• Presidente ratifica plano de novos ministros em mensagem a investidores estrangeiros e brasileiros
- Folha de S. Paulo
Dilma Rousseff não escreveu uma "Carta ao Povo Brasileiro", tal como o ainda candidato Lula o fez, em 2002, mas enviou uma missiva a investidores em que tratou de mudanças na política econômica. Confirmou o plano que Joaquim Levy, futuro ministro da Fazenda, e Nelson Barbosa, futuro titular do Planejamento, apresentaram na semana passada.
Foi na "Carta" que o PT trocou de roupa ideológica em público, roupa que Dilma aposentou em 2012 e parece agora tirar do armário.
A mensagem da presidente foi lida em encontro de investidores estrangeiros e brasileiros promovido ontem em São Paulo pelo banco JPMorgan. Luciano Coutinho, presidente do BNDES, leu a mensagem, representando a presidente.
Talvez seja apenas curiosidade histórica, mas os planos anunciados por Levy e Barbosa equivalem ao que Dilma disse em maio de 2010 a investidores em Nova York (ler mais abaixo).
Segundo participantes do encontro, a mensagem reafirma que o governo Dilma 2 pretende reduzir aos poucos a dívida pública. Mais importante, que planeja limitar o aumento do gasto público ao ritmo de crescimento da economia (isto é, em termos relativos, como proporção do PIB, o gasto permaneceria estável). Nos anos Dilma 1, o gasto federal como proporção do PIB cresceu tanto quanto sob Lula 1 e 2 juntos.
A carta não cita bancos públicos, mas a intenção de limitar o crescimento da dívida pública implica dar cabo dos empréstimos do governo para bancos estatais (o governo não tem esse dinheiro. Toma emprestado a uma taxa de juros alta e o reempresta baratinho para bancos públicos, em particular o BNDES).
Ao se apresentarem, na semana passada, os ministros-indicados Levy e Barbosa disseram que planejam tomar medidas para fazer com que o mercado de capitais cada vez mais se encarregue de financiar o investimento de longo prazo (no lugar do BNDES, subentende-se).
Na mensagem, Dilma lembrou que não atingiu a meta de contenção de despesas deste ano porque a receita caiu devido ao baixo crescimento; mas reafirmou que a in- flação tem ficado na meta (isto é, não estoura o limite de tolerância. Com mágicas e milagres, fica ali na beirinha).
Em agosto de 2010, quando estreava como candidata a presidente, Dilma disse em resumo o seguinte, numa reunião em Wall Street (o colunista pede licença para reproduzir parte do que então escreveu):
"1) a política macroeconômica ainda será orientada pelo objetivo de reduzir a dívida pública, por meio de superavit primários relevantes, e de diminuir os juros, por meio da política de metas de inflação, as quais seriam gradualmente reduzidas;
2) a dívida líquida cairia para 30% do PIB em 2014 [mesmo maquiada, chegou a 36,1% do PIB em outubro], o que é bem factível. Em conversa reservada, disse que gostaria de baixar a taxa real de juros básica para perto de 3%, mas sem fazer mágica";
3) o Banco Central continuará operacionalmente autônomo.
4) o aumento do crédito por meio de bancos públicos chegou ao limite"; é preciso estimular o crédito de longo prazo por meio de incentivos a fundos de pensão e ao mercado de capitais".
Recordar é viver.
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