• Lula se incomoda com Graça Foster à frente da Petrobras
- Valor Econômico
Entre os últimos sábado e domingo, a presidente Dilma Rousseff avançou dois passos e deu um para trás no chamado escândalo da Petrobras. Cobrada a se posicionar pelos adversários, desde o primeiro turno, a presidente avançou quando reconheceu que houve desvio de dinheiro público em operações capitaneadas pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa. Não se tratava de saber se houve ou não desvio de recursos. " Houve, viu?", disse, em entrevista coletiva concedida no sábado no Palácio da Alvorada. No debate da TV Record, domingo à noite, a presidente da República foi um pouco mais cuidadosa e disse que havia "indícios de desvio" de dinheiro público.
No sábado, a candidata não deixava margem para dúvidas. "Nós queremos ele (o dinheiro desviado) de volta", disse aos repórteres escalados para ouvi-la num dos dias mais quentes e secos deste ano, em Brasília. "Ninguém sabe ainda o que é que deve ser ressarcido, porque a chamada delação premiada, onde tem os dados mais importantes, não foi entregue a nós" disse a candidata. "Agora, ressarcir, eu farei todo o meu possível para ressarcir o país se houve desvio de dinheiro público".
As declarações feitas no debate da Record deixaram Dilma mais próxima de seu partido, o PT. Com alguns de seus quadros envolvidos na delação premiada de Paulo Roberto Costa, o Partido dos Trabalhadores insiste que não bastam as declarações do ex-diretor da Petrobras ou de qualquer uma das outras quatro pessoas que fizeram acordo com a Justiça para contar a verdade em troca de redução de penas. É preciso também que apareçam recibos, depósitos, transferências de dinheiro para que as delações não sejam apenas denúncias vazias, mas fatos concretos que possam ser comprovados. O Supremo Tribunal Federal (STF) é que dará a palavra definitiva sobre o que foi delatado especialmente por Costa e pelo doleiro Alberto Youssef.
Até o domingo à noite, os interlocutores mais assíduos da presidente apostavam muito mais na Dilma de sábado que na Dilma da TV Record. Com o mandato renovado, ela estaria disposta a enfrentar o sistema político que permite a um condomínio de partidos nomear e manter por anos um diretor como Paulo Roberto Costa, mas também disposta a bater de frente com a tendência dominante no PT, chamada de Construindo um Novo Brasil (CNB), grupo que está por trás de todas as denúncias nas quais o PT esteve envolvido, depois que assumiu o Palácio do Planalto, em 2003.
Resenha breve: a cúpula da CNB esteve envolvida no mensalão, no episódio dos aloprados e agora alguns de seus integrantes foram citados no escândalo da Petrobras. A acomodação no governo, a prisão e as denúncias contra seus principais dirigentes fizeram com que a CNB deixasse de formular políticas e de dirigir o partido. Deve-se atribuir grande parte do péssimo desempenho eleitoral de Dilma e do PT, em São Paulo, à implosão da CNB. Não é à toa que o PT é rejeitado por pouco mais de 21% dos paulistas, índice que no Ceará não passa da casa de um dígito. Já no Paraná, próximo a São Paulo, também governado pelo PSDB, o índice de rejeição do petismo chega a cerca de 13%.
Não importa o vencedor de domingo, o escândalo da Petrobras vai cair no colo do próximo presidente da República. Dilma ou Aécio Neves (PSDB), o candidato da oposição, podem fazer um bom uso dele, pois há um consenso, entre os dirigentes partidários, que o caso tem potencial para atingir toda a atual cúpula de um Congresso controlado pelo PMDB, é certo, mas com fatias de poder mãos do PT e dos demais partidos aliados. No limite, a crise política decorrente da implosão do esquema Petrobras tem o mesmo poder de destruição da CPI do Orçamento, nos anos 1990, e do mensalão, de 2005. As duas atingiram a elite dirigente do Congresso.
A crise pode levar a um realinhamento de forças no Legislativo, o que deve exigir dedicação, habilidade e poder de articulação do presidente da República com o Congresso. Uma oportunidade para o encaminhamento da proposta de reforma política, cujo êxito será maior à medida que não represente os interesses de um só partido, sobretudo o PT (no governo ou na oposição). Constituinte exclusiva, como quer a presidente, tem poucas chances de sucesso. Está amadurecendo o fim das coligações proporcionais. Junto com mudanças na legislação sobre o financiamento de campanhas, essas duas mudanças em duas ou três eleições poderiam reduzir o número de partidos com representação no Congresso dos 28 que elegeram parlamentares, na eleição, a cinco ou seis. O financiamento público encontra dificuldades entre os congressistas, mas tudo indica que o STF vai acabar com o financiamento de empresas.
Se conseguir a reeleição, no domingo, a presidente Dilma terá de lidar também com o contencioso interno do PT. À exceção de Ricardo Berzoini (Relações Institucionais), os nomes projetados para o próximo governo são de tendências concorrentes da CNB, como a Democracia Socialista (DS) do ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) ou a Mensagem ao Partido, do governador da Bahia, Jaques Wagner. Peça-chave nessa recomposição da maioria, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não terá dificuldades para rifar a CNB, se lhe for conveniente. Ele próprio tem convocado o PT a voltar às ruas. Mas a Petrobras é uma das causas principais da tensão que permeou suas relações com a presidente, durante a atual campanha eleitoral.
Lula se incomoda particularmente com a atuação de Graça Foster à frente da presidência da Petrobras, como se tudo o que houve de ruim na estatal tivesse ocorrido em seus dois mandatos.
Boa parte do PT de Brasília planeja votar em Jofran Frejat para o governo distrital, candidato do PR que tem como vice a mulher do ex-governador José Roberto Arruda. O candidato favorito é um aliado histórico dos petistas, Rodrigo Rollemberg. Argumento: com o PSB no poder, será mais difícil fazer oposição.
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