- O Estado de S. Paulo
O secretário nacional de Finanças do Partido dos Trabalhadores (PT), João Vaccari Neto, foi ouvido, anistiado, aplaudido e blindado pelos integrantes do Diretório Nacional de seu partido na última sexta-feira em reunião num hotel em Fortaleza, à qual compareceu a presidente Dilma Rousseff em pessoa. Idêntico comportamento tiveram os petistas quando seu antecessor no posto de tesoureiro do partido no poder no País, Delúbio Soares, foi processado pela Polícia Federal (PF), acusado pelo procurador-geral da República e condenado pela maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Tanto Delúbio quanto outros dirigentes do PT e da cúpula do primeiro governo federal petista cometeram os graves crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. E eles ainda cumprem pena.
Ao contrário do antecessor, é bem verdade, Vaccari ainda não foi condenado nem sequer indiciado ou chamado a depor pelos agentes e procuradores que devassam a roubalheira na Petrobrás, apelidada de petrolão. Este nome guarda relação com mensalão, denominação pela qual se tornou célebre o escândalo da compra de apoio de pequenas bancadas no Congresso Nacional pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva e pelo partido dele e de Dilma Rousseff. Mas se tomaram conhecimento do que foi noticiado pelos meios de comunicação ao longo deste ano, nem a presidente nem o ex, muito menos o alto comando do PT, podem alegar desconhecimento das inúmeras vezes que o nome de Vaccari foi citado nas delações premiadas do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, que Lula chamava de Paulinho, e do doleiro Alberto Youssef, chamado de Beto até mesmo por companheiros que dizem nunca tê-lo visto.
Como Luiz Gushiken e Ricardo Berzoini, Vaccari é egresso do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Como sindicalista ocupou a presidência da Bancoop, cooperativa acusada por mutuários de ter vendido moradias que não entregou ou, quando o fez, não ter cumprido o que foi acertado e pago. E a Justiça acatou as denúncias.
Costa e Youssef acabaram de contar a policiais e procuradores federais que participam da Operação Lava Jato que o tesoureiro recebia a parte que cabia ao PT na propina de 3% da roubalheira na Petrobrás destinada a três partidos (os outros, também da base aliada, claro, seriam o PP e o PMDB). A hipótese de que os delatores premiados tenham mentido, seja por que razão tiverem, é injustificável.
Com o farto noticiário a respeito do escândalo protagonizado pela dupla, acusada de ter lavado R$ 10 bilhões, qualquer um sabe que só é reduzida ou cancelada a pena do delator quando o que ele contou pode ser comprovado nas investigações ou com documentação. Caso minta, perde o prêmio.
Três procuradores federais foram à Suíça para de lá repatriarem, com autorização do Paulinho do Lula, dono das contas sigilosas, quase R$ 100 milhões, mais do que receberam os ganhadores da Mega Sena acumulada na semana passada. Devem trazer também os extratos das contas, que darão a agentes e promotores novas pistas para desvendar outros tentáculos do funcionamento do esquema, definido pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Newton Trisotto como "uma das maiores vergonhas da humanidade". Isso dará razão ao colega dele no STJ Félix Fischer, segundo quem nenhum outro país viveu "tamanha roubalheira". É pouco?
A bagagem dos viajantes poderá confirmar ainda que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) não exagerou quando declarou, em entrevista a Roberto D'Ávila na GloboNews, que não perdeu a eleição presidencial para um partido, mas, sim, para "uma organização criminosa que se instalou no seio de algumas empresas brasileiras patrocinadas por esse grupo político que aí está". A exceção da verdade deve bastar para livrar Aécio de processo do PT. O Gávea Golf Club do Rio já expulsou o ex-gerente da Petrobrás Pedro Barusco, que confessou ter roubado US$ 100 bilhões da estatal. E o PT expulsou quem?
Em Fortaleza, Vaccari jurou que nada fez de errado, nada tem a temer, e alegou ser alvo sistemático de "injustiças", que não teriam razão de ser. Que ofensas teria feito a mutuários da Bancoop, que presidiu de 2004 a 2010, para que o processassem?
Que motivos pessoais teriam os promotores para o denunciarem em 2010 por estelionato, formação de quadrilha, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro?
Quais razões ocultas teriam os ministros do STJ que permitiram acesso à movimentação de suas contas bancárias nos dez anos anteriores? Diz o tesoureiro que nada foi encontrado que o desabonasse, como se a quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico bastasse para inocentá-lo. Como se não conhecesse o tal do caixa 2!
Quebrado seu sigilo telefônico, os investigadores tomaram conhecimento das conversas que manteve com os protagonistas da Lava Jato. Mas ele garantiu à "companheirada" que apenas marcou ao telefone encontros para captar recursos legais para as campanhas do partido. A revelação dos grampos ter-lhe-ia causado "constrangimentos familiares". Mais constrange as famílias honestas do Brasil saber que ele e seu partido nunca agiram como se tivessem aprendido algo com os erros do mensalão. Nem se corrigiram. As evidências trazidas a lume não pela oposição nem pelo Partido da Imprensa Golpista (o PIG), mas pela PF e pelo Ministério Público Federal, é que a punição de Dirceu, Genoino, Delúbio e João Paulo Cunha não serviu de exemplo para seu estilo de gestão financeira nem para o presidente do PT, Rui Falcão, que puxou as palmas do Diretório para ele.
A cúpula petista nunca recuou da convicção de que os réus do mensalão são heróis nacionais, e não delinquentes, como foi determinado pelo STF. A presidente Dilma Rousseff nunca a desautorizou nem pediu desculpas à Nação pela participação de seu partido no mensalão e no petrolão. Isso leva a deduzir que o PT só quer a democracia para chegar ao poder, mas não aceita as regras do Estado Democrático de Direito para gerir o bem público.
*José Nêumanne é jornalista, poeta e escritor
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