• Ninguém sabe exatamente o que o doleiro revelou, mas quem foi beneficiado pelo esquema da Petrobras tem consciência de quanto recebeu e como o dinheiro chegou
Correio Braziliense
O doleiro Alberto Youssef deixou ontem o Hospital Santa Cruz, em Curitiba, após receber alta e retornou para a sede da Polícia Federal. Fora hospitalizado após passar mal na carceragem da PF em Curitiba, com forte queda de pressão, sendo internado, na UTI coronariana, o que deu origem a uma onda de boatos à véspera das eleições, de que teria sido envenenado. Na manhã de domingo, nas redes sociais, chegou a circular que ele havia morrido.
Youssef voltará à rotina de depoimentos ao juiz federal Sérgio Moro, considerado uma das maiores autoridades do país em crimes de lavagem de dinheiro por sua atuação no caso Banestado e, depois, como auxiliar da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber no julgamento do mensalão. Preso desde março deste ano, o doleiro é acusado de chefiar um esquema de desvio e lavagem de dinheiro, estimado em R$ 10 bilhões, desvendado pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal, mas entrou em acordo com os procuradores do Ministério Público Federal (MPF) para obter o benefício da delação premiada.
O doleiro se comprometeu a dizer tudo o que sabe sobre o esquema de lavagem de dinheiro que chefiava, em troca de reduções nas penas que podem lhe ser imputadas. Segundo os bastidores da investigação, suas revelações são muito mais contundentes do que as do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa, que já obteve o benefício da delação premiada. Toda a contabilidade do esquema de desvio de recursos da Petrobras em poder da Polícia Federal estaria sendo destrinchada pelo doleiro nos depoimentos ao juiz federal.
Cerca de 80 políticos com mandato estariam envolvidos no esquema de desvio de recursos, segundo as investigações da Lava-Jato. Com as planilhas, estariam também os comprovantes das transferências de recursos. A Polícia Federal, a Receita Federal e o Banco Central(BC) estão colaborando com as investigações no rastreamento dessas operações. As denúncias podem causar um strike no Congresso, com dezenas de cassações, pois as denúncias seriam acompanhada de provas documentais e não apenas dos testemunhos dos operadores do esquema. Outros envolvidos, inclusive executivos, também já estão negociando a delação premiada com o Ministério Público Federal.
Youssef deveria ontem comparecer à CPI mista que investiga a Petrobras, mas o depoimento foi suspenso por causa do estado de saúde. Se comparecesse, manteria sigilo sobre os depoimentos dados em segredo de Justiça, para não perder o benefício da delação premiada. Citar seu nome no Congresso é como falar de corda em casa de enforcado. Ninguém sabe exatamente o que ele revelou, mas quem foi beneficiado pelo esquema da Petrobras tem consciência de quanto recebeu e como o dinheiro chegou, como uma espécie de Raskólnikov, aquele personagem de Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski.
Não importa se o recurso foi usado para financiamento de campanha ou em benefício da formação de patrimônio pessoal, se o dinheiro for rastreado, a origem será o superfaturamento ou o desvio de recursos de obras da Petrobras. Boa parte da tensão existente na base governista tem a ver com o fantasma dessas investigações, uma vez que a maioria dos envolvidos seriam ligados ao PT, ao PMDB e ao PP. Há também uma grande expectativa em relação a novas prisões pela Polícia Federal, uma vez que muitos envolvidos, principalmente executivos das empresas flagradas no esquema, não têm direito a foro especial.
No Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff foi aconselhada a manter distância regulamentar em relação ao Congresso por causa da Operação Lava-Jato. A proposta de plebiscito para aprovar a reforma política e a busca de apoio junto de entidades da sociedade civil fazem parte de uma estratégia para aproveitar o desgaste do Congresso em razão de novas revelações sobre a Operação Lava-Jato. A própria reforma da equipe de governo estaria em compasso de espera devido a isso, pois há integrantes da atual equipe de governo citados nos depoimentos.
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