• Atual tesoureiro do PT ganhou cargo para compensar perda da presidência da Caixa
Maria Lima, Danilo Fariello e Sérgio Roxo – O Globo
BRASÍLIA e SÃO PAULO - Citado na delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como um dos operadores do esquema de distribuição de propinas na estatal, o secretário financeiro do PT, João Vaccari Neto, virou tema da reta final da campanha presidencial, quando Aécio Neves, no último debate, na TV Record, cobrou de Dilma Rousseff, candidata à reeleição, a demissão do correligionário do Conselho de Administração da usina Itaipu Binacional. Dilma silenciou ao ser perguntada por que não demite o petista. Pesquisa no Diário Oficial mostra que Vaccari chegou ao posto por nomeação da própria presidente, em 2003, quando era ministra das Minas e Energia. Com mandato de quatro anos, desde então vem sendo reconduzido ao cargo. A remuneração por participação nas reuniões do conselho de Itaipu é de R$ 20.804,13. O atual mandato de Vaccari vai até 16 de maio de 2016.
A nomeação foi uma espécie de prêmio de consolação dada a Vaccari, que foi preterido na disputa da presidência da Caixa Econômica Federal. No mesmo dia, foi nomeada para o cargo de diretora financeira executiva de Itaipu a atual senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
No último debate, Aécio disse que se sem cargo na Petrobras o petista era acusado de participar de um esquema de 3% de propinas nos contratos da empresa, a situação poderia ser mais grave em Itaipu onde tem crachá.
- A senhora confia nele? - questionou Aécio.
Jeton é o mais alto do Executivo
O jeton pago aos conselheiros de Itaipu é o mais elevado do executivo federal, e o governo vem rotineiramente indicando pessoas com ligação política para seus assentos. Em 22 de janeiro de 2003, quando assumiu o governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também assinou, com a então ministra de Mina e Energia, Dilma Rousseff, a nomeações de Luiz Pinguelli Rosa e Mauricio Tolmasquim, ainda hoje assessores do Executivo, para a área elétrica.
Apesar de suas sucessivas reconduções, Vaccari vem respondendo, desde 2010, à denúncia do Ministério Público por suposto desvio de recursos, da Bancoop, uma cooperativa habitacional. Vaccari é réu por estelionato, formação de quadrilha, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. No início da gestão petista, Vaccari, que era presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e secretário de finanças da CUT, chegou a ser cotado para ocupar a presidência da Caixa Econômica Federal. Preterido, acabou nomeado para o conselho da hidrelétrica. A nomeação tinha o objetivo de complementar o mandato até 17 de maio de 2004. Depois, Vaccari foi reconduzido ao posto naquele ano e em 2008. Em 2012, quando ele já havia assumido a tesouraria do PT e Dilma já estava na presidência, houve uma nova recondução, com validade até 2016.
A assessoria de Itaipu informou que Vaccari, assim como os outros conselheiros, possui crachá para ter acesso ao Edifício de Produção, onde são realizadas as reuniões do Conselho de Administração. O conselho se reúne apenas seis vezes por ano, mas podem acontecer encontros extraordinários. De acordo com a assessoria de Itaipu, em quase 12 anos o tesoureiro do PT teve uma falta, que foi justificada.
Hoje, entre os sete conselheiros indicados pelo lado brasileiro para o conselho de Itaipu (são outros sete pelo lado paraguaio), estão o ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil; Vaccari; Pinguelli; José Muniz Lopes, diretor da Eletrobras; o ex-governador do Rio Grande do Sul, Alceu Collares (PDT); e o filho de Orlando Pessuti (PMDB), ex-governador do Paraná, Orlando Moisés Pessuti. O sétimo nome é de Eduardo Santos, indicado pelo Itamaraty.
Gleisi questiona "valentia" de deputado
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse ontem, por meio de nota, que a "valentia" do líder do Solidariedade na Câmara, deputado Fernando Francischini (PR), em querer convocá-la à CPI da Petrobras é "seletiva". De acordo com denúncia do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, Gleisi teria recebido R$ 1 milhão para sua campanha ao Senado, em 2010.
Na nota, a senadora lembra que o deputado Luiz Argôlo (BA), envolvido na Operação Lava-Jato, é do mesmo partido de Francischini. "A valentia do ex-delegado é seletiva. Quando divulgaram o nome de dezenas de deputados que estariam envolvidos, inclusive um do partido dele e o próprio presidente da Câmara, ele não falou em convocar ninguém. Além disso, se apresenta como amigo do juiz do processo e detentor de informações privilegiadas, que ameaça divulgar. É bom divulgar logo tudo, para não parecer que quer achacar alguém", diz a nota.
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