Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo
Nesta reta final de segundo turno, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, recebeu apoio de intelectuais e profissionais liberais que assinaram um manifesto intitulado "Esquerda Democrática com Aécio Neves". Lançado no dia 16, tinha 774 apoiadores até o início da tarde desta segunda-feira, reunindo nomes que já foram simpatizantes do PT e da ex-senadora Marina Silva (PSB), como o ator Marcos Palmeira, os cineastas Zelito Viana e Wladimir Carvalho, a produtora cultural Helena Severo, o economista José Eli da Veiga e o cientista político José Álvaro Moises, ambos da USP, o ex-presidente do IBGE Sergio Besserman Vianna e o cientista político Luiz Eduardo Soares, que foi Secretário de Nacional Segurança em 2003, no governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Outro apoiador é o ministro aposentado do STF Eros Grau, que foi indicado no governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva, mas já declarou que sempre foi simpático ao PSDB e é muito amigo do vice na chapa tucana, senador Aloysio Nunes Ferreira. No manifesto de dez tópicos, muito signatários afirmam que no passado votaram no PT, mas agora votam em Aécio Neves em defesa do "pluralismo democrático" e dizem terem ficado decepcionados com a forma como o PT tratou a presidenciável Marina Silva (PSB) no primeiro turno, hoje aliada de Aécio.
"A campanha petista no primeiro turno valeu-se de táticas e subterfúgios que desonram o bom debate. Caluniou, difamou e agrediu moralmente a candidatura de Marina Silva, sob o pretexto de que seria preciso fazer um ''aguerrido'' confronto político. Atropelou regras procedimentais e parâmetros éticos preciosos para a esquerda e a democracia", diz um dos trechos do manifesto.
Em outro, os signatários destacam: "Sempre respeitamos o PT em cujos candidatos muitos de nós já votaram. Pensamos que o rico pluralismo da esquerda deve se combinar com a recusa a qualquer posicionamento inflexível, submisso a princípios abstratos ou comandos partidários.
Não aceitamos que nenhum partido atue como se fosse o único representante coerente da esquerda ou da democracia."
Veja a íntegra do manifesto:
Esquerda Democrática com Aécio Neves
Democracia, Direitos Sociais e sustentabilidade
1. Somos democratas. Intelectuais, profissionais de diferentes áreas, cidadãos de esquerda, ativistas de causas e ideias variadas. Alguns de nós estão ou estiveram vinculados a partidos. Outros jamais tiveram qualquer ligação deste tipo. Nossas posições independem de orientação partidária. Integramos o amplo e diversificado universo de homens e mulheres que defendem a democracia política, o pluralismo e a justiça social como base para uma sociedade mais igualitária, fraterna.
2. Sempre respeitamos o PT, em cujos candidatos muitos de nós já votaram. Pensamos que o rico pluralismo da esquerda deve se combinar com a recusa a qualquer posicionamento inflexível, submisso a princípios abstratos ou comandos partidários. Não aceitamos que nenhum partido atue como se fosse o único representante coerente da esquerda ou da democracia.
3. Partidos e políticos mudam ao longo do tempo. Nós, cidadãos, também. Governos nascem de um jeito, mas não permanecem iguais. O que se fez num período não pode ser repetido sem mais em outro período. Realizações de um tempo servem de base para conquistas de um tempo seguinte, mesmo que governos sejam distintos ou adversários. Valorizar conquistas cumulativas, buscar consensos mais que divergências, é um caminho que se mostra particularmente importante no Brasil, que tem vivido uma intensa modernização econômica e social sem o devido acompanhamento de uma modernização política.
4. Nas eleições de 2014, nos decepcionamos com o PT. A campanha petista no primeiro turno valeu-se de táticas e subterfúgios que desonram o bom debate. Caluniou, difamou e agrediu moralmente a candidatura de Marina Silva, sob o pretexto de que seria preciso fazer um “aguerrido” confronto político. Atropelou regras procedimentais e parâmetros éticos preciosos para a esquerda e a democracia.
