- O Estado de S. Paulo
Desta vez não haverá surpresa se o Comitê de Política Monetária, o Copom, decidir nesta quarta-feira por mais um aperto dos juros. A melhor aposta é a alta de meio ponto porcentual, que eleve os juros básicos (Selic) a 11,75% ao ano.
Na reunião anterior, que se realizou três dias após o segundo turno das eleições, sem prévio aviso e para sobressalto geral, o Banco Central não vacilou em puxar os juros em 0,25 ponto porcentual.
Agora, há pelo menos dois avisos claros do que fará. No dia 13, em Florianópolis, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, passou o recado claro de que o Copom seria especialmente duro com a inflação.
Na semana passada, na apresentação da nova equipe econômica, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que será reconduzido ao cargo, também fez questão de enfatizar que a autoridade monetária será implacável com os efeitos colaterais da inflação produzidos pelo atual processo de realinhamento de preços.
Com isso quis dizer que há uma inflação causada tanto pelos reajustes dos preços administrados (energia elétrica, combustíveis e transportes urbanos) como pela alta do dólar no câmbio interno. Essa inflação tem de ser combatida com reforço da política dos juros, disse Tombini.
Isso não é tudo. Este é o momento de inflexão e de retorno à ortodoxia, desdenhada pelo governo ao longo de todo o primeiro período Dilma. Seria incompreensível se o Banco Central desafinasse agora e deixasse os juros de fora do programa de ajuste.
Na última segunda-feira, o ex-ministro Delfim Netto advertiu que as políticas fiscal, monetária e cambial têm de ser harmonizadas para ganhar eficácia não apenas contra a inflação, mas, também, para combater as distorções que emperram a economia. Esse movimento também sugere uma dose maior dos juros básicos (Selic), de 0,5%, nesta última reunião do ano.
O Brasil vai na contramão do que acontece nos demais países ricos e até mesmo nos países emergentes, onde os juros vêm caindo. Quando entendeu que devia explicar o mau desempenho da economia brasileira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, invariavelmente responsabilizou a crise global. Isso talvez pudesse explicar os maus resultados da balança comercial, mas não o comportamento da inflação.
No mundo inteiro, os preços estão caindo e os grandes bancos centrais enfrentam risco de deflação, ou seja, risco de queda constante de preços. Aqui aconteceu o contrário, porque a política econômica descuidou das contas públicas e, com isso, provocou aumento desproporcional da demanda.
Enfim, o Banco Central trata agora de afastar quaisquer impressões de vacilação e de fraqueza diante das inevitáveis pressões heterodoxas. Precisa retomar o controle das expectativas perdidas ao longo da primeira administração Dilma, não só quando derrubou prematuramente os juros entre agosto de 2011 e abril de 2013, mas, também, quando fraquejou diante da flácida política fiscal do governo.
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