“Na verdade, as duas palavras politicamente mais significativas para designar a atividade humana, fala e ação (lexis e práxis), estão conspicuamente ausentes da história. A única ocupação dos habitantes da caverna é olhar para a parede; é obvio que lhes encanta ver por ver, independentemente de qualquer necessidade prática. Os habitantes da caverna, em outras palavras, são retratados como homens comuns, mas também naquela qualidade específica que estes compartilham com os filósofos: são representados por Platão como filósofos em potencial, ocupados na escuridão e na ignorância com a única coisa de que o filósofo se ocupa à plena luz e com pleno conhecimento. A alegoria da caverna é, pois, concebida para descrever não exatamente como a filosofia se parece do ponto de vista da política, mas como a política, a esfera dos assuntos humanos, se parece do ponto de vista da filosofia. E seu propósito, é descobrir, na esfera da filosofia, parâmetros apropriados para uma cidade de habitantes da caverna, é certo, mas também para habitantes que, embora na escuridão e na ignorância, formaram suas próprias opiniões a respeito dos mesmos temas do filósofo.”
Hannah Arendt (1906-1976) . A promessa da Política, p. 75. Difel, Rio de Janeiro, 2008
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