- Correio Braziliense
O bordão do antológico partido alto de Paulinho de Viola, cujo nome intitula a coluna, poderia ser a melô da campanha de Dilma Rousseff diante das dificuldades que o governo e o PT vêm enfrentando para conquistar o apoio dos grandes empresários do país e dos aliados que se afastam do Palácio do Planalto. “Meu bem, perdoa/Perdoa meu coração pecador/Você sabe que jamais eu viverei/Sem o seu amor.”
Sem ter como explicar o fracasso das iniciativas no sentido de retomar o crescimento, já que o Brasil, para segurar a inflação, está às portas da recessão, a cúpula do governo chegou à conclusão que a única saída é reconhecer que errou. E prometer que nada será como antes. Duro será convencer a presidente da República a fazê-lo publicamente, depois de tantas recusas a mudar de rumo.
A maior de todas as negativas, com certeza, foi a resposta dada por Dilma ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo semestre do ano passado, quando o líder petista sugeriu que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fosse substituído no cargo. O nome cotado para o posto era o do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, cujo perfil seria de agrado do mercado e dos políticos. Depois de 15 dias de reflexão, a petista disse “não” a Lula.
Essa resposta soou como uma espécie de que “quem manda aqui sou eu”, pois Dilma interpretou a sugestão como uma tentativa de tutela, num momento em que o movimento “Volta, Lula!” estava no auge. À época, ainda acreditava que conseguiria manter a taxa de juros (Selic) abaixo dos 9%, depois de uma redução forçada a 7,5%. Eram sócios da estratégia de juros baixos para reaquecer a economia o atual ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o próprio presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.
Deu no que deu: na medida em que a inflação saía do controle, os juros voltaram a subir. Estavam na faixa dos 8% desde junho, subiram para 9% em setembro e chegaram a 10% em dezembro; em junho deste ano, voltariam a 11%. Quando a inflação finalmente caiu, em junho passado, depois de estourar o teto da meta anual de 6,5% — o que é um alívio para a o governo e para o bolso do assalariado —, a economia chegou ao limiar da recessão.
Chame o Lula!
O samba de Paulinho da Viola, além de falar da corrosão dos salários pela inflação — “Ando comprando fiado/Porque meu dinheiro não dá/Imagine se eu fosse casado/Com mais de seis filhos para sustentar” —, vem a calhar porque relata as agruras do trabalhador com a recessão: “Nunca me deram moleza/E posso dizer que sou trabalhador/Fiz um trato com você/Quando fui receber você não me pagou/Mas ora meu bem”. Isso é o que acontece com empresas em dificuldades para honrar seus compromissos diante da estagnação econômica.
Velho samba à parte, a mistura de pessimismo com disputa eleitoral inviabiliza medidas de curto prazo para combater a recessão que não sejam meros paliativos. São as incertezas políticas. Uma das maiores críticas ao governo diz respeito ao comportamento errático de sua política econômica. Decisões pseudoestruturantes do que seria uma “nova matriz” econômica, como reduzir a fórceps as tarifas de energia e arbitrar as taxas de retorno dos investimentos , deixaram o “instinto animal” do mercado em estado de alerta, como diria o ex-ministro Delfin Neto. Além disso, represar os preços dos combustíveis e das tarifas públicas sinalizam inflação e desvalorização cambial no futuro, o que deixa investidores de orelha em pé.
O mea-culpa de Dilma Rousseff seria a única alternativa para recuperar a confiança do mercado, mas só ocorre nos bastidores, uma vez que reconhecer os próprios erros abertamente seria levar água para o moinho da oposição. Não tem eficácia porque há dois discursos. Quando fala à Nação sobre a economia, o opção da presidente da República é descer o sarrafo nos pessimistas, como fez às vésperas da Copa do Mundo.
Na política propriamente dita, a estratégia do Palácio do Planalto é atender aos “pleitos” dos aliados que permanecem fiéis e atacar duramente a oposição, principalmente o candidato do PSDB, Aécio Neves. O tucano encostou em Dilma nas simulações de segundo turno e precisaria ser “desconstruído”, pois surge como alternativa de poder capaz de reverter o atual cenário econômico. Mesmo assim, do ponto de vista eleitoral, não basta o jogo bruto. Diante de uma recessão, a alternativa de Dilma é chamar o Lula e aceitar sua tutela, uma saída a la Vladimir Putin, o presidente russo que se reveza no poder com o primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, desde 1999.
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