- Correio Braziliense
Com a confirmação, ontem, em Brasília, da chapa Eduardo Campos e Marina Silva, da coligação "Unidos pelo Brasil", aliança entre PSB, PPS, PPL, PRP e PHS, a vantagem estratégica da presidente Dilma Rousseff nas regiões Norte e Nordeste do país está em xeque. Tanto os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o da atual presidente da República, candidata à reeleição, que permanece em primeiro lugar nas pesquisas, podem ser atribuídos ao apoio eleitoral maciço obtido nas duas regiões nas eleições de 20002, 2006 e 2010. O PT perdeu as eleições nas regiões meridionais do país.
O ex-governador de Pernambuco e a ex-seringueira do Acre, juntos, são porta-vozes dos estados da região e buscam votos no chamado Sul Maravilha com um discurso que propõe um novo padrão de desenvolvimento, mais sustentável e menos desigual. Levarão as eleições, inevitavelmente, ao segundo turno, mesmo que não consigam romper a polarização hoje existente entre o PT e o PSDB, cujo candidato a presidente, senador Aécio Neves, é o segundo das pesquisas. Ontem, na convenção conjunta de sua coligação, Eduardo Campos subiu o tom contra o governo Dilma Rousseff. Criticou as relações da presidente da República com os partidos de sua base e ironizou os boatos espalhados pelos adversários de que quereria acabar com o Bolsa Família.
"Vamos acabar com a política rasteira do medo, da difamação, de que no nosso governo vamos acabar com Bolsa Família. Vamos acabar é com a corrupção, com o fisiologismo. Nosso governo vai manter estabilidade da moeda, o Prouni, o Minha Casa, Minha Vida", disse Campos. Foi duro também em relação à política econômica de Dilma, que pretende mudar: "Vamos inverter a equação. Vamos retomar o crescimento sustentável da economia. Vamos botar a inflação para baixo e o crescimento para cima. Vamos fazer isso retomando a confiança do Brasil no Brasil e a confiança do mundo no Brasil", declarou.
Apesar das contradições entre os pragmáticos do PSB e os "sonháticos" da Rede nos estados, Campos conseguiu manter ao seu lado Marina, cuja Rede criou muitas dificuldades para o PSB realizar alianças robustas nos estados. Conviver com esses conflitos foi a condição para chegar à convenção com a chapa preservada, apesar das dificuldades eleitorais registradas nas pesquisas. A ex-senadora do Acre, que é conhecida por sua militância em defesa do meio ambiente, defende uma política capaz de aliar o aumento da capacidade de produção com a proteção ambiental. "Temos o compromisso com a mudança do modelo de desenvolvimento predatório para o modelo sustentável de desenvolvimento", enfatizou na convenção.
Dirigentes e militantes do PSB têm mais simpatias pelo discurso da Rede do que se imaginava, o que acabou reforçando o rompimento de algumas alianças pragmáticas, como aconteceu em Minas, onde o PSB lançou a candidatura do ex-prefeito de Juiz de Fora Tarcísio Delgado e rompeu o acordo feito com o tucano Aécio Neves no estado para apoiar Pimenta da Veiga.
Defensor de tradicionais teses desenvolvimentistas, Campos assimilou o discurso ambientalista de Marina, acredita que a aliança com ela pode compensar, em termos de votos, as limitações da estratégia adotada em alguns estados do Sudeste, onde compartilha o palanque com os adversários por falta de condições para uma candidatura própria. No Rio de Janeiro, apoia a candidatura do petista Lindbergh Farias; já em São Paulo, o PSB indicou o vice do tucano Geraldo Alckmin.
Tempo de tevê
A maior dificuldade da dupla Eduardo e Marina não será, porém, a fraqueza de suas alianças e de seus palanques, mas o pouco tempo de televisão. A propaganda para presidente da República é dividida em dois blocos diários de 25 minutos cada na tevê e no rádio, três vezes por semana. Um terço desse tempo, ou seja, oito minutos e 20 segundos, é partilhado igualmente entre todos os candidatos. O restante é dividido de acordo com o peso, na Câmara dos Deputados, dos partidos que compõem as coligações. Campos é o que conta com a menor fatia: possui uma base de 33 deputados e cerca de um minuto e meio de TV. O pré-candidato socialista contabiliza o tempo do PPS, de Roberto Freire, e de nanicos como o PSL, o PRP e o PHS. Com o tempo destinado igualmente aos candidatos, terá pouco mais de dois minutos de propaganda na tevê e no rádio.
Até agora, PMDB, PCdoB, PROS, PTB, PP, PSD, PR, PRB e PDT, além do PT, somam 357 dos 513 deputados federais. Com isso, a presidente Dilma pode ter o tempo de TV quase três vezes maior do que o Aécio Neves, praticamente seis vezes maior do que o de Campos. Ou seja, terá entre 12 e 13 minutos em rede nacional de rádio e TV, cerca de 45% no tempo total de propaganda eleitoral. O pré-candidato do PSDB à presidência, com o apoio do DEM, do Solidariedade, de Paulinho da Força, e do PTB, tem 99 parlamentares em sua base, o que dá pouco mais de seis minutos de propaganda.
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