Marcos de Moura e Souza – Valor Econômico
BELO HORIZONTE - A ex-senadora Marina Silva, pré-candidata a vice-presidente da República na chapa de Eduardo Campos (PSB), se reúne com aliados hoje em Belo Horizonte para apoiar uma tese que, de um jeito ou de outro, deverá ser vencedora. A de que o partido lance candidato ao governo de Minas Gerais.
Na sexta-feira, Marina foi derrotada ao defender candidatura própria ao governo de São Paulo. O diretório do PSB no Estado aprovou por unanimidade uma aliança com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), contrariando o desejo da ex-senadora e de seus aliados.
Em Minas, o PSB chegou a anunciar apoio ao candidato tucano, Pimenta da Veiga. Mas a situação mudou. Ontem, um integrante importante do PSB disse ao Valor que se a convenção estadual votar por não ter candidato próprio, a direção nacional do partido fará uma intervenção para garantir que o PSB lance, sim, um nome para a disputa pelo governo de Minas. O favorito é o presidente do PSB mineiro, o deputado federal Júlio Delgado.
Pré-candidato do PSDB à Presidência, o senador Aécio Neves (MG) gostaria de ter o PSB na aliança de Pimenta da Veiga, o que daria mais tempo de TV ao candidato.
O quadro em Minas passou a ter influência no cenário do Espírito Santo. Lá o governador Renato Casagrande (PSB) quer o PSDB em sua coligação, o que também daria a ele mais tempo na propaganda gratuita da TV. Mas, segundo a mesma fonte do PSB - que pediu para não ser citada pelo nome -, Aécio pôs em banho maria a indicação de um tucano para ser candidato ao Senado na chapa de Casagrande para pressionar o PSB em Minas a não ter candidato.
Marina Silva, que se filiou ao PSB em 2013 depois de não conseguir registrar o Rede Sustentabilidade como partido, quer que o candidato ao governo de Minas seja Apolo Heringer, um veterano militante da esquerda que há anos se integrou a defesa do meio ambiente.
Marina se reúne hoje com aliados do Rede Sustentabilidade para reforçar a defesa de que o PSB deve ter um candidato próprio e que este deve ser Heringer. À noite, faz uma palestra na Universidade Federal de Minas Gerais.
São Paulo e Minas são os dois maiores colégios eleitorais do país. E se não tiver candidato nos dois, o PSB estará escolhendo não dar espaço e palanque que Eduardo e ela precisam para conseguir chegar ao segundo turno, dizem aliados de Marina.
Um deles, Bazileu Margarido, coordenador-executivo adjunto da campanha de Campos e Marina, diz que não ter candidato nos dois Estados "seria algo gravíssimo" e que a indicação do PSB paulista já foi "um fato muito grave". Ficar fora em São Paulo e em Minas, diz, pioraria muito a situação. "Emitiria uma sinalização muito ruim de atrelamento ao PSDB".
Em São Paulo, a decisão de sexta ainda precisa ser referendada pela convenção estadual, prevista para o dia 21, mesma data da mineira.
O mineiro Júlio Delgado, próximo a Aécio e também a Eduardo Campos, foi quem anunciou o apoio do PSB ao tucano Pimenta da Veiga ao governo de Minas. Isso dias depois de este ter sido lançado como pré-candidato pelo PSDB.
Eduardo Campos, ex-governador do Pernambuco, e Aécio Neves tinham na época, segundo aliados dos dois, uma fórmula: o PSDB de Aécio apoiaria o candidato de Campos em Pernambuco; e o PSB de Campos apoiaria o candidato de Aécio em Minas.
Essa fórmula cortês desandou nas últimas semanas com Campos e Marina dando declarações para marcar diferenças deles com Aécio Neves. O reflexo se viu em Minas.
"Estamos conversando, amadurecendo o projeto de candidatura própria", disse o pessebista Júlio Delgado. "Eu não tenho dúvida de que se a ideia da candidatura própria se consolidar, na convenção estadual o meu nome será escolhido."
O grupo mais ligado a Marina não fecha a porta a ele. Bazileu Margarido defende Apolo Heringer como quem melhor representa os valores e o programa de Eduardo Campos e Marina Silva. "Agora, há um espaço para debate".
Apolo exilou-se na Argélia durante o regime militar e lá conviveu com o Miguel Arraes, avô de Eduardo Campos. Tornaram-se amigos e amizade também envolveu mais tarde Heringer e filhos de Arraes.
"O que espero dela [Marina] hoje é um grande apoio ao meu nome e, indignada com esse negócio que aconteceu em São Paulo [em relação ao apoio ao Alckmin], acho mesmo que ela vai ser mais firme aqui", disse Heringer.
O PSB tinha um candidato que era visto como óbvio para disputar o governo de Minas: o prefeito reeleito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, que aparecia nas pesquisas com chances reais de ser eleito. Mas no início de abril Lacerda anunciou que ficaria na prefeitura. Apoiado por Aécio nas eleições de 2008 e de 2012, Lacerda está no grupo do PSB que defende apoio ao candidato do PSDB em Minas.
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