• Em sabatina na CNI, os três principais presidenciáveis defendem a competitividade na indústria, a necessidade de uma reforma tributária e de revisões na legislação trabalhista
Paulo de Tarso Lyra, Amanda Almeida, Andre Shalders e Antonio Temoteo – Correio Braziliense
No primeiro ato conjunto de campanha — embora em momentos de sabatina distintos na Confederação Nacional da Indústria (CNI) —, os três principais postulantes ao Palácio do Planalto tentaram seduzir o empresariado brasileiro com as propostas que implementarão caso sejam eleitos em outubro. Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) defenderam a competitividade na indústria, a necessidade de uma reforma tributária e de revisões na legislação trabalhista. Não apresentaram, contudo, propostas novas e pouco empolgaram os representantes do PIB nacional.
Tanto Aécio quanto Eduardo defenderam que o país está mergulhado em uma crise econômica que pode até ser influenciada por fatores externos, mas que tem como agravante a falta de liderança política do governo Dilma. "A crise atual não é causada por problemas internacionais, mas por brasileiros", resumiu o tucano. Eduardo seguiu na mesma linha: "O que falta são duas palavrinhas mágicas que conheço muito bem: gestão e liderança", completou o socialista.
A avaliação dos dois integrantes da oposição é de que a onda de pessimismo que assola o país, e obriga os empresários a atrasar investimentos, deriva da falta de pulso do governo. "Não vou sequer me ater à questão do Santander (uma analista do banco espanhol afirmou que os fundamentos da economia brasileira vão piorar caso Dilma seja reeleita). Vou ficar apenas nos relatórios da Fundação Getulio Vargas", disse Aécio. "A nossa política de governança esclerosou", acusou Eduardo Campos.
A presidente Dilma Rousseff — a última a ser sabatinada pelos empresários — garantiu que não haverá um tarifaço nas contas de energia e nos combustíveis em 2015. "Essa história do tarifaço é prima-irmã de duas outras coisas. A primeira chama-se tempestade perfeita, e a outra chama-se racionamento de energia. Pregar esse tarifaço agora é para assustar, as pessoas e as empresas", reclamou a presidente.
A tempestade perfeita a que se refere a Dilma é um jargão dos economistas segundo o qual a saúde financeira e monetária de um país se deteriora rapidamente por conta da conjugação de erros na condução da política interna e fatores externos negativos. Dilma afirmou que, ao se alastrar as ideias de tarifaço ou racionamento, os empresários desistem de investir com medo de não ter energia para suprir as demandas. "Vocês sabem perfeitamente que quando houve o racionamento em 2000 e 2001, o PIB do país caiu dois pontos percentuais", lembrou a presidente.
Obras públicas
Aécio e Eduardo também reforçaram a necessidade de um aumento na taxa de investimentos em infraestrutura no país. O percentual atual representa 2,5% do PIB. Ambos defendem um valor próximo dos 5%. O tucano também prometeu que o nível de investimento total, em 2018, subirá dos atuais 18% do PIB para 24%. Dilma rebateu, em sua intervenção, dizendo que herdou um país sem projetos, sem engenheiros e acrescentou que tentou acelerar o ritmo das obras públicas com o Regime Diferenciado de Contratação (RDC). "Fui acusada de afrouxar os mecanismos de fiscalização e controle, o que é um tolice", declarou a presidente.
Sobre a redução da carga tributária — uma das principais demandas feitas pelos empresários no documento com 42 pontos feito pela CNI —, Eduardo e Aécio prometeram enviar, logo nas primeiras semanas de governo uma proposta de reforma tributária ao Congresso. "Eu serei o primeiro presidente eleito desde a redemocratização que vai reduzir a carga tributária", afirmou Eduardo. "Com a experiência que tenho de parlamentar e governador de Minas, negociarei diretamente com o Congresso o processo de simplificação da estrutura de impostos no país", disse Aécio.
Dilma lembrou a série de desonerações que o seu governo e o do antecessor, Lula, promoveu desde 2008. "Imagina qual seria a situação da indústria hoje se, lá atrás, não tivéssemos tomados as medidas anticíclicas necessárias para o país continuar crescendo", indagou a presidente.
Repercussão
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, comentou que o evento foi importante para que o setor industrial ouvisse as diferentes propostas dos candidatos. Ele explicou que fará uma avaliação detalhada do que foi apresentado pelos três e, após esse processo, identificará quais são as melhores para o setor. "Somos uma entidade apolítica e não declaramos apoio a nenhum candidato. Esse é um momento de reflexão", detalhou.
Para o integrante do Conselho de Administração do grupo Ultra Pedro Wongtschowski, os três ainda não detalharam quais medidas serão tomadas para impulsionar os negócios do setor industrial. "Ainda precisamos aguardar a entrega formal dos programas de governo para entender as reais intenções de cada um", disse.
Na opinião do presidente da Alupar, Paulo Godoy, o presidente eleito não terá uma tarefa fácil para enfrentar o desafio de diminuir a burocracia existente no país. Conforme ele, será necessária uma grande articulação política também para fazer uma reforma tributária. "O que terá um peso maior nesse processo é a capacidade colocar em prática as propostas apresentadas", detalhou.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, afirmou que o governo Dilma Rousseff tem dificuldades em firmar parcerias comerciais com outros países. "Aécio e Eduardo têm boas propostas para esse tema, sem viés ideológico", concluiu.
Ponto a ponto
O que os presidenciáveis prometeram em sabatina da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
Eduardo Campos (PSB)
» Entregar proposta de reforma tributária ao Congresso na primeira semana de governo.
» Não aumentar a atual carga tributária.
» Criar um marco regulatório da terceirização do trabalho.
» Dar caráter técnico às direções das agências reguladoras.
» Investir em parcerias público-privadas (PPPs) e concessões.
Aécio Neves (PSDB)
» Encaminhar proposta de reforma tributária ao Congresso na primeira semana de governo.
» Aumentar o nível de investimentos de 18% para 24% do PIB até 2018.
» Cortar cerca de metade dos 39 ministérios e um terço dos 22 mil cargos comissionados.
» Retomar competitividade da indústria brasileira, com ações como investimento em infraestrutura.
» Reforçar acordo bilaterais, em especial com a União Europeia.
Dilma Rousseff (PT)
» Apoiar reforma tributária, fatiada ou completa, no Congresso.
» Defender reforma política por meio de plebiscito.
» Simplificar as regras trabalhistas e valorizar as negociações coletivas.
» Aumentar investimentos em infraestrutura.
» Manter diálogo com os empresários.
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