Professor da USP diz que o ex-presidente não convive “democraticamente com a oposição”
Sérgio Roxo e Tiago Dantas – O Globo
SÃO PAULO - As declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silvaconclamando o PT “a ir para cima” da oposição para impedir investigações sobre eventuais irregularidades na administração da Petrobras em ano eleitoral mostram que o líder petista tem dificuldade de conviver com a oposição e podem prejudicar o seu partido, na avaliação de cientistas políticos.
Para o professor José Álvaro Moisés, da USP, na entrevista de terça-feira aos blogueiros progressistas, Lula seguiu o padrão de suas ações à frente do governo. Ele recordou a frase dita pelo ex-presidente na campanha de 2010 pedindo que o DEM fosse “extirpado da política brasileira”.
- Lula não consegue conviver democraticamente com a oposição. Durante seu governo, chegou até mesmo a pedir a extinção de um partido de oposição que o incomodava e, afora isso, batalhou contra decisões do TCU que questionavam obras do seu governo”, disse Moisés.
O professor afirma ainda que a fala indica que Lula “não se pauta por princípios republicanos”."Na avaliação de Moisés, o ex-presidente está mais preocupado com o projeto político de seu partido do que com o país.
- Para tentar salvar o PT e a administração Dilma, até recomenda ao seu partido ignorar os princípios da Constituição de 1988, os quais dão tarefas de fiscalização e controle bem específicas para a oposição.
Vera Chaia, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), entende que barrar a CPI da Petrobras pode causar problemas para o PT com a opinião pública:
- Se não ocorrer uma CPI o mal estar vai ser maior do que o de investigar membros do partido. Acredito que seja saudável para o partido que possíveis culpados sejam punidos.
A cientista política Maria do Socorro Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), acredita que as declarações feitas por Lula o colocam numa posição de defensor do partido:
- O Lula acaba se colocando como um guardião do PT. É uma estratégia sábia do ponto de vista político. Ele sabe que parte do que está ocorrendo com a Petrobras pode ser relacionado com o governo dele de alguma forma, então acaba fazendo uma defesa própria, também.
Já Fernando Antônio Azevedo, professor do programa de pós-graduação em ciência política da UFSCar, avalia que o problema seria se Lula e o PT tentassem evitar investigações feitas pelo Ministério Público ou pela Polícia Federal.
- A CPI talvez não seja o instrumento mais adequado para essas investigações, ainda mais em período eleitoral. Elas têm um viés mais político do que investigativo. Se impedisse investigação da Procuradora, aí sim estaria jogando a sujeira para baixo do tapete.
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