As pesquisas do início de agosto vão mostrar, às vésperas do desencadeamento do horário eleitoral “gratuito”, as vantagens, a competitividade e as limitações, superáveis ou não, dos principais concorrentes ao pleito presidencial e aos pleitos nos estados, bem como dos demais participantes das disputas de voto majoritário. Tais pesquisas desdobrarão, reorientarão ou substituirão propostas e posturas (afirmativas, defensivas e de ataque) das diversas campanhas, desencadeando também ou reforçando as ações dos palanques eleitorais montados nos vários estados. Boa parte deles em torno de composições que relativizam, ignoram e até contrariam as alianças partidárias federais. E os levantamentos específicos sobre o principal embate certamente confirmarão a tendência de 2º turno.
Como era previsível, deixados para trás os jogos da Copa da Fifa e a mobilização popular em favor da (frustrada) conquista do hexa pelo time brasileiro, os sérios problemas da economia ganham centralidade nas manchetes da mídia e no debate político. O que se reforça com a progressiva piora dos indicadores correspondentes: das projeções do PIB de 2014, já reduzidas para menos de 1%, e sobre uma recessão da indústria, até as relativas à oferta de empregos, em queda, e à inflação (a da taxa oficial, no limite de tolerância máxima da meta, e a mais alta das feiras e dos supermercados). Sem contar o que ocorrerá mais à frente: a correção de preços (represados pelo populismo eleitoral) de combustíveis, energia elétrica e de tarifas de transporte público.
Empenhada em reverter, ou ao menos conter, os elevados índices de avaliação negativa do governo e de rejeição à sua campanha reeleitoral, a presidente-candidata Dilma Rousseff partiu para uma sucessão de medidas, pontuais e seletivas, novas e repetidas, de resposta a tais problemas. Combinadas com a atribuição deles a fatores externos e com promessas à sociedade e aos agentes produtivos de ações de vulto para resolvê-los se for reeleita. As medidas mais recentes foram adotadas através do Banco Central: manter a taxa de juros básicos em 11% até o final do ano, para combate à inflação, e, dois dias depois, restabelecer e ampliar estímulos ao consumo, sobretudo para produtos da indústria automobilística, reduzindo a margem das reservas compulsórias dos bancos no BC na tentativa de que, assim, sejam injetados R$ 45 bilhões na economia. Medidas cujas incoerência e qualidade foram bem resumidas no título e no lead de editorial de ontem da Folha de S. Paulo: “Contradição econômica. Ao incentivar crédito após ter preferido não cortar juros, Banco Central reforça o capítulo das confusões na atual administração”.
Por seu turno, os adversários Aécio Neves e Eduardo Campos são desafiados a articular o combate à política econômica (populista, estatizante e centralizadora) responsável por tais “confusões”. O que precisam ser capazes de fazer com propostas de alternativas consistentes num próximo governo dirigido por um ou pelo outro. E ambos, sobretudo Aécio, passando a defrontar-se com um agressivo e perigoso obstáculo que está sendo montado pela campanha governista: para forçar a queda da rejeição à Dilma e de seus efeitos, estendê-la aos adversários por meio de uma bateria de denúncias de caráter moral (e não apenas de que poderão esvaziar ou acabar com os programas assistencialistas ), na nova fase da disputa pelo Palácio do Planalto, especialmente a da guerra do 2º turno.
Quanto às relações entre os pleitos nacional e estaduais, os maiores desafios da campanha de Dilma são os do enfrentamento de Aécio, Geraldo Alckmin e José Serra, em São Paulo (para o que precisa de um bom palanque, que ainda não tem) e o de reproduzir boa parte da enorme vantagem que conseguiu no Nordeste em 2010. Agora ameaçada pela força da candidatura de Campos em Pernambuco (com desdobramentos em Alagoas e Paraíba), bem como por expressiva votação que Aécio deverá receber na Bahia e no Ceará. Já num outro colégio eleitoral importante – o Rio de Janeiro – um possível 2º turno estadual entre Garotinho e Pezão poderá, na mesma etapa do embate presidencial, vincular o primeiro a Dilma e o segundo a Aécio.
Jarbas de Holanda é jornalista
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