio.
Para Carmélia, seria praticamente impossível manter os filhos apenas na escola, sem terem de trabalhar, se não fosse a ajuda do programa social.
"O benefício mudou a minha vida. Ele me ajudou bastante. Sem ele, teria sido difícil os meninos se dedicarem ao estudos." Carmélia, então, é grata ao governo que implementou a iniciativa que lhe dá um auxílio mensal. "Lula e Dilma representam a mesma coisa. Eu quero alguém que pense no social, nos problemas do povo", diz. Além de ter se beneficiado com o Bolsa Família, Carmélia vê a filha buscar ajuda em outro projeto do governo, o Programa Universidade para Todos (Prouni), que dá bolsas para instituições de ensino privadas.
O perfil da baiana se repete entre os outros integrantes da família. Os 14 irmãos também tiveram uma infância difícil em Barreiras e, deles, 11 se mudaram para a capital federal. Quatro recebem o Bolsa Família e têm a mesma intenção de voto de Carmélia.
André Atadeu, 22 anos, é Aécio Neves
O pai do cientista político André Atadeu Moreira, 22 anos, costumava sair às ruas de Belo Horizonte com a bandeira do PT para ajudar a eleger Luiz Inácio Lula da Silva nos anos 1990. Elpídio Moreira, 49 anos, votou em Lula e Dilma e tentou levar o filho para o mesmo caminho. André cresceu sob o discurso do pai, mas, mesmo assim, decidiu correr contra a maré. André vota no governo tucano. Mineiro, o rapaz veio a Brasília em 2009 para começar o curso de ciência política na Universidade de Brasília (UnB). Votou em 2010 pela primeira vez em José Serra. À época, seu voto foi guiado, principalmente, pela esperança de alternar o partido governante. "A mudança é saudável porque traz uma nova visão para o país." Neste ano, ele vota novamente no PSDB, mas, desta vez, baseado na gestão de Aécio Neves quando governador de Minas Gerais, de 2003 a 2010.
"Antes da entrada dele, o governo de Minas estava vivendo um caos orçamentário. O choque de gestão que ele implementou lá, e me parece que ele pretende fazer isso no Planalto, é interessante no sentido de diminuir os gastos do estado, que é uma da principais reclamações contra o PT", diz. Para ele, Dilma não conseguiu estabelecer um crescimento econômico viável, e Aécio "arrumaria a casa", por exemplo, ao possivelmente diminuir a quantidade de ministérios. André conta que até o pai, que era petista roxo, hoje pensa duas vezes se volta em Dilma e pode acabar tentando eleger Eduardo Campos. Ele só considera Campos em um segundo turno contra Dilma Rousseff. O pai, que costumava levava bandeira do PT em Minas para votar em Lula, prefere a chapa de Marina.
Márcia Vilela, 45 anos, é Eduardo Campos
A servidora pública Márcia Vilela, 45 anos, contribuiu, na maior parte da sua vida, para a ascensão do PT ao poder. Bacharel em direito e psicóloga, ela nasceu no interior de Goiás, em uma cidade chamada Palmeiras, e mora em Brasília há mais de 20 anos. "Quando o Collor ganhou do Lula, em 1990, fiquei arrasada", conta. Em 2010, no entanto, esse cenário mudou. A renovação passou a guiar suas decisões de voto. A associação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva a escândalos de corrupção e os oito anos do ex-presidente no poder, de 2003 a 2010, a levaram até Marina.
A acriana apareceu aos olhos de Márcia como a esperança de um novo ciclo. O jeito firme e combinação com o discurso pela sustentabilidade fizeram dela a candidata ideal. Quatro anos depois, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina direciona novamente o voto da servidora pública. Com, mais uma vez, um pré-candidato do PT e outro do PSDB, Márcia votará em Eduardo Campos (PSB). "As coisas que se perpetuam não são saudáveis. Acho que Marina, mesmo que saia como vice-presidente, conseguirá agregar suas propostas e terá um peso no governo", diz. Apesar de não conhecer a fundo a gestão de Campos em Pernambuco, avalia como satisfatória a administração do pessebista.
Em Aécio, assim como em José Serra, ela não vota. Nesse caso, há um componente pessoal. Márcia avalia que um governo tucano não promoveria melhorias aos servidores públicos. "Nós já perdemos muitos direitos ao longo dos anos, e Serra ou Aécio prejudicariam ainda mais o segmento. Falta também empatia com a pessoa", diz. O pai e o cunhado de Márcia já tentaram convencê-la a mudar de ideia. Mas ela se mantém firme. É o nome de Campos que apertará na urna.
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário