Deixando de lado, ou ignorando, a necessidade de respostas à piora dos vários indicadores da economia com algum gesto crível destinado a conter ou ao menos reduzir o grande desgaste do governo junto ao mercado, interno e externo (como a “Carta aos Brasileiros”, que atenuou significativamente o re-ceio do empresariado com a candidatura de Lula em 2002), ao invés de uma inflexão nesse sentido a campanha reeleitoral da presidente Dilma Rousseff no 2º turno deverá reagir ao fortalecimento da do oposicionista Aécio Neves por meio de radicalização da retórica, ideológica “pobres contra ricos”’ ainda maior do que a utilizada ao longo do embate do 1º turno. Retórica que havia sido preparada para o enfrentamento do tucano mas foi reorientada para a “desconstrução” de Marina Silva, convertida em “neoliberal”, instrumento servil dos banqueiros, ame-aça ao Bolsa Família e demais programas assistencialistas. E retórica que, com grau de credibilidade diminuído pela troca de alvo, será intensificada contra Aécio. Com previsível associação, central na campanha governista no horário “gratuito”, a pesados ataques pessoais, voltados à desqualificação ética do adversário. Outro ingrediente da radicalização esquerdista - agressivas manifestações de rua de “movimentos sociais” como o MST e o MTST e de sindicalistas da CUT - deverá ser posto em prática, embora dificultado ou restringido pelo desgaste político e social do petismo nos grandes centros urbanos.
A radicalização social mais intensa será também a arma básica da candidata Dilma para contrapor-se a Aécio no debate, que agora de imporá, dos problemas da economia (inflação oficial já além do limite de tolerância da meta; PIB próximo de zero, com forte queda dos investimentos e do emprego industrial; aumento do déficit comercial do país; agudo descontrole das contas públicas), bem como dos escândalos de corrupção na Petrobras e em vários órgãos e empresas da União. Os quais ela tentará compensar, ou banalizar, com acusações do mesmo caráter ao governo FHC, ao “cartel do Metrô” de São Paulo, à construção e ao uso do aeroporto mineiro de Cláudio. Mas a atualidade, a frequência e a diferença de escala dos escândalos ligados ao petismo, a partir do mensalão, vão debilitar muito esse contra ataque, que poderá ser esvaziado inteiramente por possíveis revelações adicionais sobre a delação premiada de Paulo Roberto Costa e novas sobre a que está sendo feita por Alberto Yousseff.
Os entendimentos para o apoio de Marina Silva a Aécio, desencadeados pelo PSB pernambucano da família de Eduardo Campos e do governador eleito Paulo Câmara, serão concluídos formalmente ama-nhã numa entrevista coletiva da própria Marina Silva. À qual deverá seguir-se um encontro dela com o candidato tucano. Outro passo expressivo nesse sentido: a aliança formalizada ontem no Rio Grande do Sul entre as candidaturas de José Ivo Sartori (do PMDB local pró-Marina) ao governo do estado, e a presidencial de Aécio, para embate com os petistas Tarso Genro e Dilma Rousseff. Aliança que envolveu a adesão a Sartori de sua adversária no 1º turno, Ana Amélia, do PP, bem como do PSDB gaúcho. E um dos partidos da coligação de Marina, o PPS, já manifestou apoio a Aécio. O que também é esperado do PV de Eduardo Jorge.
Bolsa, dólar e o PIB. O mercado financeiro segue nesta quarta-feira apostando na mudança da política econômica. O que é reforçado pelas informações do conjunto da imprensa sobre o preparo do apoio de Marina Silva a Aécio Neves. E antecipa a expectativa de avanço do candidato oposicionista em pesquisas sobre o 2º turno com divulgação esperada para hoje à noite e amanhã. A Bovespa volta a se reaproximar dos 58 mil pontos, puxada pelo salto das ações das Petrobras, Eletrobras e Banco do Brasil, que recuperam parte dos enormes prejuízos sofridos nos últimos meses. De par com nova queda da cotação do dólar – outro indicador da aposta em tal mudança. Enquanto isso, com grande repercussão no conjunto da mídia, o Panorama Econômico Mundial, do FMI,, divulgado ontem, reduziu a previsão do PIB/2014 do Brasil de 1,3% para 0,3%. Na América do Sul, acima apenas das relativas à Venezuela, de -3,7%, e à Argentina, de -1,7%. Previsão que inclui a de aumento do desemprego em 2015 para 6,1%.
Jarbas de Holanda é jornalista
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