5. Chegou a hora de as oposições mostrarem que podem governar o País. A aliança programática que se constituiu em torno de Aécio Neves, impulsionada por PSDB, PSB, PPS e PV, entre outros partidos, e pelo apoio de militantes da Rede e de lideranças políticas expressivas, como Marina Silva, será importante para que se consolide uma perspectiva de renovação. Agregará mais pessoas comprometidas com a democracia. E ajudará a que se supere o quadro de estagnação polarizada em que se encontra a política nacional, criando um polo progressista novo, alargado e requalificado.
6. Aécio Neves e aliados representam uma oportunidade para que se retomem os fios rompidos da vasta tradição do reformismo democrático no Brasil. Seu governo poderá dar seguimento às vitoriosas políticas sociais dos últimos anos. Programas de grande impacto social, como o Bolsa Família, o Mais Médicos e o Minha Casa Minha Vida, podem e devem ser aperfeiçoados, reestruturados e ampliados. O Estado precisa continuar a ser recuperado como fator de regulação econômica e de promoção do progresso social.
7. Nossa meta é ajudar a que tenhamos um País onde o governo dialogue com a sociedade, onde haja mais participação e os movimentos sociais sejam ouvidos, onde não se criminalizem as mobilizações populares e a polícia atue nos marcos do Estado de Direito, onde se governe para todos e se respeitem as minorias, étnicas e de gênero, as sociedades indígenas, as comunidades quilombolas e seus territórios, valorizando-se a educação, a saúde, a previdência e a Seguridade Social. Queremos um Brasil onde todos possam viver, trabalhar e conviver em paz, sem medidas que sacrifiquem e comprometam a juventude ou reprimam a criatividade e a diversidade cultural do País. Não aceitamos que se aprisione a sociedade num maniqueísmo “povo” x “elite”, que leva os cidadãos a simplificar o que não pode ser simplificado. Nem que se deixe solto o poder econômico e se permita que empreiteiras e grandes empresas invadam o processo político e eleitoral, corrompendo e deformando a democracia. A reforma do sistema político e da política tornou-se um imperativo democrático.
8. Devemos adotar uma visão mais abrangente do desenvolvimento e introduzir com clareza a sustentabilidade nas decisões sobre políticas públicas, fazendo com que ela esteja presente tanto no campo quanto nas cidades. A mudança climática precisa ser firmemente confrontada. Numa sociedade como a brasileira, a agricultura familiar e camponesa deve ser fortalecida, por inúmeras razões econômicas e sociais, assim como se deve atuar para proteger nossos territórios, seus recursos naturais e suas populações.
9. Precisamos de governos que bloqueiem a corrosão que os interesses privados vêm promovendo no campo público, como ocorre no SUS, na educação e na política assistencial. O capitalismo brasileiro se consolidou sob os governos do PSDB e do PT, tendo sido modelado pelas mesmas elites econômicas e pela predominância do capital financeiro. Agora, temos de avançar para um novo patamar de modernização e superar o padrão de liberalismo que presidiu àquela consolidação. Não dá para aceitar que os setores mais pobres da população sejam abandonados à própria sorte ou transformados em consumidores, em vez de cidadãos. Os direitos humanos não são negociáveis e nem se pode postergar a expansão dos direitos sociais e dos trabalhadores, seja mediante o aumento e a qualificação dos empregos, seja mediante a melhoria geral das condições de vida.
10. Como democratas, votaremos neste segundo turno em Aécio Neves e na aliança que se forma em torno de sua candidatura. Conclamamos eleitores e políticos dos diferentes partidos a nos acompanharem nesta opção. Ela se mostra hoje o melhor caminho para a reforma da política, a recuperação das boas práticas de governo e a preservação das conquistas sociais tão duramente alcançadas nas últimas décadas.
16 de outubro de 2014
Veja a lista dos signatários no site: http://esquerdademocratica. com.br/
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