• Campos contra a polarização PT-PSDB
- Correio Braziliense
O presidenciável Eduardo Campos aproveitou a convenção conjunta de PSB, PPS, PPL, PHS e PRP, que oficializou sua candidatura na manhã de ontem em Brasília, para se distanciar do tucano Aécio Neves e se apresentar ao eleitorado como uma alternativa à polarização entre o PSDB e o PT. "O que o Brasil quer é um novo governo, que, em vez de ficar discutindo quem fez mais no passado, diga com clareza como vai fazer para resolver o muito que não foi feito nos últimos 20 anos", disse ele, classificando a luta entre tucanos e petistas como "disputa do passado com o passado".
Para tentar mostrar que a novidade não é uma aventura e tem experiência administrativa e capacidade de gestão, repisou o que considera os melhores feitos de seus oito anos como governador. No discurso, repetiu pelo menos três vezes o mantra "Fiz em Pernambuco e vou fazer no Brasil", ao apresentar propostas como a garantia de ensino em tempo integral para todos os alunos e a realização de um "pacto pela vida" — programa semelhante ao feito no estado, para reduzir a cada ano o número de mortes violentas.
A convenção também mostrou que a campanha de Eduardo reforçará a presença de Marina Silva. No banner atrás do palco, os nomes e as fotos dos dois candidatos apareciam lado a lado, e com o mesmo tamanho. Para chamar Marina ao púlpito, o mestre de cerimônias foi dispensado pelo candidato, que pegou Marina pela mão e a levou ao centro do palco. A vice discursou por cerca de 30 minutos, 10 a mais que o pernambucano. No jingle apresentado ontem, em ritmo de samba-rap, o refrão diz "coragem pra mudar o Brasil, eu vou com Eduardo e Marina", colocando os dois em pé de igualdade. Pesquisas internas elaboradas pela coordenação de campanha indicam que as intenções de voto crescem quando Marina é apresentada como vice na chapa.
Para reforçar o distanciamento da rixa PT-PSDB, Eduardo também fez questão de repetir o lema "nós vamos unir o Brasil". "Só o Brasil unido vai conseguir enfrentar os grandes desafios que permanecem", disse, repetindo a frase como uma oração a cada uma das várias promessas elencadas.
Ao mesmo tempo em que criticaram a gestão Dilma, tanto Campos quanto Marina evitaram confrontar diretamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ex-ministra do Meio Ambiente chegou a citar acordo firmado entre ela e Campos, quando ele também era ministro, para enfrentar o desmatamento. Marina encerrou a fala com um poema, de própria autoria, que versava sobre coragem. Em quase meia hora de discurso, Marina elogiou o companheiro de chapa e negou qualquer "ingrisia" entre ela e Campos. "Eu amei essa palavra que ele tanto fala, agora uso o tempo todo", disse. Marina também gracejou dizendo que a "maior crise" da aliança ocorreu quando um assessor serviu a Eduardo Campos, por engano, o prato com a refeição dela. "Aí ele disse: eu discuto tudo, coloco o que você quiser no programa, mas comer a comida de Marina nunca. A aliança acaba". Marina segue uma dieta especial, muito restrita.
Aos desavisados, pareceu que as referências à crise se deram porque, no começo do mês, Marina criticou a decisão do PSB de apoiar a campanha de Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo. Correligionários de Campos demonstraram tranquilidade com o fato de que a transferência de votos ainda não ter se concretizado. "Não se consolidou porque a eleição ainda não começou. O voto se dá no momento da eleição. Não serão 20 milhões de votos que Eduardo e Marina terão, serão muito mais", disse o candidato socialista ao governo do Distrito Federal, senador Rodrigo Rollemberg.
Ocorrida no mesmo dia em que a Seleção Brasileira se classificou para as quartas de final da Copa, a festa de Marina e Eduardo primou pelo verde e amarelo, espalhado pelo cenário e pelas bandeiras dos militantes. O jogo também fez com que Eduardo encurtasse o discurso. "Da parte da Rede houve protesto (contra a data escolhida). Mas o PSB já tinha o congresso deles marcado aqui em Brasília amanhã (hoje)", disse um integrante da Rede no DF. Em dia de jogo, até o bordão com o xingamento a Dilma ganhou nova versão: "Ei, Dilma! Sai pra entrar Dudu". A convenção terminou meia hora antes do pontapé inicial entre Brasil e Chile.
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