• Derrota de Lula seria pior maneira de o partido sair do poder
- Valor Econômico
Mal terminada a corrida presidencial, com a reeleição apertada de Dilma Rousseff, as atenções se voltam para as disputas internas no Executivo, no Congresso e nos partidos. Quem ocupará o ministério da Fazenda, a Casa Civil, a presidência da Câmara e, no movimento mais importante de todos, sobre quem o PT depositará suas fichas, na eleição de 2018, para manter a hegemonia no governo federal. Como se sabe, o mundo político move-se pelo poder e, por vezes, mais ainda, pela expectativa de poder - para onde ela aponta.
Lula é o nome mais óbvio - embora não necessariamente o mais provável. Ontem, o ex-presidente divulgou vídeos nos quais dá sua visão sobre o "processo eleitoral de 2014 e o futuro do Brasil".
No primeiro, reclamou da agressividade "muito dura" e inédita contra o PT, estimulada, em sua opinião, por declarações do candidato derrotado do PSDB, Aécio Neves, de que era preciso tirar o PT do poder. Disse que os eleitores deram uma lição de democracia e pediu mais sensibilidade social a quem critica os programas federais, pelo ódio e preconceito contra os pobres. "Felicidade ou a gente reparte ou a gente perde. Não é possível ser feliz sozinho. Então vamos socializar essa felicidade". É um apelo aos eleitores de Aécio.
No segundo, Lula voltou a citar o senador ao dizer que a responsabilidade de unificar o país, depois de uma disputa tão polarizada, é de todos, inclusive dos partidos, dos movimentos sociais e de quem perdeu a eleição, e não só de Dilma, como pediu o tucano no discurso em que reconheceu a derrota.
Ao mesmo tempo, Lula argumentou que o país não está dividido. Que a tensão é natural, como a das torcidas numa partida de futebol. Mas que Dilma saberá governar para todos, ricos e pobres, com um coração valente e também "de mãe". Afirmou que é preciso acatar o resultado eleitoral, como ele o fez em 1989, 1994 e 1998, e "respeitar a diversidade democrática". É um recado para os líderes da oposição e aos que se levantam por impeachment.
De camisa polo vermelha, com uma estrela branca bordada com a sigla do PT, Lula não transmite a imagem de quem - em suas próprias palavras - "desencarnou" completamente do cargo. Pela oratória e iniciativa de comentar o processo eleitoral em vídeos, indica que quer tomar conta da situação.
Demonstra que pretende manter para si a expectativa de poder dos petistas. Nem que seja para abdicar dela, mais à frente, e ser o condutor do processo de sucessão de Dilma.
Se antes o 'Volta Lula' era constrangido pela naturalidade da reeleição da presidente, agora o movimento tem passe livre. A própria Dilma afirmou, após a vitória, que o ex-presidente terá o papel que quiser em relação a 2018.
Lula é a maior segurança eleitoral para que o PT permaneça no poder pelo menos até 2022 - ano, aliás, em que o ex-presidente já projetou uma comemoração do bicentenário da Independência para exaltar os feitos de possíveis 20 anos de governo petista.
Sem Lula, crescem as chances da oposição, que, por pouco, no domingo, não interrompeu o projeto de longo prazo do PT. Estatísticas mostram que na ausência de um candidato à reeleição, como será em 2018, a probabilidade de qualquer governo eleger um sucessor cai drasticamente - a não ser que o concorrente já seja largamente conhecido, testado e aprovado. Como Lula, que saiu do cargo com mais de 80% de avaliação positiva.
A alta popularidade, no entanto, é também desvantagem para a afirmação da candidatura - do ponto de vista pessoal e partidário.
Primeiro, Lula porá em risco o prestígio que poucos presidentes tiveram na história republicana? Segundo, até que ponto uma eventual derrota do seu maior líder representaria para o PT, simbolicamente, a pior maneira de sair do governo federal? No longo prazo, preservar a imagem de sucesso de Lula pode ser um ativo partidário tão importante quanto o objetivo imediato de se agarrar ao poder.
É de se perguntar também em que condições, aos 73 anos, o ex-presidente concorreria. Quatro anos depois de uma eleição em que mudança e renovação se tornaram palavras de ordem, como a candidatura Lula seria vista pelo eleitorado jovem? Como a reedição de Ulysses Guimarães, cuja campanha em 1989 pedia para a população botar "fé no velhinho"?
Por outro lado, mais do que tudo, a chance de permanência do PT no poder dependerá de como estará a avaliação de governo em 2018. Isso depende de Dilma. A presidente precisará transformar o intenso clima de mudança - do qual escapou por um triz - em um movimento pelo desejo de continuidade.
Nesse cenário, de vento a favor, o candidato tanto pode ser Lula quanto outro nome a ser construído, como o do governador da Bahia Jaques Wagner.
Bem sucedido na eleição estadual, ao eleger seu sucessor - o desconhecido Rui Costa, no qual apostou apesar de grande divergência no PT baiano - Wagner é muito próximo de Dilma e pule de dez para ocupar um ministério de peso no próximo mandato. Caso vá para a Casa Civil, é sinal de que será plano A ou B, de Dilma e do PT. Terá 67 anos em 2018.
Em relação ao atual ministro Aloizio Mercadante - três anos mais jovem - Wagner tem a vantagem de ter um perfil mais conciliador, agregador. Uma possível desvantagem está no fato de vir do Nordeste, região onde o partido já tem eleitorado cativo.
Na próxima corrida presidencial, a missão do PT é recuperar parte de todo o extenso terreno que vem perdendo no Sul, Centro-Oeste e, principalmente, Sudeste.
Encontrar um petista vitorioso nestas regiões - além de Fernando Pimentel, cuja meta em 2018 será a de preservar e fortalecer a posição conquistada em Minas - é tarefa ingrata. Mercadante perdeu o governo de São Paulo em 2006 e 2010.
Nos mesmos anos, Wagner foi eleito e reeleito na Bahia. Mas eventual candidatura do baiano, ironicamente, teria risco semelhante à de Aécio, cuja derrota para Dilma começou pela de seu grupo político em Minas, no primeiro turno. Wagner dependeria do bom desempenho de Rui Costa para que o feitiço do slogan "Quem conhece não vota" não se volte contra os feiticeiros do PT.
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